Na sua 12.ª edição, Rock 'n' Law (RnL) apoia artistas através da União Audiovisual com o apoio da Entreajuda. A Advocatus foi conhecer quem realmente pode beneficiar com esta ajuda.
Apesar da pandemia, estados de emergência, confinamentos (totais ou parciais), o Rock ‘n’ Law (RnL) não para e a 12.ª edição já está a ser preparada. Em versão on-line, obviamente, e sem direito a festa e concertos ao vivo, mas com os donativos habituais. E para quem? Este ano, a escolha vai para os artistas e todos aqueles que fazem parte das artes performativas. Porque não só o turismo ou a restauração sofreu com esta crise criada pela Covid-19.
A organização escolheu a União Audiovisual, uma associação que surge durante a pandemia para apoiar os vários profissionais que ficaram sem trabalho, através de recolha e distribuição de bens alimentares mas exclusivamente para quem está no meio audiovisual. E não falamos apenas de músicos, atores, encenadores ou profissionais ligados ao cinema ou teatro mas também todos os que ajudam e são fundamentais a concretizar concertos e espetáculos como os técnicos de som, caracterizadores, técnicos de luz, roadies and so on. A Advocatus quis e foi conhecer quem realmente pode vir a beneficiar com esta ajuda que já arrecadou — ao longo das suas 11 edições — mais de 700 mil euros, apoiou 18 projetos de solidariedade social com 14 sociedades de advogados na organização e nove bandas participam. Se quiser contribuir, basta aceder ao link shorturl.at/dlHQV.
Miss Suzie, 51 anos, cantora, atriz, figurinista, diretora artística
“Fui-me safando porque a verdade é que não faço só uma coisa neste meio. Mas março foi um mês muito complicado”. Sem papas na língua, Susana, mais conhecida por Miss Suzie já não é nenhuma ‘rookie‘ nestas andanças. Quem olhar para esta força da natureza, que não poupa na frontalidade, pode achar que esta cara não é estranha. E não é. Há quem se lembre de a ver em palco com os Ena Pá 2000 — ou no já encerrado Maxime ou, mais recentemente no Titanic Sur le Mer, bar do próprio Manuel João Vieira, fundador e vocalista da banda. Também faz parte dos Irmãos Catita e da sua própria banda ‘Suzie and the boys’.
"Fui-me safando porque a verdade é que não faço só uma coisa neste meio. Mas março foi um mês muito complicado.”
Faz cinema, televisão, teatro e faz quase de tudo. Mas só em junho começou a sentir que o trabalho estava a regressar, embora admita que nada está ainda “a regressar ao normal”. Para além das suas contas, ajuda ainda os dois filhos já adultos que também estão no meio. À pergunta de “como se tem safado a pagar essas contas já que admite que não teve qualquer apoio do Estado”, Miss Suzie responde: “a fazer acordos verbais com o meu senhorio, por exemplo, para ir pagando a renda mais devagar”. E queixa-se: “o curioso é que pago 400 euros todos os meses para segurança social e depois peço ajuda ao Estado e não consigo apoio”, diz a artista. “Nós já não tínhamos mercado para tanta gente, era tudo a querer ir ao mesmo osso, agora então…”.
Carla Pinho, 49 anos, caracterizadora
O caso de Carla é dos mais flagrantes. Igualmente crítica da falta de apoios do Estado, a caracterizadora de 49 anos assume que há muita vergonha no meio para se assumir que os artistas estão, de facto, “a passar necessidades”. Pelos próprios artistas. Carla foi chamada apenas para um trabalho desde março deste ano — que surgiu em agosto para a revista Lux — conta a profissional há já 24 anos.
"Eu não tenho problema em dizer que preciso de ajuda!”
Considera que se dá muita importância à quebra do setor do turismo e da restauração e que a classe artística foi esquecida. Não só pela comunicação social como também pelo Estado. Também Carla pediu apoio estatal mas que foi “indeferido”. “Vivo sozinha, tive de recorrer aos meus tios, amigos e, claro, à União Audiovisual e também do Palco 13”. A caracterizadora fez, inclusive, o pedido de insolvência pessoal, “tal é o estado da minha situação”. Visivelmente afetada pelos últimos meses da sua vida, a profissional considera que se ouve pouco o apelo da sua classe. E que é preciso mudar esse status quo. E assume: “eu não tenho problema em dizer que preciso de ajuda!”.
Tiago Xavier, 35 anos, fotógrafo
Há 15 anos que Tiago Xavier usa a máquina fotográfica como sua companheira de guerra. Freelancer, o profissional costuma trabalhar em publicidade, documentários, retratos ou mesmo peças mais institucionais. Certo é que “com o confinamento a minha vida mudou….”. Pai de uma rapariga de 12 anos, casado, com a mulher igualmente sem rendimentos, os últimos meses não têm sido fáceis para a família Xavier. O talento, esse, está lá. Basta espreitar o site onde podem ser vistas algumas dos principais trabalhos do fotógrafo.
"Somos totalmente esquecidos pelo poder político e opinião pública.”
“Durante uns meses, conseguimos viver com o subsídio de desemprego da minha mulher mas que entretanto acabou”, conta à Advocatus. Desde que a pandemia chegou a Portugal, e com ela o confinamento da primavera, que Tiago praticamente não teve trabalho. Apenas três grandes produções em agosto. Mas, de resto, “não se passa nada nesta área”. Somos totalmente esquecidos pelo poder político e opinião pública, diz o profissional.
RnL já juntou mais de 700 mil euros
Esta iniciativa solidária conseguiu juntar, no ano passado, 81 mil euros para ajudar os idosos da Associação Nossa Senhora do Mar. Sendo que foi a 10ª edição — em novembro de 2018 — que arrecadou o valor recorde de donativo de 110 mil euros, precisamente para apoiar doentes oncológicos. Este ano volta a ter o Alto Patrocínio de Marcelo Rebelo de Sousa que até gravou um vídeo para celebrar a iniciativa. Veja aqui o vídeo:
“Este ano, a escolha não foi logo óbvia. Foi difícil, tendo em conta a crise que estamos a atravessar e em que são vários os setores de atividade ou grupos vulneráveis a precisar da nossa ajuda. Mas focando-nos naqueles que, em muitos casos, deixaram de ter qualquer tipo de rendimentos, acabamos por optar pelo apoio aos profissionais dos espetáculos e audiovisual que, sem qualquer aviso prévio, viram a sua vida profissional suspensa com esta pandemia“, explica o coordenador do RnL, Francisco Proença de Carvalho, sócio da Uría Menéndez -Proença de Carvalho e baterista em uma das bandas que todos os anos participam no evento. “Falamos de músicos, atores mas não só. Também caracterizadores, maquilhadores, fotógrafos, figurinistas, técnicos de som, road managers, técnicos de luz, roadies e por aí fora. Assim sendo, os donativos deste ano vão para a União Audiovisual com o apoio da Entrajuda. Com o objetivo de ajudar em necessidades básicas como a alimentação porque sabemos bem que há casos de famílias a passar fome e com dificuldades extremas devido à suspensão de espetáculos e eventos”, acrescenta.
E explica que este ano – já que não podemos ter a festa habitual com milhares de pessoas e as bandas ao vivo – a organização optou pela versão digital através das redes sociais do Rock ‘n’ Law. “Não só teremos contributos musicais das habituais bandas dos vários escritórios de advogados patrocinadores, como também o contributo de alguns artistas profissionais e de algumas pessoas do mundo do espetáculo que serão beneficiárias do nosso apoio. É o que é possível, perante o contexto. Seja como for, o grande objetivo mantém-se: ajudar quem mais precisa e todos poderão fazer o seu donativo para esta causa de uma forma muito fácil através das nossas redes sociais e site. Espero que gostem!”, concluiu o advogado.
No total, a iniciativa costuma contar com a colaboração da Abreu Advogados; CMS Rui Pena & Arnaut; Cuatrecasas, Gonçalves Pereira; DLA Piper ABBC; FCB & Associados; Garrigues; Gomez-Acebo & Pombo; Linklaters; Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados; PLMJ; Sérvulo & Associados; SRS Advogados; Uría Menéndez – Proença de Carvalho e Vieira de Almeida.
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Rock ‘n’ Law apoia artistas este ano. Fomos conhecer as histórias de quem precisa de ajuda
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