Afinal, cartel do petróleo quase não mexeu com os preços
Estudo publicado pelo BCE indica que estratégia de cortes na produção implementada pelo cartel para reduzir o valor da matéria-primeira pouco impacto teve nas cotações da matéria-prima.
A estratégia de alinhamento na produção que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os países aliados (a OPEP+) levaram a cabo desde 2016 tem tido um impacto limitado nos preços da matéria-prima. O objetivo seria levar o valor do barril para níveis mais próximos dos 100 dólares, mas — numa altura em que preços estão próximos dos 40 dólares — um novo estudo indica que, sem os cortes, a diferença não seria grande.
“Concluímos que o impacto da OPEP+ nos preços do petróleo tem variado ao longo do tempo, em conjunto com a adesão da coligação, e que este foi, de forma geral, modesto em termos quantativos“, revela o estudo The influence of OPEC+ on oil prices: a quantitative assessment, assinado pelos investigadores Dominic Quint e Fabrizio Venditti, e divulgado esta semana pelo Banco Central Europeu (BCE).
“Em média, os nossos resultados indicam que o preço do petróleo seria cerca de quatro dólares por barril mais baixo se a OPEP+ não tivesse cortado a produção“, explicam Quint e Venditti. “Seria necessário tanto cortes muito mais profundos na produção como uma adesão muito mais forte para alcançar o objetivo ambicioso que a coligação estabeleceu para si mesma”.
A estratégia conjunta foi lançada em 2016, depois da subida dos preços no início da década passada ter levado à ascensão do petróleo de xisto nos EUA. Este tipo de petróleo, que só compensa aos produtores se os preços forem mais elevados, mudou substancialmente a estrutura do mercado global.
Os 14 países da OPEP — incluindo Arábia Saudita, Iraque, Irão ou Emirados Arábes Unidos — detinham na altura 43% da quota produtiva mundial. Este grupo juntou-se a outros países aliados — com a Rússia à cabeça, mas incluindo também o México ou o Cazaquistão — e concordaram em estabelecer limites máximos à produção. Este acordo foi prolongado e adaptado, sendo que os níveis de cumprimento de cada país também foram variando. Em 2019, o grupo era responsável por 39% do mercado, enquanto os EUA passaram a ocupar o lugar de maiores produtores do mundo, com a quota de mercado a passar para 15% (de 8%).
Arábia Saudita foi além dos cortes impostos
“O mercado global passou por mudanças significativas desde a emergência dos EUA como grandes produtores de petróleo e como feroz concorrente no mercado de exportações de petróleo“, refere o estudo. Lembra que, após a condução da estratégia com o objetivo de “conter o mercado petrolífero, absorver inventários e subir os preços do petróleo”, o acordo chegou ao fim em março de 2020 quando a Arábia Saudita e a Rússia não conseguiram chegar a acordo quanto à estratégia de resposta ao colapso da procura por petróleo na crise da Covid-19.
O desentendimento entre os dois produtores, numa altura de forte stress — o petróleo caiu para o nível mais baixo em 20 anos devido ao confinamento –, foi aliado à aproximação do prazo dos contratos de futuros do WTI para maio. O excedente no mercado reduziu fortemente o espaço para armazenamento e, pela primeira vez na história, o petróleo negociou abaixo de zero dólares por barril (chegou mesmo a -40 dólares).
Desde esse momento inédito, o mercado tem vindo a recuperar oscilando entre a ajuda dada pelas medidas de desconfinamento e a pressão gerada pela segunda vaga de vírus. Atualmente tanto o crude WTI como o brent europeu estão próximos dos 40 dólares por barril e as perspetivas para o futuro ainda são incertezas. Tanto a OPEP como a Agência Internacional de Energia (AIE) reviram, esta semana, em baixa as projeções para o consumo de petróleo.
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