“Não há futuro da economia portuguesa sem uma indústria forte”, defendem empresários e economistas
Na conferência organizada pelo ECO "Fábrica 2030", empresários e economistas defenderam que o país não se pode "demitir da sua vocação industrial" e anteciparam alguns desafios.
Tanto os empresários como economistas concordam que a “diversidade e qualidade” da indústria portuguesa é “assinalável”, por isso defendem que Portugal não se pode” demitir da sua vocação industrial”. Ainda assim, alertam que face à crise provocada pela pandemia traz vários desafios.
“A indústria é uma base fundamental da nossa economia”, apontou Ana Lehmann, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, na conferência “Fábrica 2030” organizada esta terça-feira pelo ECO, sublinhando que, por isso, “Portugal, tal como a Europa, não se pode demitir da sua vocação industrial“. Esta opinião é partilhada por Fernando Alexandre, professor Universidade do Minho, que frisou o facto de as duas realidades estarem “muito ligadas”. E “vão estar ainda mais ligadas na próxima década”, acrescentou. “Assistimos a uma reconfiguração das cadeias de produção globais, há movimentos geopolíticos entre a Europa, Estados Unidos e a China e a Europa está a reafirmar-se”, destacou.
É necessário “estimular o tecido empresarial” português, sem deixar de olhar para o que se está a fazer no Velho Continente e, “em particular na Alemanha”, um dos motores da indústria a nível mundial, alerta o professor. Fernando Alexandre considera que a reorganização da indústria “é uma constante”, mas que “acelerou com a pandemia, com as transformações tecnológicas e com o maior domínio que a China tem no tabuleiro da economia mundial”. “A questão que agora se coloca é que com esta aceleração que outra vez tivemos não podemos ficar outra vez à margem“, defende, acrescentando que uma recuperação da economia portuguesa passa também por este setor. “Não há futuro da economia portuguesa sem uma industria forte”, sinaliza.
Também para César Araújo “o bichinho” da indústria portuguesa é indiscutível, mas o presidente da ANIVEC chama a atenção para a concorrência da China, que pode ameaçar este setor. “O que me interessa ter fábricas se depois o mercado europeu importa produtos da Ásia?”, questiona, dando como exemplo a indústria têxtil, sublinhado que “85% dos produtos consumidos na Europa têm proveniência asiática”. “ A Europa é o nosso mercado doméstico e a Europa tem de promover produtos domésticos”, sinaliza.
Outra das criticas apresentadas pelo presidente da ANIVEC diz respeito à falta de estímulos que permitam que as empresas portuguesas “possam concorrer” com as empresas estrangeiras. “Uma empresa que tenha 300 e 400 trabalhadores porque o país não estimula vai reduzir o seu quadro de pessoal e vai competir a nível local”, alerta. “Só pensamos de micro”, critica. Assim, César Araújo insta os decisores políticos a “pensar macro”, de modo a que Portugal “possa ser excelência a nível europeu e a nível mundial”.
Por outro lado, Paulo Natal, responsável pela área comercial da zona norte do Santander Portugal, recusa a ideia de que a indústria portuguesa está “condenada” ou que não vai sobreviver, apesar de admitir “que o contexto que se vive é diferente”. Para o responsável pela área comercial da filial do banco espanhol em Portugal, o grande desafio é “estar nas cadeias de valor, na inovação, na marca, no produto e da diferenciação” e “fugir” daquilo que era “o modelo tradicional da indústria” que “era estar no final da cadeia de valor e ser subcontratado da Europa”. Além disso, destaca que é preciso “fazer apostas fortes na investigação”, bem como “dar o salto” no que toca à atomização da indústria.
Quanto ao papel da banca na reindustrialização na indústria chama a atenção para o facto de existirem “muitas pequenas e médias indústrias muito pouco capitalizadas. “Há um dado que acho que é critico: 27% das indústrias portuguesas têm capitais próprios negativos“, alerta, defendendo que este também é um dos desafios “do papel da banca” no apoio a este setor do qual não se podem desassociar, aponta. Além disso, Paulo Natal critica o facto de o Plano Recuperação e Resiliência, ser muito focado “na ferrovia e na coesão territorial”, deixando a indústria para segundo plano. “Há de facto um défice de apoio à industrialização e dentro da industrialização àquela que é o motor da indústria que é a exportação”, conclui.
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