Metade dos gestores antecipa impacto negativo da pandemia nas empresas
A pandemia alterou a perceção dos gestores sobre as suas empresas, sobre o Governo e até os media. Reconhecem os impactos da crise, mas acreditam que é possível superar até 2021, revela barómetro.
A pandemia do novo coronavírus parece estar a mudar a perceção dos gestores portugueses perante o Governo, os media e até sobre os negócios. Com a crise pandémica, os gestores parecem dar mais importância a fatores como a visão e liderança, a cidadania e o ambiente de trabalho, para garantir a reputação da empresa. Durante o período de crise em Portugal, destacam o desempenho do Governo, apreciam a contribuição do setor do retalho alimentar e desvalorizam a posição do setor da banca.
De forma geral, os gestores portugueses esperam superar as perspetivas de contratação até ao final do ano, mas não sabem classificar se estão otimistas ou pessimistas. Estas são algumas conclusões barómetro “Covid-19: A perceção do top management em Portugal”, desenvolvido na plataforma para promover a reputação corporativa, Rep. Circle, e que reuniu 271 entrevistas online a gestores em Portugal, entre abril e maio deste ano.
Gestores esperam superar a crise num ano
Mais de metade dos gestores portugueses acredita que a pandemia terá um impacto negativo nos lucros da sua empresa. Apesar da incerteza, os gestores portugueses acreditam que, entre 2020 e 2021, a atividade económica voltará ao normal. Os dados revelam que 65,5% dos entrevistados não conseguiu definir se está pessimista ou otimista em relação à situação económica pós-Covid-19.
Contudo, a pandemia parece estar a ter um impacto real nas organizações, sendo que 31,4% dos gestores afirma que vai avançar com cortes nos recursos humanos, nos próximos seis meses, além de reduzir o investimento em comunicação e em tecnologia.
Apesar do impacto da crise económica, no topo das preocupações internas dos executivos estão as iniciativas corporativas que permitem manter os colaboradores e promover do teletrabalho.
Cerca de 45,7% dos entrevistados diz acreditar que, apesar da lenta atividade económica, a sua empresa terá superado a contração até ao final do próximo ano, havendo ainda uma fatia significativa dos executivos, 37,9%, convicta de que o retorno à normalidade se fará ainda em 2020. Apenas 5% não prevê uma recuperação económica da sua empresa antes de 2022.
Para veicular as suas mensagens, os gestores preferem os canais próprios digitais e as redes sociais, uma aposta que pretendem manter nos próximos anos, refere o estudo. Verifica-se ainda uma desvalorização da rádio, por 87,5% dos inquiridos, e dos principais canais de televisão, por 85,6%, considerados pouco relevantes para a comunicação das empresas.
A reputação é mais do que meros resultados
As dimensões de reputação corporativa mais importantes para os quadros diretivos, no contexto atual, são a visão e liderança, a cidadania e o ambiente de trabalho. De acordo com a Rep.Cirle, estes resultados contrariam a tendência para valorizar mais a dimensão ‘produtos e serviços’, que neste estudo acabou por ser a menos valorizada pelos gestores.
Contudo, a vasta maioria dos inquiridos — 80,2% — não tem a certeza se o momento de crise terá repercussões na sua reputação e apenas 15,2% afirma ser uma oportunidade para melhor a perceção sobre a sua organização. A comunicação é, na verdade, um investimento pouco considerado ainda numa fase pré-Covid, sendo uma das suas áreas de intervenção – a gestão de crise – amplamente desvalorizada. Da amostra auscultada, quase 60% dos líderes corporativos afirma que a sua empresa não tem um responsável de crise, ficando essa tarefa repartida por vários elementos da direção.
“Já é tempo de os gestores portugueses compreenderem a importância da reputação corporativa, um ativo por vezes desvalorizado, mas que traz grandes benefícios às organizações, sobretudo no contexto de crise como o que vivemos. Há demasiadas variáveis que não podemos controlar numa situação de pandemia, e daí o nível de incerteza aferido pelo barómetro, mas ter as ferramentas para medir, monitorizar, mitigar e gerir o impacto que as perceções poderão ter nos resultados do negócio, trará seguramente um nível de confiança acrescido aos decisores”, comenta Salvador da Cunha, CEO da Lift Consulting e fundador do Rep.Circle.
Serviços de saúde e retalho destacam-se na luta contra o Covid
O estudo quis ainda perceber que entidades se destacaram na gestão da crise pandémica. De acordo com os gestores portugueses, destacam-se pela positiva os serviços de saúde (63,4%), as forças de segurança (57,8%) e o Governo (52,1%) completam o top 3 das perceções positivas. No fim da tabela, surge a atuação do Presidente da República, valorizada por 23,1% dos inquiridos.
Com avaliação em causa própria, a maioria dos entrevistados acredita que o comportamento das empresas tem correspondido às expectativas, com destaque para o retalho alimentar e para empresas como a Sonae, Jerónimo Martins e Lidl. A contrariar a tendência, 78,6% dos gestores portugueses avaliam negativamente a posição do setor da banca no período de crise pandémica.
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