Empresários querem “plano integrado” para reabrir economia
Empresários, presidentes de associações e mundo académico defendem estratégia gradual na retoma da atividade económica. "É preciso um plano integrado", afirma Alexandre Relvas ao ECO.
Um manifesto, a assinatura de 167 personalidades, e um pedido ao primeiro-ministro e ao Presidente da República, a tomada de novas medidas de contenção que permitem a reativação da economia sem riscos de um novo surto. Alexandre Relvas, empresário e um dos subscritores da carta, defende a retoma da atividade económica, mas com base “num plano integrado”. “É uma decisão política que nunca será unânime e que exige grande determinação e coragem e tem que ser estudada nas suas várias dimensões. Esta carta mostra que existe um amplo consenso relativamente à necessidade de pensar na saída e os termos em que esta saída deve ser realizada“, disse ao ECO.
Na ótica do empresário, uma das sugestões “é serem avaliados no SNS quais os investimentos necessários nas próximas semanas e meses para reforçar a capacidade de resposta no caso de existir uma evolução da pandemia após a abertura económico-social. O objetivo ter maiores capacidades do que aquelas que temos atualmente“, destaca Alexandre Relvas.
O que diz, afinal, esta carta, assinada por personalidades das empresas, da academia, da comunidade cientifica e dos sindicatos? “Acreditamos que não é possível suspender a atividade económica até que não exista qualquer risco de contágio. Mas também consideramos que seria uma atrevida inconsciência retomar a atividade sem adotar cuidados adicionais que garantam que não teremos um ressurgimento a curto e médio prazo“, lê-se na carta conhecida esta segunda-feira.
O documento é assinado por António Saraiva (CIP), por Carlos Silva (UGT), por Álvaro Covões (promotor de eventos), pelo presidente do Inesc Tec, José Manuel Mendonça, e pela presidente do Grupo Martinhal, Chitra Stern, entre outros. Todos apelam à reabertura da economia, acompanhada de novas medidas para limitar os riscos de um segundo surto. E destacam uma série de medidas como o uso generalizado de máscaras, distanciamento social, diagnóstico precoce de Covid-19 e um plano integrado para retomar a atividade económica.
“Não podemos esquecer-nos que a sobrevivência da economia é uma frente nesta batalha. Temos que começar a abrir gradualmente a economia às atividades que podem ir abrindo com os devidos cuidados e fornecendo os respetivos equipamentos“, destaca António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP).
Para António Saraiva, esta paragem económica pode tornar-se nefasta para o Governo. O presidente da Confederação Empresarial explica que “Portugal tem atualmente cerca de um milhão de pessoas paradas: entre lay-off, assistência à família e infetados. Isto está a custar ao Estado cerca três mil milhões ao mês e é insustentável para as finanças públicas”.
Depois de termos exigido aos profissionais de saúde que fossem heróis para nos salvarem desta pandemia, como é que não exigimos a todos os outros portugueses que sejam heróis para nos salvar desta crise económica que estamos a enfrentar”.
Carlos Silva, secretário-geral da UGT, corrobora a ideia de António Saraiva e destaca que “sem empresas a funcionar não há postos de trabalho”. Explica que no ministério do trabalho estão a entrar diariamente cerca de quatro mil pedidos de desemprego e que “é fundamental que a economia a pouco e pouco retome a sua atividade. Se não houver retoma de economia vamos chegar a um ponto de recessão económica tão grave que não vai existir condições de combater a pobreza e a desigualdade”, refere.
“Queremos dizer ao Governo que estamos disponíveis para ajudar o país até porque estamos todos no mesmo barco, patrões e trabalhadores“, concluí o secretário-geral da União Geral de Trabalhadores.
Face ao panorama, os subscritores desta carta pedem para “voltar urgentemente a produzir e a trabalhar em Portugal. Aquilo que nós queremos é voltar a abrir a economia com toda a prudência, para não voltarmos a esta situação de pandemia, mas com a agressividade e a coragem suficiente para voltarmos a trabalhar”, explica Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comercio e Indústria Portuguesa (CCIP).
Para Bruno Bobone, também subscritor da carta, Portugal tem condições para começar a arrancar gradualmente com a economia. Explica que “60% das fábricas não fecharam, isso é a prova que se pode continuar a trabalhar. Ao criarmos um pânico generalizado porque ninguém quer sair de casa para trabalhar, estamos a promover um drama social: não há criação de riqueza, as pessoas vão deixar de ter dinheiro e isso vai levar as pessoas a grandes dificuldades”, evidencia Bruno Bobone. Acrescenta ainda que “quando as pessoas não têm dinheiro não têm o comportamento social esperado, têm comportamentos de sobrevivência e isso é tramado”.
Para o presidente da CIP, existem vários setores que podem retomar pouco a pouco como é o caso da área de produção e produtos transacionáveis para exportação, a restauração, o pequeno comércio, o têxtil e o vestuário, entre outros. Acrescenta ainda “que existem um conjunto de micro realidades empresarias que temos que começar a olhar para elas”.
A opinião é unânime e todos os intervenientes questionados pelo ECO concordam com a retoma da atividade económica, mas em segurança. Carlos Silva, exemplifica: “Espanha e Itália estão em situações mais complicadas que Portugal e já estão a ponderar fazer essa abertura”.
Não devemos ficar parados em casa, a retoma é algo urgente para não cairmos no abismo.
Álvaro Covões, empresário que detém a Everything is New, empresa que promove eventos como o Nos Alive, destaca que “não devemos ficar parados em casa, a retoma é algo urgente para não cairmos no abismo. Temos que fazer um regresso ao trabalho em segurança por isso é que é importante testar, que é o que muitos países estão a fazer (…) quando as pessoas voltarem ao trabalho é importante que sejam testadas para termos a certeza que tudo vai correr bem. Precisamos de testes, luvas, máscaras, tem que existir um plano nacional nesse sentido”, conclui Álvaro Covões.
Com as medidas certas, António Saraiva está confiante que “no próximo mês de maio Portugal vai dar o pontapé de saída para esta gradualidade de reabertura da economia”.
Quais as medidas a adotar?
Para o presidente da Câmara de Comercio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone, as principais medidas a adotar são as comportamentais: “garantir o distanciamento, a proteção, usar as máscaras, lavar as mãos, garantir que não tocamos na cara durante o período que estamos fora”.
Carlos Silva concorda com o presidente da Câmara de Comercio e Indústria Portuguesa, mas destaca que “para retomar a atividade económica é necessário fazer investimento na aquisição de mais material de proteção”. Esta será uma das medidas que na sua ótica permite “evitar a incerteza, a desconfiança e o medo que muitos milhares de trabalhadores têm em retomar o seu posto de trabalho, com receio de existir contaminação”, conta o secretário-geral da UGT.
Nesta fase de propagação são vários os setores que uniram esforços, convertam as unidades de produção para produzir equipamento médico e várias instituições de ensino juntaram-se a esta onda solidária. Para José Manuel Mendonça, presidente do Inesc Tec e professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (Feup) “a ciência e a tecnologia podem ajudar muito nesta fase seguinte ao regresso da atividade”, refere. O professor da Feup exemplifica como: “criar ferramentas digitais que permitam através do telemóvel rastrear doentes com Covid-19 e com todo o rigor”.
Depois da pandemia, o que fazer?
Esta pandemia trouxe uma nova consciência a vários setores, como por exemplo a forte dependência externa. Para o presidente da CIP “é fundamental restruturar a economia porque temos atividades económicas que vão desaparecer e outras vão emergir. Verificamos que temos dependências de estratégias exageradas como a deslocalização de unidades de produção para outras regiões geográficas como é o caso da Ásia”, conta ao ECO António Saraiva. A título de exemplo 80% do que é produzido no cluster da moda vem da Ásia.
“Constatamos que há dependências que estão a ser fatais no abastecimento de bens e serviços e verificamos que temos uma enorme dependência nas cadeias de abastecimento. É fundamental reapreciar estas questões e trocar importações por fabrico interno e reindustrializar a Europa e o país”, evidencia António Saraiva.
Das empresas ao ensino, praticamente todos os setores sentiram os efeitos do Covid-19. Algumas empresas encerraram as linhas de produção e o Governo decretou o encerramento das escolas. Uma medida “péssima” na ótica do presidente da Câmara de Comercio e Indústria Portuguesa. “Fechar as escolas até ao verão obriga os alunos a ficar em casa e obriga os pais a ficar em casa. Isso foi uma péssima decisão, foi uma cedência ao sindicato dos professores. Depois de termos exigido aos profissionais de saúde que fossem heróis para nos salvarem desta pandemia, como é que não exigimos a todos os outros portugueses que sejam heróis para nos salvar desta crise económica que estamos a enfrentar”, conclui Bruno Bobone.
Para o presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec) “é essencial o retomar as aulas e os exames, mas com outras regras, com outros mecanismos de proteção. É impossível continuar durante muito mais tempo esta reclusão e o trabalho remoto”. Explica ainda que na atividade de investigação “é impossível trabalhar remotamente até porque é baseada em trabalho de laboratório e em equipas”, refere José Manuel Mendonça.
Todos os intervenientes defendem a retoma gradual da atividade económica, mas com todo o cuidado e medidas de proteção reforçadas. “Termos uma segunda fase do vírus, seria desastroso para os portugueses e sobretudo para a economia portuguesa”, conclui o secretário-geral da UGT.
Portugal é um exemplo a seguir na contenção da pandemia
Atuação do Governo liderado por António Costa na resposta à pandemia tem nota positiva da grande maioria dos portugueses. Chitra Stern, presidente do Grupo Martinhal, United Lisbon International School e Grupo Elegant considera que Portugal e o Governo adotaram medidas eficazes e mais rápidas que outros países da união europeia.
“O Governo tomou as medidas adequadas e Portugal controlou a situação muito melhor que outros países e os estrangeiros vão ter mais confiança na economia portuguesa e a investir em Portugal”, destaca Chitra Stern.
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