PwC pressiona Associação Mutualista a cortar para metade o valor do Banco Montepio
Duas fontes dizem ao ECO que auditor está a pressionar a mutualista a rever valor do banco para 1.000 milhões, face à avaliação de 1.880 milhões. Ajustamento deixaria associação em falência técnica.
A Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) está a ser pressionada pela PwC no sentido de rever em baixa o valor que atribui ao banco. Duas fontes adiantaram ao ECO que os auditores querem avaliar o Banco Montepio em cerca de 1.000 milhões, abaixo do atual avaliação de 1.880 milhões. O ajustamento da avaliação, a concretizar-se, deixaria a maior associação mutualista do país, com mais de 600 mil associados, numa situação de falência técnica. Em todo o caso, as contas de 2019 ainda não estão fechadas, as conversações prosseguem entre as partes e não se sabe ainda qual a avaliação final que será dada ao banco.
Atualmente, a instituição liderada por Virgílio Lima valoriza a participação de quase 100% que detém no Banco Montepio em cerca de 1.880 milhões de euros — o banco está avaliado em 2.375 milhões de euros, mas deste valor têm de ser subtraídos 500 milhões em imparidades.
Porém, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO, os auditores da PwC — que substituiu a KPMG no ano passado e está hoje em dia sob maior escrutínio por causa da polémica com o caso Luanda Leaks — pretendem que essa avaliação seja revista em baixa: em cima da mesa poderá estar uma avaliação de cerca de 1.000 milhões de euros, ou abaixo disso, disseram as duas fontes. Ou seja, a PwC avalia o Banco Montepio em quase metade do valor que a mutualista dá ao banco.
Ao ECO, a direção de comunicação da AMMG afirma que a informação de que o auditor pretende ajustar a avaliação do banco para os 1.000 milhões “em nada corresponde à verdade”. “A PWC está a realizar a sua avaliação e análise, não tendo concluído o processo”, refere aquela fonte.
A informação em nada corresponde à verdade. A PWC está a realizar a sua avaliação e análise, não tendo concluído o processo.
Contas ainda estão por fechar
As contas ainda não estão fechadas e, por isso, não se sabe ainda qual o valor final da avaliação do Banco Montepio que será incorporado nas contas individuais da AMMG relativas ao ano passado. O tema da sobreavaliação do banco nas contas da mutualista não é novidade. A questão já tinha sido levantada pelo anterior auditor. E a avaliação da instituição bancária volta agora a ser colocada em causa pela PwC.
As duas fontes adiantaram ao ECO que um ajustamento daquela dimensão, a acontecer, irá pôr em causa a afetação dos capitais próprios da AMMG, colocando a instituição numa situação de falência técnica. Isto é, numa situação contabilística em que não apresenta património suficiente para cobrir as responsabilidades, nomeadamente com os associados — o rácio de cobertura das responsabilidades estava em 1,25 vezes no final de 2018.
Uma das fontes adiantou que é Virgílio Lima, que em dezembro substituiu Tomás Correia na liderança da AMMG, quem está a tratar do tema diretamente com a PwC, o que estará a criar desconforto junto dos outros administradores.
A outra fonte afirmou que, tendo em conta que banco BCP está a negociar na bolsa de Lisboa 0,45 vezes o valor dos capitais próprios e que até o EuroBic será vendido ao Abanca com uma avaliação cerca de 50% abaixo do seu ativo líquido, o contexto do mercado poderá explicar a posição da PwC (fragilizada depois do caso Luanda Leaks e que levou o presidente Bob Moritz a viajar até Lisboa para avaliar os danos) em relação à avaliação do Banco Montepio.
A AMMG corre contra o tempo para fechar as contas individuais de 2019. Terá de fazê-lo nos próximos dias. Isto porque têm de ser aprovadas em assembleia geral de associados até final deste mês. Esta assembleia geral tem de ser convocada com 15 dias de antecedência. Antes disso, o conselho geral da instituição também terá de ser convocado: os conselheiros serão chamados na próxima semana a avaliar as contas.
O ECO contactou a PwC que afirmou que, “por questões de confidencialidade com os clientes, não comenta”.
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