Apesar do forte impacto da pandemia, António Rios Amorim, presidente da Corticeira Amorim, destaca a "resiliência" da empresa por não depender de um único mercado, produto ou país.
2020 vai ficar na história da Corticeira Amorim como o ano em que a pandemia de Covid-19 pôs fim a mais de uma década de crescimento. Quem o admite é António Rios Amorim, presidente do Conselho de Administração da Corticeira Amorim: “Ainda dependemos muito do mundo do vinho e, obviamente, este ano vamos ter um desempenho inferior, do ponto de vista do volume de negócios, ao do ano passado”.
Ao ECO/Capital Verde, apontou, no entanto, a “resiliência” da empresa por não depender de um único mercado, produto ou país. “Nós temos produtos a crescer, temos mercados a crescer relativamente ao ano passado. Uns permitiram compensar os outros. Fomos impactados pela crise, mas menos do que outros setores da economia portuguesa”, disse, acrescentando: “Quem dera a muitos dizer que tiveram um desempenho similar ao nosso, conseguido sobretudo pela estratégia de diversificação do risco”.
Para 2021, a aposta passa por fechar processos que estavam já “em vias de negociação para aquisições” e que foram suspensos por causa da pandemia. “Não tenho nada para fechar nos próximos dois ou três meses, mas em setembro retomámos alguns contactos que deixámos em suspenso a partir de abril”, confirma.
A empresa já apresentou os resultados dos primeiros nove meses do ano, que mostram uma quebra de 5,2% nas vendas e uma redução de 10,8% nos lucros para 49 milhões de euros, face a igual período do ano passado. “As condições adversas decorrentes da pandemia Covid-19 e consequentes medidas implementadas pelos diferentes países para conter a sua propagação, afetaram negativamente o volume de negócios de todas as unidades de negócio, sendo o segundo trimestre o mais penalizado”, refere a empresa em comunicado.
As vendas de rolhas (70% do total) caíram 5,6%, resultado direto do decréscimo do consumo de vinho na hotelaria e restauração. Nas rolhas para vinhos espumosos, a queda foi ainda mais acentuada: -10%. Já nos revestimentos, as vendas subiram 4%, por causa do “dinamismo dos novos produtos” e da “evolução positiva” nos mercados escandinavo, norte-americano e português.
Algumas abordagens que estávamos a ter em alguns processos, já em vias de negociação para aquisições, foram suspensas. Estamos agora a começar a retomar, a pegar nos dossiês que suspendemos em abril. É uma atitude de líder, de ir buscar empresas, aquisições que possam continuar a acrescentar valor às empresas.
Que análise faz do impacto que a pandemia está a ter no negócio da Corticeira Amorim?
Obviamente que a está a ter efeito, porque nós estávamos à espera de um ano de 2020 em que voltávamos mais uma vez a crescer. Talvez até um bocadinho mais, face ao trabalho de preparação que fizemos em anos anteriores. Seria o 11º ou 12º ano de crescimento consecutivo. Não tem vindo a ser o caso. A Corticeira Amorim está com uma evolução negativa da atividade face ao ano passado. Estamos a ser afetados, mas muitíssimo menos do que outros setores que estão a ser muito mais impactados por esta crise. Porquê?
Primeiro, mostrámos uma resiliência absolutamente única, não abdicando de continuar a trabalhar e a fornecer os nossos clientes, seja onde for. Segundo, porque não estamos realmente dependentes de um só mercado, de um só produto, de um só país e por isso diferentes produtos tiveram comportamentos completamente diferentes. Nós temos produtos a crescer, temos mercados a crescer relativamente ao ano passado. Uns permitiram compensar os outros. Tivemos um abril mau, um maio traumático, mas depois as coisas têm vindo a melhorar. Há sempre um desempenho negativo face ao ano anterior. Diria eu, sim, fomos impactados pela crise, mas menos impactados do que alguns dos setores que vemos da economia portuguesa.
Como espera encerrar o ano? Os resultados vão continuar a cair?
Nós começámos o ano a crescer, normalmente, só fomos impactados quinze ou dezassete dias em março, o segundo trimestre foi mau, no terceiro estamos já abaixo do ano passado. Vamos acabar o ano com um volume de negócios ainda inferior, porque não vamos recuperar agora, no trimestre mais pequeno do ano. Não queríamos que se agravasse muito mais. Mas quem dera a muitos dizer que tiveram um desempenho similar ao nosso, que conseguimos sobretudo pela estratégia de diversificação do risco. Ainda dependemos muito do mundo do vinho e obviamente este ano vamos ter um desempenho inferior do ponto de vista do volume de negócios ao do ano passado.
Diz que que há mercados e produtos a crescer. Quais são?
Um mercado como o dos Estados Unidos e as rolhas para vinho, por exemplo. Isto por causa das guerras comerciais e das tarifas alfandegárias impostas aos vinhos europeus no mercado norte-americano. Como havia stock de vinho para engarrafar nos Estados Unidos, estamos a vender rolhas para lá. Para nós, os Estados Unidos serão este ano o mercado em que deveríamos ter um crescimento, mas depende do último trimestre do ano.
Têm na calha alguma tentativa de novas aquisições?
Sim. Algumas abordagens que estávamos a ter em alguns processos, já em vias de negociação para aquisições, foram suspensas. Estamos agora a começar a retomar, a pegar nos dossiês que suspendemos em abril. É uma atitude de líder, de ir buscar empresas, aquisições que possam continuar a acrescentar valor às empresas. Não tenho nada para fechar nos próximos dois ou três meses, mas em setembro retomámos alguns contactos que deixámos em suspenso a partir de abril.
Qual é a sua opinião em relação aos apoios do Governo às empresas e à retoma?
Sobre a retoma, ninguém pode aferir quando é que ela vai existir porque está claramente dependente de uma solução sanitária para a crise. Relativamente às medidas que o governo facultou para combater esta crise, acho que são — quer no tema das moratórias, quer no tema dos apoios financeiros às empresas ou nas questões do lay-off — medidas adequadas. No entanto, a Corticeira Amorim não recorreu nem nem irá recorrer a nenhuma delas. Isso é para nós, até ao momento, algo assente.
Não recorremos a processos de lay-off nem a medidas de apoio do financiamento às empresas. Gostaria de ver, sim, mais apoios no sentido positivo. Por exemplo, o setor da cortiça tem beneficiado disso, tem havido apoios na promoção internacional da cortiça através da associação setorial. Diria que a resposta, quer sanitária quer económica, até ao momento tem sido adequada, mas a Corticeira Amorim não recorreu a qualquer apoio público.
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Corticeira Amorim fecha o ano a cair, mas já prepara novas aquisições em 2021
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