Após mínimos, bolsas já ganham 30%. O pior do coronavírus já passou?

Ações mundiais têm vivido numa montanha russa desde o início do ano, tendo passado por um "bear market" em tempo recorde. Os receios de uma segunda vaga de Covid-19 são o principal travão à retoma.

Quer os investidores tenham aproveitado os baixos preços para reforçar posições, quer estejam confiantes sobre o fim da pandemia, certo é que as bolsas mundiais parecem já ter esquecido os dias negros vividos em março. Menos de dois meses depois, e com grande parte da população mundial ainda em confinamento, a recuperação está já próxima de 30% tanto na Europa como nos EUA.

A pandemia de Covid-19 vai atirar o mundo para a pior crise económica desde a segunda guerra mundial, enquanto a paralisação das empresas deverá causar um disparo nas falências de empresas e, para as que resistirem, uma forte quebra nos resultados. Foi este cenário que levou as bolsas a travarem a fundo e a inverterem o sentido com que chegaram a 2020.

De forma generalizada, as bolsas mundiais renovavam máximos e, a 19 de fevereiro, atingiram o pico. Mas o coronavírus já começava a atacar o continente europeu e a Organização Mundial de Saúde já tinha decretado pandemia mundial. Entre esse último máximo e o mínimo tocado apenas um mês depois, a 23 de março, o global MSCI World, o norte-americano S&P 500 ou o português PSI-20 afundaram 35%. O Stoxx 600, que atingia o mínimo uma semana antes, tombou 38%.

"A reação mais rápida de banqueiros centrais e especialmente dos políticos, em comparação com os eventos de 2008 e 2009, foi certamente apreciada pelos investidores.”

Analistas do ING

Governos e bancos centrais apressaram-se a anunciar estímulos monetários e orçamentais para tentar travar a sangria. Nos EUA, “a Reserva Federal norte-americana (Fed) e o Congresso evitaram a concretização de um total colapso económico”, dizem os analistas do Goldman Sachs, numa nota em que reviram em alta as projeções para o S&P 500.

Injeções de capital deram fôlego às ações

“Estas ações políticas significam que a nossa anterior previsão de desvalorização já não é provável”, indicaram, sinalizando que as quedas do índice de referência já tinham atingido o ponto máximo, depois de a Fed ter anunciado medidas sem precedentes. A mega rede de segurança para empresas famílias, governo central e até regional totaliza 2,3 biliões de dólares de forma direta e outros 3,7 biliões de forma indireta. E junta-se aos 2,9 biliões de dólares aprovados pelo Congresso.

Apesar de abaixo da magnitude dos EUA, os estímulos têm sido generalizados numa série de regiões, da Ásia à Europa. O Banco Central Europeu (BCE) lançou um programa de emergência com 750 mil milhões de euros e aumentou o programa de compra de dívida que já tinha em 120 mil milhões. Reforçou ainda os empréstimos baratos à banca e a liquidez no mercado monetário. Em simultâneo, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) vai disponibilizar 240 mil milhões de euros em linhas de crédito.

A reação mais rápida de banqueiros centrais e especialmente dos políticos, em comparação com os eventos de 2008 e 2009, foi certamente apreciada pelos investidores“, sublinha o ING. “O livro de estilo da agressiva liquidez foi novamente mobilizado pelos bancos centrais para empurrar os investidores de volta para o mercado de ações”.

Bolsas vivem montanha russa desde o início do ano

Fonte: Reuters

O sucesso foi expressivo. Desde os mínimos registados em março, o MSCI World, o S&P 500 e o Stoxx 600 já somam mais de 30%, enquanto os ganhos do PSI-20 são mais ligeiros, mas ainda assim de 20%. “Até aqui, tudo bem. A nossa preocupação é que a projeção de queda dos lucros seja demasiado otimista“, alertam os analistas do banco holandês.

A preocupação não é exclusiva e o intermitente sentimento positivo é sintomático. As bolsas mundiais têm vivido altos e baixos consoante a evolução do número de infetados pelo vírus, das medidas de desconfinamento e dos resultados trimestrais que vão sendo apresentados. A existência ou não de uma segunda vaga será a chave para a recuperação das ações.

Recuperação total poderá demorar dois anos

Para já, as bolsas conseguiram recuperar cerca de metade do dinheiro perdido, mas continuam abaixo da linha de água no ano. O MSCI World perde 13%, o S&P 500 recua 9%, o Stoxx 600 desvaloriza 16,5% e o PSI-20 cai 19% em 2020. E a total retoma poderá ainda demorar.

“Sempre que há uma recessão assim, parece um afogamento. Quando vai terminar? Quando poderemos respirar? Onde está terra firme?”, compara Duncan Lamont, head of research and analytics da Schroders. “A infeliz verdade é que quebras no mercado de ações desta magnitude, ou até piores, acontecem de tempos a tempos”.

"Nos últimos 148 anos, houve 11 ocasiões em que o S&P 500 afundou 25%. Em sete desses episódios, os investidores recuperaram as perdas em menos de dois anos.”

Duncan Lamont

Head of research and analytics da Schroders

Nos últimos 148 anos, houve 11 ocasiões em que o S&P 500 afundou 25%. Tanto em 2001 como em 2008, as perdas superaram os 40%, e no caso extremo da Grande Depressão nos anos 1930 foi mesmo de 80%.

E agora? Ainda poderá demorar até aos acionistas recuperarem do tombo, como mostra a história. “Se tivessem mantido o investimento [após a queda na Grande Depressão], demoraria 15 anos a recuperarem o seu dinheiro. Mas nem todas as desvalorizações dos mercados acionistas são tão calamitosas. Em sete dos 11 episódios, os investidores recuperaram as perdas em menos de dois anos“, acrescenta Lamont.

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