Eletrificação, biocombustíveis e captação de carbono. Como o novo CEO da Galp vê o futuro da energia
Andy Brown assume funções dentro de um mês, numa altura em que a petrolífera aposta na transição energética. Apesar do background no petróleo, gestor traz experiência nesse campo.
A petrolífera Galp Energia chamou um homem ligado à transição energética para novo CEO. Apesar da longa experiência ligada a uma empresa tradicional do setor, Andy Brown tem defendido o papel das petrolíferas no caminho global das energias limpas.
É britânico, engenheiro formado pela Universidade de Cambridge e desempenhou múltiplas funções durante 35 anos na Shell, período durante o qual trabalhou países como Nova Zelândia, Holanda, Brunei, Itália e Omã. E — a 19 de fevereiro — irá pôr fim a seis anos de Carlos Gomes da Silva na liderança da Galp, numa altura em que a empresa se debate com a sua posição no mercado. Enquanto investe fortemente nas energias renováveis, é o petróleo que sustenta o negócio.
“Como é que vamos fazer avançar este mundo que precisa de descarbonizado? Como vamos conseguir garantir que o mundo tem mais energia com menos CO2?”. As questões eram levantadas por Brown — na altura diretor de upstream da Shell, num discurso em novembro de 2017, sobre o futuro da energia.
"[A Shell] é uma empresa com um portefólio diversificado, mas as suas raízes são fundamentalmente o petróleo e gás. Penso que o papel de empresas como a Shell é por vezes incompreendido.”
A Shell, tal como a Galp Energia, é um dos players tradicionais do petróleo, mas já na altura estava envolvida com energia limpa, através da negociação de renováveis, da captura de carbono ou da criação de parques eólicos. “É uma empresa com um portefólio diversificado, mas as suas raízes são fundamentalmente o petróleo e gás”, dizia Brown. “Penso que o papel de empresas como a Shell é por vezes incompreendido“.
Voltando à questão de Brown, como é que se descarboniza? E o que é que uma petrolífera pode fazer para isso? “Essencialmente temos de eletrificar rapidamente, temos de cultivar biocombustíveis, temos de aumentar de forma massiva a captura e armazenamento de carbono“, explica o gestor, que não acredita no fim dos combustíveis fósseis, mas sim num maior peso da eletricidade. E os transportes são o maior exemplo disso.
Num outro discurso — anterior à pandemia, portanto com previsões desatualizadas –, Brown delineava o que seria o mundo dentro de duas décadas. “O cenário base é que teremos 170 milhões de veículos elétricos, em 2040, 10% da frota global. A eficiência energética nos carros vai ser mais importante do que o impacto da energia do veículo”, dizia o novo gestor da Galp, empresa que acaba de entrar no negócio do lítio, um importante componente para as baterias dos carros elétricos.
"[A Shell] é uma empresa com um portefólio diversificado, mas as suas raízes são fundamentalmente o petróleo e gás. Penso que o papel de empresas como a Shell é por vezes incompreendido.”
A eletrificação da economia não significa, no entanto, o fim das petrolíferas. “Onde acreditamos que haverá uma procura persistente de petróleo é na carga, no transporte marítimo, no transporte aéreo, com o mundo a crescer 3% a 4% ao ano e onde é muito mais difícil descarbonizar essas fontes. E com as outras fontes, podemos ver um mundo onde realmente a procura por petróleo pode aumentar. Bem, isto soa a uma desculpa para uma empresa de petróleo. Não é. É apenas a realidade”, defendia Brown há três anos.
Desde então, muito mudou e, no último ano, a pandemia atirou as economias para uma realidade completamente diferente, nomeadamente no que diz respeito à procura mundial por petróleo. O que não mudou é a dificuldade em incluir estes setores na transição energética, estando algumas experiências a serem feitas com o novo interesse de Brown: o hidrogénio.
Após a saída da Shell, o britânico tornou-se consultor de uma série de projetos, incluindo da ZeroAvia, uma startup ligada ao hidrogénio verde e às células de combustível para aviação. Na Galp, irá acompanhar a criação de uma central de produção de hidrogénio verde em Sines (num consórcio com a EDP, a REN, a Martifer e a dinamarquesa Vestas). Numa primeira fase, está prevista a instalação de um projeto-piloto de 10MW de eletrólise que, ao longo da década, poderá evoluir até 1GW de capacidade de eletrólise.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Eletrificação, biocombustíveis e captação de carbono. Como o novo CEO da Galp vê o futuro da energia
{{ noCommentsLabel }}