Do lóbi ao tabu da China, cinco pontos a reter da audição às “Big Tech”

Os líderes de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo testemunharam durante cinco horas no Congresso e foram confrontados com acusações de abuso de posição dominante. Cinco pontos a reter.

Durante mais de cinco horas, os presidentes executivos da Google, Amazon, Facebook e Apple estiveram a responder às perguntas de políticos no Congresso dos EUA. Os 15 membros do subcomité da Concorrência interrogaram Sundar Pichai, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg e Tim Cook acerca de alegações de que estas empresas têm abusado da sua posição dominante para aniquilarem potenciais adversários.

Por si só, esta audição foi histórica. Tratou-se da primeira vez que quatro líderes de grandes empresas tecnológicas testemunharam em conjunto perante este órgão democrático norte-americano, tendo sido também a primeira vez que Bezos, o homem mais rico do mundo, se sujeitou a uma audição deste tipo. Os líderes não estiveram fisicamente presentes no Congresso, tendo respondido às questões por videochamada através de uma plataforma da Cisco.

O momento em que os quatro líderes prestaram juramento e garantiram dizer apenas a verdade.

Cinco pontos a reter desta audição

  • A polarização política nos EUA. Tanto os Democratas como os Republicanos concordam que estas empresas detêm demasiado poder, mas com abordagens diferentes. Os primeiros confrontaram os representantes com aquisições de startups concorrentes no sentido de as neutralizar, ou com o uso de dados para criar clones de produtos concorrentes. Os segundos focaram-se mais no que consideram ser a censura que estas plataformas fazem sobre as opiniões mais conservadoras.
  • A dimensão das plataformas. Juntos, os quatro líderes que testemunharam no Congresso representam quatro gigantes com um valor global de cinco biliões de dólares. Ao mesmo tempo, tentaram convencer os congressistas de que, apesar das aparências, as suas empresas não controlam monopólios nos respetivos mercados e enfrentam forte concorrência umas das outras. Os líderes apelaram ainda ao patriotismo, argumentando que o sucesso que têm nos EUA e em todo o mundo é legítimo e não deve ser sancionado.
  • O cerco às tecnológicas. Quem os viu e quem os vê. Em audições deste género no passado, foram comuns as críticas à postura de muitos congressistas e, várias vezes, até ao próprio desconhecimento destes sobre o funcionamento das tecnologias que devem de escrutinar (recorda-se da tirada de Mark Zuckerberg em 2018, que respondeu a um político confuso: “Senator, we run ads?). Regra geral, não foi o caso nesta audição. Os congressistas levantaram pontos concretos sobre a atuação das empresas e interromperam os presidentes executivos quando as respostas começavam a fugir ao teor concreto da pergunta. É um sinal de que o Congresso está mais determinado em pressionar por alterações no funcionamento destas empresas.
  • O poder do lóbi. A imprensa internacional tem vindo a reportar pormenores sobre o longo trabalho de preparação dos quatro presidentes executivos, que se rodearam de equipas no sentido de antever as respostas para muitas das possíveis perguntas. A audição estava agendada para segunda-feira, mas foi adiada por causa do falecimento de John Lewis. Ainda assim, lobistas mantiveram manobras nos bastidores na esperança de influenciarem as perguntas que poderiam ser feitas e todos os quatro presidentes executivos terão telefonado a alguns congressistas nos dias antes da audição.
  • China é (quase) tabu. Numa altura em que se discute o papel da China nas relações com os EUA e com a Europa, a audição provou que o tema ainda é tabu para algumas destas empresas. Questionados sobre se consideram que a China “rouba tecnologia” às empresas norte-americanas, os quatro presidentes só quiseram responder no caso concreto das empresas que representam. Tanto Sundar Pichai (Google) como Ti Cook (Apple) disseram desconhecer essas alegações e Jeff Bezos (Amazon) reconheceu existirem relatórios e notícias nesse sentido. Somente Mark Zuckerberg (Facebook) respondeu afirmativamente: “Esses roubos existem e estão bem documentados”, assegurou. Curiosamente, o Facebook é a única das quatro empresas que não tem qualquer presença no mercado chinês.

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