Investimento em tecnologia cai em Portugal, em contraciclo com a Europa
Pese a pandemia, a Europa continuou a investir em tecnologia em 2020, aponta o relatório sobre o Estado da Tecnologia Europeia 2020.
O financiamento em tecnologia em Portugal caiu acentuadamente em 2020 — assim como em Espanha —, em contraciclo com a Europa. No Velho Continente, a tecnologia europeia tem registado investimento recorde nos últimos anos, avança o relatório “Estado da Tecnologia Europeia 2020”, feito pela capital de risco Atomico em parceria com a Slush e Orrick, organizadora de conferências tecnológicas e, também, com a Silicon Valley Bank, a firma de advocacia especializada em tecnologia global.
A indústria tecnológica europeia atingiu, em ano de pandemia, um valor de financiamento privado recorde de 34 mil milhões de euros, e 18 novas empresas a alcançar o estatuto de unicórnio (avaliadas em mais de mil milhões de dólares). Em contrapartida, Portugal registou uma quebra no financiamento de 70%, de 139 milhões em 2019 para 41 milhões em 2020. Também Espanha viu o financiamento cair 56% em 2020, em termos absolutos, com o investimento de capital projetado a descer 1.218 milhões de euros em 2019 para 532 milhões em 2020.
O financiamento também diminuiu na Alemanha e no Reino Unido, enquanto França, Suécia, Finlândia e Bélgica registaram níveis recorde de financiamento.
Ainda que com quebras acentuadas no investimento, o relatório detalha que há sinais de esperança, tanto para o ecossistema espanhol como para o português. Espanha tornou-se o terceiro destino mais popular para scaleups que procuram internacionalizar-se através da criação de um segundo hub, à frente de França e dos Países Baixos. Já Portugal “está a emergir” como forte hub de talentos tecnológicos, com oferta de empregos tecnológicos que cresceram 45%, o número mais alto em empresas europeias. Um desses casos é a Cloudflare, que cumpriu recentemente o primeiro ano de escritório em Lisboa.
Perfis de investimento
Na Europa, os investidores institucionais como fundos de pensões, companhias de seguros, fundos de fundos, dotações e fundações da Europa e de todo o mundo estão a investir três vezes mais dinheiro na indústria tecnológica europeia do que há cinco anos. O investimento transatlântico em 2020 tem sido mais forte do que nunca: 19% de rondas em 2020 incluiu a participação de pelo menos um investidor dos EUA, contra 16% em 2019.
“Estamos a assistir a uma interação crescente na tecnologia europeia entre o capital de risco, o capital privado e os mercados públicos, criando mais oportunidades de M&A [fusões e aquisições], um forte plano de futuros candidatos à IPO [oferta pública inicial] e uma reorientação de talentos experientes para construir novas gerações de empresas.”, assinala Tom Wehmeier, parceiro na Atomico e co-autor do relatório. No entanto, para que esse “ciclo virtuoso” se cumpra, a Europa precisa que as empresas de tecnologia encontrem liquidez, de forma a beneficiar “construtores e investidores” europeus.
"Os fundadores europeus nunca tiveram uma confiança tão grande na sua capacidade de construir as empresas mais importantes do mundo a partir da Europa.”
“Desbloquear e reter mais valor das empresas de tecnologia europeias irá apoiar o crescimento económico da região e, em última análise, assegurar a competitividade do seu ecossistema tecnológico na cena mundial. Já está a acontecer e tenho a convicção de que vamos agora assistir a esta aceleração; os fundadores europeus nunca tiveram uma confiança tão grande na sua capacidade de construir as empresas mais importantes do mundo a partir da Europa”, sublinha ainda.
De acordo com o estudo, na Europa existem 115 empresas apoiadas por capital de risco avaliadas em mais de mil milhões de euros, contra 46 em 2016. A britânica Hopin, que criou uma plataforma para organizar eventos online, foi a startup mais rápida a atingir o estatuto de unicórnio de que há registo na Europa: fê-lo em apenas 17 meses.
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