Novo confinamento pode levar PIB a crescer apenas 1,3% este ano
O cenário severo previsto pelo Banco de Portugal há um mês encaixa na realidade que Portugal irá viver com um novo confinamento geral. A economia poderá recuperar apenas 1,3% em 2021.
Passou apenas um mês, mas o cenário severo das previsões do Banco de Portugal tornou-se drasticamente mais realista. Com o número de casos e os internamentos a subir significativamente, o Governo prepara um novo confinamento geral e a “normalidade” continua adiada. Esta descrição encaixa como uma luva na previsão feita pelo banco central no boletim económico de dezembro onde antecipava um cenário em que o PIB apenas recuperaria 1,3% em 2021 em vez do crescimento de 3,9% do cenário central.
No boletim económico, o Banco de Portugal detalhou o que teria de acontecer para os números do cenário severo tornarem-se mais realistas. “O cenário severo assume uma maior dificuldade em controlar o crescimento dos novos casos no final de 2020 e um aumento de novas infeções no primeiro trimestre de 2021″, explicava, acrescentando que “este contexto obriga a um reforço das medidas de contenção, incluindo a possibilidade de introdução de confinamentos mais rigorosos e prolongados“.
Ora, a situação vivida entre 14 de dezembro, dia em que o boletim foi divulgado, e esta quarta-feira, 13 de janeiro, corresponde a esta descrição. Portugal passou a ter entre 7 a 10 mil infetados por dia, aplicando uma pressão no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com o aumento dos internamentos, que levou o Governo a decretar um confinamento generalizado “próximo” do de março e abril. As regras em específico só serão conhecidas esta quarta-feira, mas mesmo com exceções (dentistas, tribunais e escolas, por exemplo) o impacto económico deverá ser significativo.
Esta é a parte má da descrição do BdP que acaba por confirmar-se. Mas este cenário severo também pressupunha que “a solução médica eficaz surge na primeira metade de 2021, mas a sua implementação em larga escala é gradual”. E aí até houve uma boa notícia: na União Europeia, a autorização da vacina acabou por chegar antes, pouco dias depois de o boletim ser divulgado, e a vacinação já começou, mas as autoridades de saúde têm baixado as expectativas dos cidadãos uma vez que este será um processo longo que decorrerá ao longo de todo o ano.
Este cenário assumia também que “a reação dos decisores de política mitiga os efeitos da crise”, isto é, que tanto a política monetária, através do Banco Central Europeu, como a política orçamental, entra em jogo novamente para compensar a perda de rendimentos. Sobre o Orçamento, o banco central assinalava que este cenário considera “um reforço e extensão das medidas de apoio implementadas e, na política monetária, a adoção de medidas que limitam a amplificação financeira da crise”. Falta saber se ainda haverá poder de fogo em ambas as políticas para fazer frente à crise pandémica.
No cenário severo, PIB chega a 2023 abaixo do nível de 2019
A má notícia é que se a recuperação de 2021 for fraca tal significará que a economia estará em maus lençóis por mais tempo e com uma capacidade de retoma menor. “No cenário severo, a necessidade de imposição de medidas adicionais de contenção e a redução da confiança dos agentes económicos têm um impacto negativo sobre a atividade económica“, sintetizava o Banco de Portugal, notando que “o mercado de trabalho é particularmente afetado”, com a taxa de desemprego a chegar aos 10% este ano, fruto das falências de empresas.
“Este enquadramento implica uma recuperação do consumo privado, do investimento e das exportações mais lenta do que a antecipada no cenário base, em particular das exportações de turismo“, concluía o banco central, antecipando um crescimento de 3,1% em 2022 e de 2,4% em 2023, abaixo do cenário base. Com esta trajetória, a economia portuguesa chegaria ao final de 2023 com um PIB cerca de 2% abaixo do nível de 2019, o ano anterior à crise. Em suma, a recuperação seria “mais fraca e prolongada”.
Este cenário mais severo tem também consequências nas contas externas, tendo um impacto mais negativo sobre as exportações de serviços — ou seja, uma retoma menos dinâmica do turismo — que implicaria uma deterioração maior da balança de bens e serviços este ano. “A par da evolução mais desfavorável da procura externa, podem observar-se também impactos mais negativos sobre as cadeias de valor global e o comércio internacional de serviços”, avisava o BdP.
O boletim referia que estes cenários alternativos “ilustram os riscos significativos – em alta e em baixa – em torno da projeção”, pelo que a “materialização destes riscos continuará a estar dependente da evolução da pandemia e da implementação no curto prazo de uma solução médica eficaz em larga escala”. Um mês depois, a incerteza elevada não foi embora.
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