Centeno: “Fragmentação profunda” do mercado único seria “venenosa” para a democracia

Em antecipação do Conselho Europeu, o presidente do Eurogrupo avisou para os riscos de se falhar numa resposta europeia para o plano de recuperação após a pandemia.

O presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, alertou esta quinta-feira para a necessidade de se chegar a um acordo no Conselho Europeu sobre o plano de recuperação após a pandemia. “Uma fragmentação profunda do mercado único seria venenosa para as nossas democracias”, alerta, pedindo condições equitativas para os países que têm diferentes capacidades de resposta.

Lembrem-se: numa União como a nossa, nós somos tão fortes quanto o nosso membro mais fraco“, referiu numa mensagem divulgadas antes de a reunião começar. É por essa razão que o ministro das Finanças português pede uma “proteção similar” para todos os países no período de recuperação económica “que irá começar em breve”.

Mário Centeno considera que o acordo de 540 mil milhões de euros alcançado no Eurogrupo da semana passada evita que haja essa desfragmentação do mercado único no imediato, mas considera que é preciso fazer mais para evitar essa mesma situação durante a recuperação dado que os países têm diferentes capacidades de resposta por causa dos seus níveis de endividamento passados.

Como a rapidez é “essencial” numa crise desta dimensão e natureza, Centeno pede que o Conselho Europeu dê “luz verde” ao acordo alcançado no Eurogrupo para que essas medidas estejam operacionais antes de 1 de junho, contando com a “flexibilidade” de todas as partes.

A mesma celeridade é esperada por Centeno para um acordo no Conselho Europeu sobre o fundo de recuperação económica. E elencou as prioridades já definidas pelo Eurogrupo, as quais vai transmitir aos líderes europeus: deve ter uma dimensão ajustada à crise pandémica, deve espalhar os custos ao longo do tempo, deve usar o orçamento comunitário e ter uma componente de solidariedade entre os Estados-membros.

Sassoli teme uma “espiral catastrófica” na economia europeia

Após ter feito uma intervenção no início do Conselho Europeu, o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, deu uma conferência de imprensa onde afirmou que a “reconstrução é do nosso interesse comum” e que a solução para esta crise deve ser “europeia”. “Vamos precisar de todos os instrumentos disponíveis”, afirmou, referindo que nenhum país conseguirá recuperar da pandemia “sozinho”.

Vindo um de país onde a extrema-direita cresceu nos últimos anos, o italiano disse temer uma “espiral catastrófica” na economia europeia e a incompreensão dos cidadãos caso a União Europeia não consiga “responder a tempo”. Davis Sassoli sinalizou que agrada-lhe a ideia de apostar no Quadro Financeiro Plurianual (QFP) para a resposta europeia da recuperação não só por ser mais rápido mas também por reforçar as instituições europeias.

Na semana passada, os eurodeputados aprovaram uma resolução onde recomenda a criação de “recovery bonds que se traduz na emissão de obrigações para o plano de recuperação garantidas pelo orçamento da União Europeia (UE), sem implicar a mutualização da dívida existente, algo que é rejeitado por vários países.

Antes da reunião, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, prometeu que haverá “um novo Plano Marshall, um esforço de investimento sem precedentes”. “A fim de relançar e transformar a nossa economia, precisamos de restaurar e revitalizar o nosso mercado único, investindo nas transições verde e digital, e assegurando a nossa autonomia estratégica”, escreveu no Twitter, em linha com o que consta da carta que enviou aos líderes europeus.

Angela Merkel disse no Bundestag (Parlamento alemão) que está disposta a aumentar, de forma temporária, a contribuição para o orçamento comunitário. “A Alemanha está disposta, no espírito de solidariedade e de forma temporária, a fazer contribuições claramente mais elevadas no quadro do orçamento comunitário”, disse a chanceler alemã.

(Notícia atualizada às 14h40 corrigindo a citação de “desfragmentação” para “fragmentação profunda”. Notícia atualizada com declarações de David Sassoli, Charles Michel e Angela Merkel às 15h32)

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