Como funciona e quando vai chegar a vacina da Pfizer?
Chama-se BNT162b2 e é uma vacina experimental contra a Covid-19. Está a ser desenvolvida pelo consórcio Pfizer/BioNTech e terá mais de 90% de eficácia. Saiba como funciona e quando pode chegar até si.
A vacina experimental da Pfizer e BioNTech demonstrou ter mais de 90% de eficácia contra o novo coronavírus, sendo capaz de prevenir a Covid-19 sem produzir efeitos secundários adversos, um autêntico salto no combate à pandemia. Não é a única vacina em desenvolvimento, mas é a única para a qual já se conhece informação preliminar do ensaio clínico alargado, com base numa análise feita por um comité externo e independente.
A notícia causou surpresa na segunda-feira. Os dados superaram largamente as expectativas, representando uma lufada de ar fresco há muito esperada, numa pandemia que raramente tem dado boas notícias. Mas ainda há muito trabalho pela frente: os estudos continuam e os dados podem não se sustentar.
Até uma conclusão definitiva, fique a par da informação disponível acerca da vacina da Pfizer e saiba quando pode vir a chegar até si.
Como funciona a vacina da Pfizer?
A vacina experimental da Pfizer é do tipo genético, o que significa que introduz nas nossas próprias células material genético do novo coronavírus para provocar uma resposta imunitária no organismo. Concretamente, esta vacina tem demonstrado ser capaz de induzir a produção de anticorpos contra o novo coronavírus e de linfócitos T, que são células específicas do nosso sistema imunitário.
Trata-se de uma vacina de duas doses. Após a inoculação da primeira dose, é necessário aguardar 21 dias até à inoculação da segunda dose. Segundo os dados revelados esta semana pela Pfizer, a vacina confere proteção contra a Covid-19 com mais de 90% de eficácia após sete dias da administração da segunda dose. Isto é, deverá proteger a maioria das pessoas 28 dias após o início da vacinação.
De acordo com o consórcio, a vacina — designada BNT162b2 — não produziu até agora efeitos secundários relevantes nos milhares de voluntários que a receberam ao abrigo dos estudos que estão a decorrer nos EUA, Argentina, Brasil e Alemanha. Há, inclusivamente, um ensaio a envolver crianças com mais de 12 anos.
Já se pode dizer que há uma vacina?
É necessário equilibrar o entusiasmo, porque estes dados ainda são iniciais e não significam que já seja possível afirmar com toda a certeza existir uma vacina contra a Covid-19 que resulte. Por exemplo, se um dos voluntários que foi inoculado com esta vacina ficar gravemente doente de repente, e se houver indícios de que possa ser por causa da vacina, os testes poderão ser interrompidos ou mesmo abandonados por completo.
Também ainda é cedo para saber quanto tempo dura a proteção conferida pela vacina da Pfizer. Alguns estudos têm apontado para a pouca longevidade dos anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 (o que provoca a Covid-19), mas ainda não existem dados concretos para esta vacina experimental. Por exemplo, a vacina da gripe confere proteção durante alguns meses. Já a do sarampo e da varíola conferem proteção vitalícia.
Até ao momento, os dados preliminares da Pfizer focam-se em apenas 94 casos confirmados de Covid-19, o que significa que, destes voluntários que contraíram a doença, a esmagadora maioria fazia parte do grupo de controlo — ou seja, em vez da vacina, tinha-lhes sido administrado um placebo. “À medida que o estudo continua, a percentagem final de eficácia da vacina pode variar”, alerta, por isso, a farmacêutica.
Os dados finais serão divulgados quando o número de casos confirmados alcançar os 164, altura em que voltarão a ser analisados por um comité externo e independente para apurar quantos receberam o placebo ou a vacina.
Quando pode chegar a vacina às pessoas?
O consórcio Pfizer/BioNTech deverá pedir aprovação de emergência à Federal and Drug Administration (FDA) nos EUA no final deste mês para poder avançar com a vacinação. Não se sabe quanto tempo levará o regulador a analisar os dados e a emitir uma decisão.
Naturalmente, as primeiras doses deverão chegar a pessoas mais vulneráveis, como os profissionais do setor da saúde e os mais idosos. A Pfizer está pronta para produzir globalmente 50 milhões de doses da vacina em 2020 e até 1,3 mil milhões de doses até ao final de 2021.
Segundo a Bloomberg, os EUA já assinaram com a Pfizer um acordo para a compra de 100 milhões de doses. A União Europeia tem um acordo para a compra de 200 milhões de doses, e outras 100 milhões de doses adicionais caso a vacina demonstre ser segura.
Em agosto, o Governo português garantiu que Portugal terá acesso a 6,9 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, sem especificar quais. A primeira remessa deverá ser de 690 mil doses. O Executivo disse ainda que a vacinação no país será “progressiva, universal e gratuita”.
O que significa isto para as outras vacinas?
A eficácia da vacina da Pfizer é um bom presságio para outras vacinas do tipo genético, como é o caso da vacina que está a ser desenvolvida pela farmacêutica Moderna. Atualmente não existe nenhuma vacina genética aprovada pelos reguladores, pelo que, se os dados agora conhecidos se confirmarem, será um reforço de confiança neste tipo de desenvolvimento de vacinas.
A informação divulgada pela Pfizer surpreendeu, inclusivamente, o cientista que inventou esta técnica de desenvolvimento de vacinas. Em declarações à AFP, Drew Weissman, imunologista da Universidade da Pensilvânia, afirmou não se conseguir “lembrar de nenhuma vacina contra vírus respiratórios que tenha mais de 90% de eficácia”. É um valor acima dos 60-70% que têm sido apontados como prováveis por alguns especialistas em saúde pública e acima dos 50% de eficácia de algumas vacinas contra a gripe.
O mesmo não se aplica para vacinas de outro tipo, como é o caso da vacina da Universidade de Oxford e da AstraZeneca, outra das mais promissoras, mas que recorre a um vetor viral para suscitar a resposta imunológica no organismo. Concretamente, essa vacina experimental recorre a um adenovírus do chimpanzé, chamado ChAdOxl, sendo esperados os primeiros resultados preliminares dos ensaios clínicos no final deste ano.
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