Uma crise com sabor a chocolate. Arcádia vai abrir novas lojas

Mesmo com uma quebra de 30% nas vendas, a Arcádia abriu mais cinco lojas este ano e prepara-se para inaugurar um novo espaço no Norte Shopping.

Nasceu em 1933 pela mão da família Bastos, resistiu à segunda guerra mundial, ao 25 de abril, à crise de 2010 e agora à pandemia do novo coronavírus. Atualmente tem 30 lojas de norte a sul do país, vende 73 toneladas de chocolate por ano, conta com uma herança de quatro gerações e um segredo muito bem guardado na arte de fazer doçaria.

Apesar de vivermos num cenário de pandemia, a Arcádia continuou a investir e a acreditar no futuro. Prova disso é o investimento que tem vindo a fazer ao longo deste ano ao abrir cinco novas lojas: “2020 foi um ano recorde em investimento para a Arcádia. Foi o ano que abrimos mais lojas da marca“, conta o administrador da quarta geração, Francisco Bastos.

Apesar de registar uma quebra nas vendas superior a 30%, a Arcádia não baixou os braços e prepara-se para abrir a sexta loja ainda este ano no NorteShopping, em Matosinhos. “Vai situar-se num novo corredor que o Norte Shopping deu o nome de Galeria e é um espaço com um posicionamento premium. Será a maior loja da Arcádia. Queremos que essa loja seja o nosso ex-líbris”, revela ao ECO Francisco Bastos. Esta nova loja, a 31ª, vai juntar-se ao quiosque que a marca já tem no Norte Shopping.

Fábrica da Casa de Chocolate Arcadia - 24SET20
João Bastos e Francisco Bastos, administradores da Casa de Chocolate Arcádia.Ricardo Castelo

“Apesar da crise que se instalou, este investimento é a prova que apesar das quebras significativas que tivemos continuamos a acreditar no futuro e continuamos a investir”, refere João Bastos, que pertence à terceira geração. A abertura destes espaços representa um investimento superior a um milhão de euros. “Para a nossa dimensão é um investimento muito significativo”, explica ao ECO, João Bastos, neto do fundador.

Para a Arcádia estes investimentos representam uma oportunidade. O administrador João Bastos, que cresceu na empresa, explica que aplicaram a mesma estratégia na crise de 2010 e os resultados ficaram à vista. “Na crise em 2010 também não paramos os investimentos, continuamos a apostar na abertura de lojas e de novos conceitos. A grande expansão em Lisboa começou precisamente nesse ano com a abertura da loja na Avenida de Roma e passados quatros anos verificamos que grande parte do EBITDA da empresa vinha das lojas que investimentos no período da crise”, explica o gestor da Arcádia João Bastos.

Parte do segredo do negócio está no processo tradicional

O negócio não sobrevive apenas de estratégias, e manter a tradição artesanal faz parte dos princípios a empresa. As receitas têm passado de geração em geração, mas o método continua a ser tradicional e artesanal, dos bombons às línguas-de-gato. Na Arcádia os processos são os tradicionais, e tudo é feito manualmente, explica a responsável de secção do chocolate, Marta Santos, que trabalha na empresa há 25 anos. “Temos bombons que são enchidos um a um, como é o caso dos toffees e das trufas. É isso que nos torna especial e diferentes”, conta ao ECO enquanto continua a encher formas de chocolate.

Fábrica da Casa de Chocolate Arcadia - 24SET20
Marta Santos, responsável da linha de produção de chocolate da Arcádia, trabalha na empresa há 25 anos.Ricardo Castelo

O sortido tradicional, as línguas de gato e os bombons com vinho do Porto estão no top três das vendas. As receitas têm passado de geração em geração e método continua a ser tradicional e artesanal. “Queremos manter a identidade da Arcádia e aquilo que são os nossos valores e tradições”, refere o bisneto do fundador, Francisco Bastos.

Para manter a autenticidade do processo e para fazer as delícias dos clientes, a empresa emprega 220 pessoas. Da conceção ao embalamento todo o processo é manual. “Todo o embalamento é feito pelas colaboradoras tendo em conta que cada caixa tem a sua especificidade. Não existem máquinas para fazer esse trabalho, são as pessoas que o fazem”, conta Francisco Bastos, bisneto do fundador. “Queremos manter este posicionamento e manter-nos fiéis à história e à tradição”.

Nem o Marcelo resiste aos chocolates da Arcádia

O chocolate é um pecado capital e nem o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, resiste. O administrador João Bastos conta com um brilho nos olhos que Marcelo é um clientes da Arcádia, o que os deixa “orgulhosos”. “O Marcelo Rebelo de Sousa e o Jorge Gabriel são alguns dos nossos clientes”. Num recordar ao passado, lembra que a “Arcádia já recebeu a visita do poeta Eugénio de Andrade e que o António Lobo Antunes já escreveu um texto sobre nós e o Miguel Esteves Cardoso também”.

Fábrica da Casa de Chocolate Arcadia - 24SET20
Ricardo Castelo

Os clientes são nacionais, embora os turistas num cenário antes da pandemia começassem a ganhar algum peso. “Aproveitamos o fenómeno turístico que estava a acontecer no país e apostamos em produtos como os bombons de vinho do Porto e as tabletes de chocolate. O turismo começava a ter impacto”, destaca João Bastos.

Apesar de serem conhecidos pelos bombons, línguas-de-gato e drageias, a Fábrica de Chocolates da Arcádia também produz gelados, macarons e bolos personalizados. Os bolos são feitos à moda antiga e nesta linha de produção assente em técnicas ancestrais só trabalham mulheres. A justificação é simples: “têm mais aptidão, mais sensibilidade e são mais resilientes”, explica Sofia Santos da Cunha, pasteleira e responsável pela secção da confeção de bolos da Arcádia.

Desta linha de produção saem os macarons, o tradicional bolo de chocolate, quindins, bolachas, brigadeiros, folhadinhos de ovos-moles com amêndoa, entre muitos outros. “Há dez anos tínhamos cinco referências, hoje temos mais que 30”, refere a responsável de pastelaria que trabalha na Arcádia há dez anos. Destaca que são os macarons o produto com mais saída, principalmente os de maracujá e chocolate.

Fábrica da Casa de Chocolate Arcadia - 24SET20
Ricardo Castelo

Apaixonada pela pastelaria e pela arte de criar novos sabores, Sofia Santos da Cunha explica ao ECO que sonha com novos sabores e descobertas. “Tenho muito a mania do sabor, mais que a estética e sonho com sabores diferentes, e lembro-me de coisas às horas mais estranhas e enquanto não os experimento não sossego. Depois vou apurando o sabor até chegar ao produto final e à mesa da administração”.

A pasteleira sénior da Arcádia levanta uma ponta do véu e desvenda que a próxima aposta serão os salgados. “É um produto out of the box, que não existe em Portugal, e que ainda não está à venda”.

Planos para o futuro? Apostar no digital

A pandemia da Covid-19 veio acelerar todo o processo digital das empresas e a Arcádia quer estar na linha da frente nesse sentido. Antes da pandemia, a empresa já tinha delineado uma estratégia nesse sentido: reformular o site e apostar nas vendas online. Com a chegada do gestor de quarta geração, Francisco Bastos, a empresa começou a delinear uma transição digital mais profunda, conta o pai, João Bastos.

Com a pandemia as vendas na loja online Arcádia cresceram significativamente. “Este ano já faturamos 10 vez mais que o ano passado no primeiro semestre. No final da Páscoa tínhamos feito o dobro dos envios do ano passado”, conta com orgulho, o jovem gestor, Francisco Bastos. “As vendas online estão a crescer e a estratégia tem que acompanhar essa tendência”, destaca.

Com vista nessa estratégia digital, a Arcádia vai lançar ainda este ano um novo site. “Estamos prestes a lançar um novo website completamente renovado, uma plataforma mais moderna e intuitiva, que ficará pronto ainda este ano”, adianta ao ECO, Francisco Bastos. Revela ainda que a Arcádia está a a criar uma nova caixa para entregas online inspirada numa caixa antiga de bolos da Arcádia. “É uma forma de contar a história da marca. Tem que existir um encontro entre gerações”, conclui o jovem gestor.

Atualmente são dois netos e um bisneto do fundador da empresa, Manuel Pereira Bastos, que lideram a empresa. Em 87 anos de existência teve apenas cinco pessoas ao comando. Para o neto do fundador, João Bastos, resiliência, inovação e a conservação dos valores são o segredo do negócio que já dura há 87 anos.

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