Em 20 anos, a bolsa perdeu dois terços das cotadas. Já só vale 30% da economia
Ao contrário de outros países, a maior parte das saídas da bolsa aconteceu até 2008. Após a crise, quem saiu foram empresas com desempenho mais fraco, mais endividadas e com menos liquidez.
A quebra nas entradas, a par do aumento das saídas levou a bolsa de Lisboa a perder dois terços dos membros em duas décadas. Se as falências foram determinantes para parte das empresas, a maior parte das saídas foi voluntária e deveu-se à pouca liquidez do mercado, segundo a análise da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
“Nas últimas duas décadas, o número de empresas cotadas na bolsa portuguesa diminuiu em dois terços, de 148 para 55”, diz o relatório da organização sobre o mercado nacional, divulgado esta quinta-feira. “Tal como um IPO [Oferta Pública Inicial] é um passo natural no ciclo de vida de uma empresa, a saída pode ser uma escolha racional a determinada altura da vida da empresa“, frisa a OCDE.
O mercado de capitais português viveu “importantes mudanças” ao longo desse período, a começar pela fusão entre Lisboa e Porto em 1999, que deu origem à bolsa comprada pela Euronext três anos mais tarde.
Desde 2000, os novos listings têm sido muito poucos com apenas 16 empresas a entrarem em bolsa, enquanto um total de 91 empresas saíram de todos os segmentos da Euronext Lisbon.
Após uma década de 1990 próspera em IPO, a bolsa chegou a 1997 com o pico de 148 cotadas, mas desde então, a tendência inverteu-se. “Desde 2000, os novos listings têm sido muito poucos com apenas 16 empresas a entrarem em bolsa, enquanto um total de 91 empresas saíram de todos os segmentos da Euronext Lisbon“, aponta a OCDE, sublinhando que desde a viragem do milénio só em dois anos — 2008 e 2015 — houve mais entradas que saídas da bolsa.
Além da quebra no número de IPO, também o tamanho recuou. Nos 19 IPO registados entre 1996 e 2003, foram conseguidos 6,4 mil milhões de euros (a uma média de 339 milhões cada). No período seguinte, entre 2004 e 2011, seis empresas levantaram 4,1 mil milhões, com uma média de 686 milhões. Desde 2012, houve apenas quatro IPO e o total de 717 milhões leva a média por operação para apenas 179 milhões de euros.
Só os IPO da EDP Renováveis e Galp Energia ultrapassaram mil milhões
Muito endividadas e pouco líquidas: são assim as empresas que saem da bolsa
A conjugação dos dois fatores fez com que “o mercado de capitais português tenha um dos rácios de capitalização de mercado face ao PIB mais baixos da Zona Euro“, diz. A representatividade da bolsa na economia caiu para 30% em 2018, contra 52% em 2007. “Em simultâneo, a liquidez do mercado secundário de ações têm estado em tendência descendente desde 2008”.
Aliás, a reduzida liquidez e tamanho da bolsa portuguesa geraram uma espécie de ciclo vicioso. Apesar de algumas empresas terem sido forçadas a sair devido a falências ou por decisão dos reguladores ou da bolsa, “a maior parte das saídas foi, na realidade, voluntária“, explica a OCDE. “Entre as empresas que saíram por resolução do acionista, todas à exceção de uma mencionaram a baixa liquidez como razão significativa na decisão. A segunda mais importante foi insuficiente reconhecimento e interesse por parte dos investidores”.
Entre as empresas que saíram por resolução do acionista, todas à exceção de uma mencionaram a baixa liquidez como razão significativa na decisão. A segunda mais importante foi insuficiente reconhecimento e interesse por parte dos investidores.
Custos de compliance e comissões também foram uma razão importante, mas nenhuma empresa apontou razões financeiras como a principal causa. A organização explica que, ao contrário da tendência entre os restantes países, a maior parte das saídas da bolsa aconteceu no período antes de 2008. E sublinha que há diferenças no perfil.
As cotadas que saíram antes da crise eram mais pequenas do que as pares, menos rentáveis e com menor capacidade de crescimento de vendas. Depois da crise, tratam-se de empresas com o mesmo tamanho que as pares, mas com três características: desempenho mais fraco, mais endividadas a longo prazo e com ações pouco líquidas.
Este estudo, a par de um outro também conhecido esta quinta-feira, servirão de base para a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) emitir uma série de recomendações para a dinamização do mercado de capitais.
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