-8%, -7,1%, 13,9% e 135%. Estes são os números negros do FMI para Portugal
"O Grande Isolamento" terá consequências dramáticas para grande parte das economias mundiais. Portugal não escapará à crise: o PIB vai afundar, défice, dívida pública e desemprego vão disparar.
Portugal vai ser um dos países mais castigados pela crise que o Fundo Monetário Internacional (FMI) chama de “The Great Lockdown“, ou “O Grande Isolamento“, provocada pela pandemia do coronavírus em todo o mundo. A economia vai registar este ano um nível de destruição de riqueza sem precedentes. Como consequência, o défice, a dívida pública e o desemprego vão disparar para níveis próximos da anterior crise. A boa notícia poderá vir em 2021. Veja os números negros do FMI para Portugal.
Economia cai 8% este ano
De acordo com as estimativas do Fundo, a economia portuguesa deverá afundar 8% este ano, sendo a maior recessão de sempre num só ano — mais grave do que a crise da dívida soberana de 2012 (-4,2%) e do choque petrolífero de 1973 que levou o PIB a encolher mais de 5% em 1975.
A concretizar-se uma queda desta dimensão, 2020 apagará o crescimento da economia registado em 2017, 2018 e 2019, levando o nível de produção nacional para 2016. Em valor, isto significa uma destruição de 16,2 mil milhões de euros.
A boa notícia: 2021 será um ano de recuperação, com a economia a acelerar 5%. Esta evolução terá efeitos nos outros indicadores que vamos ver a seguir: défice, dívida pública e desemprego.
Défice de 7,1% do PIB
Depois do primeiro saldo orçamental positivo em democracia registado em 2019, com as contas públicas a apresentarem um excedente de 0,2%, a crise económica do Covid-19 vai provocar um novo desequilíbrio orçamental em Portugal, com o défice a disparar para 7,1% do PIB este ano.
Com a economia em recessão, o Governo recolherá menos impostos este ano e, por outro lado, verá as suas despesas subirem face à resposta necessária para apoiar empresas e famílias afetadas pela crise (com mais pessoas no desemprego), o que explica a dimensão do défice orçamental prevista para este ano.
Apesar de ser um dos défices mais elevados da democracia, este valor ficará aquém do défice registado em 2010 (-7,4%), no início da anterior crise, e igualará o défice de 2014, ano da resolução do BES.
Défice dispara para 7%
Fonte: INE (dados de 2020 e 2021 correspondem a previsões do FMI)
Em 2021, na expectativa de que não se repitam as medidas extraordinárias deste ano mesmo na inexistência de uma vacina, o FMI prevê que o défice desça significativamente para os 1,9% do PIB, valor que já está abaixo dos 3%, o limite imposto pelas regras europeias (ainda que estas estejam suspensas, para já). Para esta melhoria das contas públicas contribui a recuperação de 5% do PIB e a queda da taxa de desemprego para os 8,7%.
Dívida sobe para 135% do PIB
A dívida pública aumentará 17,4 pontos percentuais num só ano, passando de 117,6% para os 135% do PIB e colocando praticamente de parte o objetivo do Governo de baixar a dívida pública para os 100% até ao final da legislatura.
Dívida pública dispara este ano
Fonte: INE (dados de 2020 e 2021 correspondem às previsões do FMI)
Apesar de ser um novo máximo histórico, os 135% previstos pelo FMI não ficam muito longe do anterior pico registado em 2014 de 132,9% do PIB. Desde então que o rácio da dívida pública tinha vindo a cair com o crescimento da economia e a melhoria das contas públicas, mas todo esse esforço será apagado pelo impacto da pandemia.
A boa notícia dentro deste panorama negro é que em 2021, com a recuperação de 5% do PIB e a descida do défice para 1,9%, a dívida pública cairá mais de seis pontos percentuais para os 128,5%, retomando-se o caminho da descida que vinha registando nos últimos anos.
Desemprego dispara para 13,9%
O impacto da pandemia no mercado de trabalho também vai ser dramático. Ainda que o Governo tenha lançado medidas relevantes para que as empresas mantenham os postos de trabalho, como o regime de lay-off simplificado ou as linhas de crédito com garantia pública, muitos empregos vão se perder com a crise do coronavírus.
A queda do PIB levará a taxa de desemprego a mais do duplicar dos atuais 6,5% para os 13,9%, nas contas do FMI. Uma subida do desemprego desta dimensão apagaria toda a melhoria registada desde o final de 2014. Ainda assim, a taxa de desemprego ficaria aquém dos 16,2% registados em 2013, o pior ano da crise das dívidas soberanas para Portugal.
Acompanhando a dinâmica da economia, 2021 trará uma queda da taxa de desemprego para os 8,7%.
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