Pandemia arrasa confiança dos consumidores. Quebra em abril foi a maior de sempre
É preciso recuar a setembro de 2014 para ver uma confiança dos consumidores tão baixa como a de abril. As expectativas relativas à evolução da situação económica do país pesaram negativamente.
A confiança dos consumidores registou em abril a maior redução mensal de sempre, atingindo o valor mínimo desde setembro de 2014, devido ao coronavírus, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE) esta quarta-feira.
“No último mês, a redução do indicador de confiança dos consumidores resultou sobretudo do contributo muito negativo das expectativas relativas à evolução da situação económica do país, da situação financeira do agregado familiar e da realização de compras importantes”, explica o INE em comunicado, sublinhando que, assim, o indicador “registou em abril a maior redução da série face ao mês anterior, atingindo o valor mínimo desde setembro de 2014“.
Este mínimo de setembro de 2014 é alcançado quando se compara as médias móveis de três meses, o que ajuda a alisar o impacto da magnitude da pandemia. Contudo, se isolado o mês de abril, este indicador atingiu o valor mais baixo desde maio de 2013. Esta análise complementa a leitura que se faz de um momento “súbito e inesperado”, como explica o gabinete de estatísticas.
O maior pessimismo do consumidores está nas expectativas relativas à evolução da situação económica do país e à realização de compras importantes, duas componentes que em abril atingiram os mínimos históricos das respetivas séries. O outro lado da moeda está na perspetiva face à evolução do desemprego que registou o maior aumento de sempre, situando-se agora em níveis semelhantes aos de 2013.
De notar ainda a maior queda de sempre nas perspetivas de poupança no momento atual. Após ter atingido em janeiro o valor mais elevado desde abril de 2002, a expectativa em relação à poupança futura registou a maior queda da sua série. Isto acontece numa altura em que muitos portugueses estão em lay-off, alguns terão sido despedidos por causa do vírus e vários pequenos empresários ainda têm os negócios fechados.
O período de recolha dos inquéritos qualitativos para o mês de abril decorreu de 1 a 17 de abril no caso do inquérito aos consumidores e de 1 a 23 de abril para os inquéritos às empresas.
Mínimo atingido pelo clima económico ultrapassa crise financeira
No inquérito de conjuntura divulgado esta quarta-feira também é visível a “redução abrupta” da confiança das empresas. O indicador de clima económico, que sintetiza as respostas das empresas, ” apresentou uma significativa redução em abril face ao mês anterior, sendo a maior da série e originando um novo mínimo”.
Comecemos pela indústria transformadora em que o indicador de confiança caiu para um mínimo de abril de 2009, tendo também registado a maior queda de sempre. Em abril, as expectativas relativas à evolução da procura pelos produtos da indústria baixou para um nível idêntico ao da crise anterior (março de 2013) e as perspetivas de produção baixaram para o nível mais baixo de sempre.
“A taxa de utilização da capacidade produtiva diminuiu significativamente em abril, situando-se em 70,9% (80,7% em janeiro), registando um novo mínimo histórico da série”, esclarece ainda o INE, assinalando que “o número de semanas de produção assegurada também sofreu uma diminuição significativa em abril, atingindo o valor mais baixo desde outubro de 2005”.
Passando para a construção e obras públicas, também neste setor o indicador de confiança registou a maior queda de sempre, mas o mínimo alcançado é de novembro de 2015. Tanto as expectativas em relação à carteira de encomendas como às perspetivas de emprego deram um contributo “fortemente negativo”. A queda foi transversal a todas as áreas: da promoção imobiliária e construção de edifícios à engenharia civil e às atividades especializadas de construção.
No comércio — setor onde grande parte das empresas foi obrigada a fechar as portas temporariamente –, a confiança atingiu um mínimo histórico com a expectativa sobre as perspetivas de atividade nos próximos três meses e do volume de vendas a cair a pique. O comércio a retalho registou uma queda mais acentuada do que o comércio por grosso.
Nos serviços, a confiança atingiu um mínimo histórico (série iniciada em abril de 2001), com o contributo de todas as componentes. Por áreas, as atividades artísticas, de espetáculo, desportivas e recreativas e o alojamento, restauração e similares registaram as maiores quedas.
Sentimento económico europeu colapsa em abril
Com a maioria dos países europeus em confinamento, o mês de abril foi para esquecer em termos económicos. O sentimento económico registou a maior queda de sempre (desde 1985) tanto na Zona Euro (-27,2 pontos para os 67 pontos) como na União Europeia (-28,8 pontos para os 65,8 pontos), ultrapassando “de longe” a já acentuada quebra registada em março, sublinha a Comissão Europeia.
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“Os indicadores estão agora bem abaixo da média de longo prazo de 100 e muito perto dos níveis mínimos registados durante a Grande Recessão em março de 2009“, alerta Bruxelas, referindo ainda que o indicador das expectativas de emprego também colapsou para o nível mais baixo de sempre (caiu 30,1 pontos para os 63,7 pontos na Zona Euro).
A queda dos índices é transversal aos vários países, incluindo as grandes economias. Contudo, os números para Itália não foram publicados uma vez que os não foi possível coletar os dados devido às medidas de confinamento.
(Notícia atualizada às 10h46 com mais informação)
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