Segredo para o preço mais baixo do mundo na energia solar está nas baterias
Recorde mundial foi batido em Portugal com o mais baixo preço de energia solar. Elevada competitividade e custos de produção compensaram os promotores.
Portugal voltou a bater recordes no segundo leilão de energia solar, atingindo o preço mais baixo a nível mundial. O que é que explica os níveis tão baixos que se registaram? Só o facto de ser um processo competitivo — em que entraram 35 empresas — para conseguir um “bem escasso” já ajuda a baixar os preços, mas terá sido o armazenamento a determinar a quebra.
No leilão, que se estendeu por dois dias, estavam em cima da mesa 12 lotes (que resultaram em 13 adjudicações após a divisão da capacidade de um dos lotes), num total de 700 megawatts para novas centrais solares. Pela primeira vez, havia três modalidades de licitação: tarifa fixa ou tarifa de mercado com contribuição ao sistema (tal como no último leilão), mas também uma terceira modalidade de armazenamento.
Esta última foi criada para responder à necessidade de flexibilidade do sistema e valorização do armazenamento. E o resultado foi notório: foram adjudicados oito lotes na modalidade de armazenamento, quatro na modalidade de compensação ao sistema e apenas um único lote na modalidade de preço fixo.
Foi nesta última modalidade que se bateu o recorde mundial para o preço mais baixo, no valor de 11,14 euros por MWh, o que compara com preços entre os 40 e 45 euros no mercado ibérico MIBEL. Até aqui, o valor mais baixo registado por energia solar era de 13,5 dólares por MWh (equivalente a cerca de 11,44 euros por MWh) registado em abril em Abu Dhabi. Já em Portugal, o valor mais baixo tinha sido de 14,76 euros por MWh no último leilão, em julho de 2019.
Esta comparação é feita com valores médios e comparáveis, mas houve mesmo lotes em que o preço ficou próximo de um euro e outros em que foi negativo. Como? “O produtor de solar poderá vender a sua energia no mercado a um preço competitivo (e com o pagamento de uma contribuição para o sistema elétrico que durara 15 anos)”, explica António Bento, professor da University of Southern California, ao ECO. “Com o avanço nas tecnologias de armazenamento e baterias — e o custo destas a baixar muito rapidamente — vai ser um negocio ótimo para as promotoras“.
Tendo em conta o custo marginal de produzir energia através da solar, o economista acredita que as promotoras “serão capazes de cobrir o seu custo fixo num período rapidamente curto”. “O importante aqui foi deixar as promotoras competir sabendo que no final poderão cobrar o preço que quiserem, em competição no mercado”, reiterou.
Este novo mecanismo trata-se de um pagamento por capacidade, por MW ao ano e não por MWh. No lado da rede, garante flexibilidade ao sistema que segura que não há subidas de preço acima de um determinado valor (o strike price) ou é o sistema a receber a diferença face ao preço de mercado. Em contrapartida, o sistema paga a quem fornecer este serviço um pagamento fixo, de base anual, por capacidade.
Esta foi a opção preferida dos promotores: 75% dos projetos são na modalidade de armazenamento. Nesta, “obteve-se um desconto médio ponderado ao valor de referência superior a 200%”, explica o ministério, em comunicado. Os vencedores abdicaram de receber um prémio por capacidade e terão ainda de “segurar o sistema contra eventos de preços elevados no mercado, garantindo-se assim uma segunda componente de receita para os consumidores”, clarifica.
O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, explicou que o leilão foi tão atrativo para as empresas porque “este não é de tarifas, mas sim de um bem muito escasso que são os pontos de ligação à rede”. “O acesso à rede é um bem escasso e é um contrato que dura 15 anos e a partir daí podem ficar com essa rede”, apontou.
Potência a leilão representa apenas 2% da eletricidade
Feitas as contas, Matos Fernandes estima que o leilão solar irá gerar um ganho de 559 milhões para os consumidores, nos próximos 15 anos. Este montante junta-se aos 600 milhões de poupança estimada pelo Governo no anterior leilão. Os ganhos advêm das contrapartidas que as empresas vão pagar que serão depois refletidas nas tarifas.
O secretário de Estado da Energia João Galamba garante que os preços de eletricidade deverão baixar, mas o antigo presidente da Associação Portuguesa dos Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), António Sá da Costa, aponta, ao ECO, que o impacto para os consumidores será “relativamente baixo”. É que, em termos de eletricidade produzida, a potência que foi agora a leilão vai representar cerca de 2% da eletricidade nacional, para além de que a fatura contempla vários elementos que se vão manter.
No entanto, considera que é “importante” que tenham sido baixos os preços e deverá levar a um alívio para os consumidores também. Por outro lado, António Bento destaca ainda outro aspeto que pode resultar deste contexto. “Se Portugal continuar a apostar na energia solar, deverá também criar-se o mercado do lado da procura”, perspetiva.
Entre especialistas e políticos — o ECO tentou contactar também as empresas, mas sem sucesso –, o balanço é positivo. O secretário de Estado da Energia caracterizou o leilão como “histórico”, apontando que os resultados mostram que “Portugal é mesmo dos países mais competitivos do mundo no solar”, num post publicado no perfil pessoal no Twitter. “Trata-se de uma grande, enorme vitória do país”, acrescentou.
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