Exclusivo Fraude milionária no Novo Banco leva António Ramalho a Espanha
Um ex-gestor da sucursal espanhola do Novo Banco terá burlado 80 clientes em cerca de 50 milhões através de um esquema piramidal. António Ramalho viajou para Espanha para tratar diretamente do caso.
Um ex-gestor do Novo Banco em Espanha terá burlado cerca de 80 clientes da região de Santander em dezenas de milhões de euros, através de um esquema de pirâmide que terá durado mais de uma década. O caso foi descoberto nas últimas semanas, após o antigo gestor do banco ter confessado o esquema junto das autoridades espanholas. Ao que o ECO apurou, António Ramalho quis tomar conta deste dossiê diretamente. O presidente do Novo Banco viajou esta segunda-feira para o país vizinho, juntamente com o administrador Vítor Fernandes, para se inteirar da situação. Não se sabe ainda qual é a dimensão da fraude, e o impacto nas contas do banco, que acabou de anunciar prejuízos de 1.059 milhões de euros em 2019 e um pedido ao Estado de 1.037 milhões de euros para compensar perdas.
Em Espanha falam em “Lobo de Wall Street”. Durante mais de uma década, Jacobo Vidal, que terá cerca de 40 anos e trabalhava na agência da sucursal espanhola do Novo Banco na cidade de Santander desde 2003, atraiu clientes com grandes fortunas oferecendo retornos de investimento até 14%, muito acima das taxas do mercado. Investia as poupanças em produtos de risco e foi ocultando as perdas — pagava os juros com o dinheiro dos novos clientes — através da falsificação dos reportes periódicos que enviava aos clientes. Fazia crer que estavam a ganhar dinheiro, mas a realidade era outra.
Aquele balcão foi encerrado em dezembro passado e foi nesse momento que Jacobo Vidal terá decidido revelar o seu esquema.
Há algumas semanas que as autoridades da região de Cantabria estão no terreno a investigar o caso. As vítimas são sobretudo famílias abastadas daquela região do Norte de Espanha, e outros empresários que o ex-banqueiro tinha trabalhado no passado. Reclamam 50 milhões de euros. Agora, o Novo Banco desencadeou a realização de várias auditorias, incluindo uma auditoria forense. Para apurar os valores em causa nesta fraude, mas também como é que foi possível acontecerem aquelas operações sem serem detetadas pela auditoria e pelo controlo interno do banco. Mas não só. António Ramalho terá já designado um novo responsável máximo pela sucursal espanhola, António Taquenho, que vai responder diretamente à comissão executiva do banco em Lisboa.
Jacobo Vidal pode ser acusado de três crimes: falsificação de documentos, gestão desleal e fraude. As penas por estes crimes poderão ascender a 12 anos de prisão. Para já, o antigo gestor foi deixado em liberdade depois de ter colaborado com a justiça, a quem forneceu informação relevante para a investigação.
Do lado do banco, estão em curso várias diligências para apurar as responsabilidades e perceber a extensão da fraude. Foi enviada uma equipa de Lisboa que está neste momento a realizar uma auditoria interna. Também está em curso uma auditoria externa forense para detetar a existência de indícios de eventuais práticas ilícitas. Não se sabe, ao certo, quando é que o esquema terá começado, nem a extensão da fraude.
“O banco está a analisar tanto interna como externamente o alcance das irregularidades, que estão circunscritas a um grupo limitado de clientes de banca retalho do referido balcão”, disse fonte oficial da instituição ao ECO.
“Está a proceder a uma auditoria/investigação interna por uma equipa enviada de Lisboa, bem como a uma auditoria forense externa”, acrescentou a mesma fonte, adiantando que foram ainda tomadas “um conjunto de medidas internas significativas” enquanto “prepara outras de âmbito judicial”.
Internamente, estima-se que o impacto fraude possa ser inferior aos 50 milhões de euros que são reclamados pelas 76 burlados. Que valor? Entre os 10 milhões a os 15 milhões de euros, segundo uma fonte citada pela imprensa regional.
"O banco está a analisar tanto interna como externamente o alcance das irregularidades, que estão circunscritas a um grupo limitado de clientes de banca retalho do referido balcão. O banco está a proceder a uma auditoria/investigação interna por uma equipa enviada de Lisboa, bem como a uma auditoria forense externa.”
Pagar o capital, não os juros
“O que conseguia Jacobo, mais ninguém o conseguia”, dizem as vítimas citadas pela imprensa local, onde o caso está a ter maior repercussão. Jacobo Vidal sabia como tratar os clientes e sabia o que os clientes queriam ouvir. Sempre bem vestido, falava muito rapidamente e muitas vezes juntando o jargão técnico sobre o tema financeiro em cima da mesa. “Falava tão rápido que às vezes não o entendias”, admitiu uma das vítimas citadas pelo jornal El Correo.
O Novo Banco já mostrou disponibilidade em ressarcir os clientes afetados, prometendo devolver o capital aplicado, mas não pagará os juros que haviam sido prometidos pelo ex-gestor, de acordo com os jornais da região.
Além disso, o banco diz que vai analisar caso a caso. Embora a burla tivesse afetado clientes do retalho, algumas das vítimas terão um perfil de investidor mais sofisticado e conhecimentos financeiros suficientes para terem suspeitado dos elevados retornos oferecidos pelo ex-gestor e, mesmo assim, decidiram investir através de Jacobo Vidal em produtos como ETF alavancados e inversos.
Ao ECO, a instituição diz que vai “atender aos direitos legítimos dos seus clientes afetados e exercer todas as ações legais que lhe assistam para defender os interesses dos mesmos clientes e os interesses da própria entidade”.
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