F1 corre para a neutralidade carbónica em 2030 e promete primeiro motor sem emissões
Em 2019, a pegada carbónica da Fórmula 1 foi de 256,551 toneladas de CO2. No entanto, deste total apenas 0,7% dizem respeito aos motores híbridos dos monolugares e ao combustível consumido.
Portugal vai acolher um Grande Prémio de Fórmula 1 pela primeira vez em quase 25 anos, e o impacto positivo para a economia nacional já está calculado: a prova, que se realiza este domingo no Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, deverá gerar um retorno de 30 milhões de euros para o país. Pela televisão, o evento chegará a 471 milhões de pessoas em 200 países do mundo.
Mas além deste impacto económico imediato e futuro, por via da atração de um maior número de turistas fãs do automobilismo, importa ainda contabilizar o impacto ambiental para a região de ter 20 carros em pista (dois por cada equipa), cada um com uma potência entre cerca de 800 e 1.000 cavalos, durante 66 voltas (pouco mais de 300 quilómetros em cerca de duas horas), a uma velocidade média de 206,3 quilómetros por hora (segundo dados da época 2019/2020).
E isto só na corrida propriamente dita, sem contar com os vários treinos e qualificações nos dias anteriores à prova, e ainda todos os restantes fatores — operações do evento, logística, infraestruturas e fábricas, viagens das equipas para os destinos das provas — que contribuem para a pegada ambiental da Fórmula 1.
Em 2019, a organização da prova calculou que esta pegada se tenha cifrado em 256,551 toneladas de dióxido de carbono libertadas para a atmosfera. No entanto, deste total, apenas 0,7% dizem respeito aos motores híbridos dos monolugares e ao combustível usado pelas dez equipas em todos os 21 Grandes Prémios da época.
O que realmente mais polui no mundo da Fórmula 1 são as mega operações logísticas necessárias para movimentar pelo mundo (por terra, mar ou ar) todos os equipamentos das equipas desportivas, bem como os automóveis e os seus respetivos pneus (45% das emissões poluentes), seguidas das viagens, deslocações e alojamentos dos membros do staff (27,7%), as infraestruturas e as fábricas (19,3%), as operações dos eventos (7,3%) e, por último, as emissões dos carros de corrida (0,7%).
Fórmula 1 quer chegar à meta, em 2030, sem emissões poluentes
Perante estes números, e num cenário em que os motores de combustão interna e os combustíveis fósseis que os alimentam são vistos como os “maus da fita”, a Fórmula 1 anunciou, já no final do ano passado, que até 2025 as corridas deverão tornar-se mais “sustentáveis”. O objetivo não se fica por aí e, até 2030, as emissões de dióxido de carbono deste desporto automóvel serão neutras.
“É um objetivo ambicioso, mas possível”, avaliou a Federação Internacional do Automóvel (FIA), com base num plano que será posto “em marcha de imediato”. Para chegar à neutralidade carbónica no espaço de dez anos, a Fórmula 1 quer reduzir as emissões e desenvolve tecnologias mais amigas do ambiente.
“Ao lançar a primeira estratégia sustentável da F1, reconhecemos o papel fundamental que todas as organizações devem ter no combate a este problema global”, disse o CEO da Fórmula 1, o norte-americano Chase Carey.
Além do desenvolvimento de “tecnologias verdes” a aplicar aos monolugares híbridos atualmente utilizados nas provas de Fórmula 1, a estratégia passa também por viagens e transportes “ultra eficientes”, para além de “escritórios e fábricas” alimentados por energia 100% renovável.
Para tornar todos os Grandes Prémios sustentáveis já em 2025, a Fórmula 1 pretende também banir o uso de plástico descartável e passar a usar materiais recicláveis ou compósitos.
Motores híbridos da Fórmula 1 são também “os mais eficientes do mundo”
“Ao longo de 70 anos de História, a Fórmula 1 foi pioneira em inúmeras tecnologias e inovações que contribuíram positivamente para a sociedade e ajudaram as combater as emissões poluentes. Desde a aerodinâmica dos carros aos travões, os progressos da Fórmula 1 beneficiaram milhões de carros que hoje circulam nas estradas. Poucas pessoas sabem que os motores híbridos da Fórmula 1 são os mais eficientes do mundo, conseguindo mais potência com menos combustível e assim evitando mais emissões de CO2 do que qualquer outro automóvel”, sublinhou também o CEO.
Carey não esconde que a maior ambição passa agora por desenvolver “o primeiro motor ‘carbono zero’ e assim ajudar a reduzir as emissões em todo o mundo”.
Neste momento, por exemplo, o motor da Mercedes já alcança os 50% de eficiência térmica, o que significa que mais de metade da energia contida no combustível é usada para fazer o carro andar (em 2014, esta percentagem era de apenas 44%). Fora de pista, os automóveis que circulam pelas estradas de todo o mundo alcançam apenas taxas de eficiência de cerca de 30%.
No que diz respeito ao combustível, e ao contrário de outras provas automobilísticas, que permitem o reabastecimento durante as corridas, sem limite máximo, na Fórmula 1 as regras são bastante rígidas, com o objetivo de promover a eficiência energética. Desde 2019, os carros de Fórmula 1 podem usar até 110 quilogramas de combustível por corrida, o que representa um aumento de cinco quilogramas face ao ano anterior, de forma a permitir aos pilotos conseguirem melhores tempos em pista.
Há seis anos que os carros da Fórmula 1 contam também com medidores de fluxo de combustível, monitorizados pela FIA, para garantir que os motores não consomem combustível a um ritmo mais elevado do que 100 quilogramas por hora.
Para esta época de 2020, e tendo em conta a polémica levantada em torno dos consumos dos motores da Ferrari, a FIA decidiu introduzir um segundo medidor de fluxo com encriptação de dados, para garantir que as equipas não conseguem modificar e adulterar as medições dos mesmos.
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