Duplicidade de posições de Costa e Centeno sobre resposta da UE fragiliza Portugal
Catarina Martins critica posições diferentes sobre resposta da UE à crise de António Costa e de Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo. Considera que esta duplicidade fragiliza Portugal.
A coordenadora do BE, Catarina Martins, criticou esta segunda-feira as posições diferentes sobre a resposta europeia à crise do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro das Finanças, Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo, considerando que esta duplicidade fragiliza Portugal.
O “País Ligado” de hoje – um vídeo diário da líder bloquista que é divulgado pelo partido sobre a pandemia – é dedicado às “decisões essenciais” para o futuro de Portugal e dos vários países que vão ser tomadas no Conselho Europeu de quinta-feira, no qual vai ser decidido “se há ou não uma resposta europeia à crise”.
“Ainda não sabemos o que fará o Governo português. António Costa tem dito que não quer mais austeridade e quer uma resposta solidária, mas Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo, tem sustentado as posições alemãs. Esta duplicidade fragiliza Portugal e fragiliza a possibilidade de uma resposta europeia”, critica.
Apesar da pouca expectativa que os bloquistas têm sobre o que fará a União Europeia, Catarina Martins antecipa que “até os europeístas mais convictos se vão perguntar para que serve uma União Europeia se não serve sequer para responder a esta crise”.
O BE já propôs ao Governo português, com o objetivo que fosse discutido neste Conselho Europeu, a criação de um fundo europeu de recuperação económica “concretizável sem austeridade” que poderia financiar Portugal até 30 mil milhões de euros, anunciou na semana passada a eurodeputada bloquista Marisa Matias.
“E hoje mesmo, o Governo espanhol apresenta a proposta de um fundo de recuperação, dentro destas linhas também, com um bilião e meio de euros para recuperar os vários países da União Europeia”, refere a coordenadora do BE.
Este fundo de recuperação, na perspetiva dos bloquistas, é a proposta “mais ambiciosa e que tem mais capacidade estrutural”.
“O fundo de recuperação surgiu numa reunião do Eurogrupo, mas por enquanto não passa de um slogan. A ideia é transformá-lo num verdadeiro instrumento para financiar a recuperação económica dos vários países”, explicou Catarina Martins.
A possibilidade do Conselho Europeu adiar uma decisão neste momento, “face à situação sanitária, económica e social de tantos países da União Europeia”, é, para a deputada do BE, “já uma decisão” e “comporta riscos graves”.
“Há quem tenha vindo a avisar que se não há resposta europeia, em pouco tempo teremos ditaduras na Polónia, na Hungria, fascistas no governo italiano ou espanhol”, alerta.
Um outro cenário é “haver uma resposta europeia, mas semelhante àquela que existiu para a crise financeira 2007/2008”, aponta Catarina Martins.
“Os países endividam-se junto do mecanismo europeu de estabilidade e daqui a um ano ou dois, como os tratados continuam em vigor, serão forçados a medidas de austeridade com o pretexto da consolidação orçamental. Portugal, infelizmente, conhece bem demais esta receita e sabemos que só acrescenta crise à crise”, alerta.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 165 mil mortos e infetou quase 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em Portugal, morreram 735 pessoas das 20.863 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
O “Grande Confinamento” levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.
Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020.
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