Como um português conduziu o Citigroup à liderança da banca de investimento no Médio Oriente e África

Miguel Azevedo, head of investment banking do Citi no Médio Oriente e África, explica como a aceleração das fusões e aquisições ajudou o banco a ultrapassar o JP Morgan como número um nas regiões.

Os países da periferia da Europa estão à procura de investimento estrangeiro no Médio Oriente, segundo Miguel Azevedo, head of investment banking do Citigroup no Médio Oriente e em África (excluindo África do Sul). As “ações de charme” realizadas junto de países exportadores de capital como o Qatar e os Emirados Árabes Unidos (EAU) servem para angariar investimento numa altura em que governos e empresários preparam a recuperação económica pós-pandemia.

Depois de o Citigroup ter ultrapassado o JP Morgan como o primeiro banco de investimento no Médio Oriente e em África em 2020, Miguel Azevedo, em entrevista por escrito ao ECO, explica que África foi severamente afetada pelo coronavírus, mas as fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no Médio Oriente até aceleraram. A par do forte dinamismo do mercado, a liderança nas operações na região, noticiada pela Bloomberg, foi impulsionada pelo regresso do banco de investimento à Arábia Saudita, de onde tinha saído em 2013.

Do lado dos investidores, há interesse e fluxos de capital para África e Médio Oriente, nomeadamente vindos de Portugal?

Infelizmente quer numa região quer noutra não é notória a presença de investidores portugueses também porque, na verdade, Portugal é um importador e não um exportador de capitais. Numa nota ligeiramente diferente, é de realçar que alguns países europeus da periferia têm feito ações de charme no Médio Oriente e mais em particular nos países exportadores de capital (Qatar e EAU) para angariar investimento para os seus próprios países.

Que países são esses? Considera que é fruto da pandemia ou já se verificava antes?

Não posso elaborar mais, pois estou envolvido. Já vinha de trás, mas acelerou com pandemia e após encontro entre Chefes de Estado.

No Médio Oriente, foi um ano recorde pois estamos em plena fase de transição para uma economia mais eficiente e mais sustentável, tanto ecológica como economicamente.

Miguel Azevedo

Head of investment banking do Citigroup no Médio Oriente e em África (excluindo África do Sul)

A que se deve este ano tão positivo para o Citi? Quais as operações que destaca como tendo sido mais importantes?

Esta performance em 2020 vem no seguimento do ano de 2019 e de um reforçado investimento nas equipes de África e Médio Oriente. No Médio Oriente é de destacar a operação de take private da DP World, num montante total de nove mil milhões de dólares, bem como a oferta de ações da Adnoc Distribuição em mil milhões de dólares.

Em África, é de destacar o apoio à Network international na compra da DPO, uma empresa de pagamentos no Kenya por 288 milhões de dólares, bem como a oferta de ações da Jumia, o marketplace de África (conhecida como a Amazon de África) num montante de 243 milhões de dólares.

Como é que a pandemia influenciou os IPO e o M&A nas regiões do Médio Oriente e África?

África foi severamente afetada pois praticamente todos os países perderam acesso aos mercados de capitais. No Médio Oriente, foi um ano recorde pois estamos em plena fase de transição para uma economia mais eficiente e mais sustentável, tanto ecológica como economicamente. A pandemia só veio acelerar a necessidade desta mesma transformação e, por isso, acabou por ser um acelerador também na área de M&A.

É muito importante ter acesso aos mercados de capitais e haver um maior investimento de capital e não de dívida.

Miguel Azevedo

Head of investment banking do Citigroup no Médio Oriente e em África (excluindo África do Sul)

Quais as perspetivas para 2021? Após um ano de pandemia, haverá ainda espaço para mais negócios?

Em África acredito que 2021 possa ser um ano mais favorável pois os mercados estão mais estáveis e a necessidade de levantar equity é muito grande. No Médio Oriente estimo que seja mais um ano fortíssimo pelas mesmíssimas razões antes apontadas.

A recuperação económica de outras regiões pode ofuscar Médio Oriente e África?

O Médio Oriente não esta numa fase eufórica de crescimento e a atividade M&A e de equity raising tem menos a ver com crescimento do que com reorganização das várias economias e redução do peso do setor petrolífero, sendo ainda essencialmente um exportador de petróleo e, no caso do Dubai, uma plataforma para a circulação de bens, pessoas e fundos financeiros, a região estará sempre ultra correlacionada com o crescimento mundial.

Em África, o crescimento será também correlacionada no que diz respeito as exportações de commodities, mas acredito que iremos ver mais investimento em oportunidades viradas para o mercado interno e substituição de importações e, por isso, talvez menos correlacionado com o resto do mundo. Para África o que é muito importante é ter acesso aos mercados de capitais e haver um maior investimento de capital e não de dívida.

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