Famílias já deixaram 500 milhões de euros em prestações da casa por pagar

Há 750 mil créditos cujas prestações à banca foram adiadas. Equivalem a 45 mil milhões de euros, grande parte em crédito da casa. Só neste, famílias já deixaram por pagar 500 milhões em prestações.

As moratórias foram, para muitos portugueses, a resposta às dificuldades financeiras resultantes do forte impacto que a pandemia teve, e tem, nos seus rendimentos. A adesão foi grande, contabilizando-se mais de 750 mil créditos, entre famílias e empresas, cujas prestações à banca foram adiadas, a grande maioria destes destinados à compra de habitação. Desde o início da pandemia, já ficaram por pagar mais de 500 milhões de euros em prestações da casa.

Foi logo no final de março que surgiram as primeiras moratórias. Os bancos avançaram, numa primeira fase, com soluções próprias, mas depois chegou a moratória pública, desenhada pelo Governo. De acordo com dados do Banco de Portugal, no final de abril já havia mais de 500 mil moratórias aprovadas, número que saltou para 740 mil no fim de junho e 751.725 a 30 de setembro, correspondentes a créditos no valor de cerca de 45 mil milhões de euros. Nestas, o peso do crédito à habitação foi sempre grande, reflexo do “fardo” que esta mensalidade tem nos rendimentos das pessoas.

Considerando o total de famílias que aderiram a esta solução para o empréstimo da casa, em cada um dos momentos, mas também o valor da prestação média associada à globalidade dos contratos de crédito à habitação existentes, divulgado pelo INE, é possível dar uma noção do montante global que ficou por pagar nestes meses todos. Se nos primeiros meses a fatura que ficou por pagar rondava os 50 milhões de euros, o valor engordou com a crescente adesão às moratórias, superando os 70 milhões mensais.

No global, de acordo com cálculos do ECO, há já cerca de 511 milhões de euros de prestações do crédito à habitação que não foram pagos pelas famílias aos bancos, um montante que tenderá a “engordar” já que estas moratórias vão prolongar-se no tempo. Se inicialmente deveriam vigorar apenas até ao final de setembro, com o agudizar da pandemia foram prolongadas até março. Mais recentemente, acabaram por ver o prazo estendido até setembro de 2021, mas com a adesão a estas a ficar bloqueada desde 30 de setembro deste ano.

No Parlamento, o PSD conseguiu aprovar, com o apoio das restantes bancadas, exceto a do PS, uma proposta que permite “a adesão ao regime da moratória neste previsto até 31 de março de 2021, com as necessárias adaptações”. Ou seja, o número de moratórias poderá vir a aumentar, fazendo engordar a um ritmo mais elevado o valor que mensalmente as famílias deixam de pagar do crédito da casa, montante esse que terá de ser pago posteriormente. Estas moratórias vão fazer aumentar as mensalidades, mas também o prazo para o fim do crédito.

Fatura sobe com créditos ao consumo

A proposta do PSD é para que a adesão às moratórias seja possível até março para famílias e empresas, sendo que no caso dos agregados familiares é válida tanto para as prestações do crédito da casa como as dos empréstimos ao consumo. Foram aplicadas medidas de apoio a 217.787 contratos de crédito aos consumidores até 30 de setembro, segundo o Banco de Portugal, que contabiliza tanto as moratórias públicas como as atribuídas pelos bancos bancos e financeiras.

Se no caso da moratória pública esta aplica-se apenas nos casos em que o financiamento seja para efeitos de despesas de educação ou formação, as dos bancos (Associação Portuguesa de Bancos) e financeiras (Associação de Instituições de Crédito Especializado) chegaram a outros financiamentos, entre eles os cartões de crédito ou mesmo os financiamentos contraídos para a compra de automóvel. Neste caso, não é possível, contudo, perceber qual o valor que ficou por pagar, mas ascenderá a vários milhões de euros.

Soluções para as empresas

A somar às centenas de milhões de euros já adiados pelas famílias, haverá muitos mais milhões de euros em prestações à banca que foram “empurrados” pelas empresas. Dados do Banco de Portugal revelam que 216.332 empresas recorreram a esta facilidade para conseguirem superar este momento de maior aperto na liquidez, tendo em conta as fortes quebras de faturação. Tendo em conta o agudizar da pandemia, têm surgido apelos a que as moratórias, em vigor até setembro de 2021, possam ser prolongadas, mas o Governo afasta esse cenário.

Em vez de dar mais tempo para que as empresas não paguem os créditos, acreditando que na altura a economia estará já em recuperação da crise pandémica à conta da vacina contra a Covid-19, o Executivo promete outras soluções. Pedro Siza Vieira revelou, na “Fábrica 20.30”, conferência realizada pelo ECO, que essas soluções serão apresentadas no decorrer do primeiro semestre do próximo ano. “Isto vai passar por uma combinação de soluções desde converter dívida em capital até injeção de capital novo que precisa de robustecer o balanço das empresas, preparando-as para a retoma”, adiantou Siza Vieira.

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