Ainda a avaliar impacto do vírus, S&P deverá manter rating de Portugal
Analistas não antecipam alterações na avaliação que a agência de notação financeira vai divulgar esta noite. No entanto, não está excluída a possibilidade de uma revisão em baixa do outlook de rating.
Portugal volta a estar na mira das agências de notação financeira numa altura de stress para a economia. A Standard and Poor’s (S&P) avalia esta sexta-feira à noite a dívida nacional, após ter sido das primeiras agências a reagir ao início do surto de coronavírus, mas deverá esperar para perceber o impacto da pandemia no país antes de tomar nova decisão.
“Na última avaliação, a 24 de abril, a S&P baixou o outlook de Portugal, portanto penso que desta vez não fazer qualquer alteração”, diz diretor de investimentos do Banco Carregosa, ao ECO. Na altura, em duas semanas seguidas, duas agências de rating reviram em baixa o outlook da dívida de forma inesperada (já que os calendários não previam quaisquer avaliações).
Em ambos os casos a perspetiva de rating passou de “positivo” a “estável” devido ao potencial impacto do coronavírus na economia. A Standard and Poor’s — que dá uma classificação BBB à dívida do país, num nível de investimento de qualidade e dois degraus acima de “lixo” — justificou com o peso da recessão global severa e sincronizada na economia aberta de Portugal. E divulgou projeções: espera que o PIB afunde 7,7% este ano, antes de recuperar 4,2% em 2021 e 4% em 2022. O défice é estimado em 5% do PIB e a dívida em 125%.
Se não estivéssemos numa altura como esta, diria que se iria olhar para aspetos do orçamento ou para o consumo, mas como está tudo tão distorcido e há um setor parado com tanta importância como é o turismo, não grandes possibilidades. Penso que a S&P está numa fase de esperar para ver.
Já depois disso, o Governo apresentou as suas próprias projeções, confirmando esperar uma recessão de 6,9%, acompanhada de uma dívida recorde de 134,4% e de um défice de 6,3%. O saldo negativo das contas públicas deverá ser revisto para mais próximo de 7% dentro de um mês no Orçamento do Estado para 2021. Além da maior clareza quando ao impacto do vírus, o cenário é também agora muito diferente, com o fim do confinamento, do que se vivia na última avaliação.
“Em termos económicos a diferença é evidente, com o comportamento da economia no presente e no futuro a ser bem diferente“, diz Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros. Além da recessão e do agravamento das contas públicas, lembra que há outros pontos negativos.
“Em termos políticos, apesar de ser perfeitamente possível que o Governo em funções termine a legislatura, percebe-se menos apoio por parte dos partidos à esquerda e a troca de Ministro das Finanças também é um ponto a ter em conta. Não que o novo ministro sinalize uma mudança de rumo, mas não deixa de ser uma alteração”.
Penso que seria mais prudente uma revisão em baixa da perspetiva, de “estável” para “negativa”, mas provavelmente a S&P irá dar mais ênfase ao apoio inequívoco que o BCE e a UE estão a dar às economias e governos do que às métricas financeiras, podendo, portanto, manter a perspetiva inalterada.
Filipe Garcia considera que seria “mais prudente” uma revisão em baixa da perspetiva, de “estável” para “negativa”, mas vê como “provavelmente” que a S&P mantenha a perspetiva inalterada, dando “ênfase ao apoio inequívoco” que o Banco Central Europeu (com um mega programa de compra de dívida com 1,35 biliões de euros) e a União Europeia (cujo pacote total tem outros 1,8 biliões) estão a dar às economias e governos da Zona Euro.
“Se não estivéssemos numa altura como esta, diria que se iria olhar para aspetos do orçamento ou para o consumo, mas como está tudo tão distorcido e há um setor parado com tanta importância como é o turismo, não grandes possibilidades. Penso que a S&P está numa fase de esperar para ver e tentar perceber o que é que o Governo vai fazer para estimular o crescimento e a recuperação das empresas”, acrescenta.
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