Tempo de vencer o medo

  • Nuno Pereira da Cruz
  • 28 Abril 2020

Queríamos evitar o pico. Achatar a curva. Queríamos ganhar tempo e ganhámos. Sabíamos que com isso teríamos um problema económico.

Ninguém nos prometeu que com o confinamento iríamos vencer o vírus. O confinamento e a declaração de Estado de Emergência serviam, e serviram, para evitar o colapso do SNS. Para evitarmos que os médicos tivessem, como em Itália, que escolher entre quem salvar e quem deixar morrer.

Serviu para ganharmos tempo. Tempo para o governo preparar os hospitais, aperfeiçoar os planos de contingência, comprar mais ventiladores, material de proteção, desinfetantes, testes e dar formação a médicos.

Queríamos evitar o pico. Achatar a curva. Queríamos ganhar tempo e ganhámos. Sabíamos que com isso teríamos um problema económico. Também aqui tentámos ganhar tempo com todas as medidas de apoio às famílias e às empresas. E ganhámos. Mas agora, e para a crise económica que nos bate à porta, já não dá para comprar mais tempo.

É preciso voltarmos, na medida do possível e de forma gradual, ao bussiness as usual. Ter todos os cuidados, usar máscara, manter o distanciamento social, mas voltarmos à vida e a viver.

Não podemos deixar que o medo do coronavírus nos tolha os movimentos, nos bloqueie e nos deixe numa redoma para sempre. Não podemos esquecer que a fome e a solidão também matam.

As linhas de crédito não vão salvar empregos se as empresas não voltarem a funcionar em breve, o que se recebe em lay-off não é suficiente para os trabalhadores fazerem face às suas despesas durante muito mais tempo, as moratórias não se poderão prolongar infinitamente, os empréstimos são só mais dívida e aumentar a dívida pública de Portugal para níveis de 140% do PIB é hipotecar o futuro. Sobre este tema, sobre as limitações de Portugal, a importância de reduzir a dívida pública e não de “a ir gerindo”, aconselho a leitura do artigo do Professor Joaquim Miranda Sarmento publicado ontem no Eco, bem como sobre a necessidade de uma resposta europeia à altura.

Assim, tal como em relação ao vírus, neste combate à crise económica quanto mais cedo conseguirmos voltar a ligar os motores da economia, conseguirmos ganhar confiança para voltarmos a investir e a fazer negócios, mais hipótese temos de evitar uma crise profunda, com enormes taxas de desemprego e endividamento asfixiante.

Por isso é importante o sinal político de não renovar o Estado de Emergência, pois este provoca medo e ansiedade. Haverá a habitual “divergência na doutrina” sobre algumas medidas que se manterão, mas estou certo de que serão encontradas as respetivas soluções jurídicas.

Mas acima de tudo, e mais do que nunca, cada um de nós tem de ser responsável e consciente ao voltar a ter mais liberdade neste contexto de pandemia.

Temos de aprender a conviver com este coronavírus. Esta é a melhor forma de o derrotar.

Está na hora de abrir a economia, de sair e vencer o medo.

  • Nuno Pereira da Cruz
  • Managing partner da CRS Advogados

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