Após mudança “surpresa”, experiência do novo CEO da Galp no Brasil é aplaudida
Reação inicial em bolsa foi de receio face a um eventual conflito interno, mas os analistas esperam que haja continuidade e que o novo CEO não comprometa a estratégia definida pela empresa.
A Galp Energia está prestes a mudar de CEO. Carlos Gomes da Silva vai sair quase dois anos antes do tempo, numa decisão que está a ser vista como surpreendente e eventualmente relacionada com um conflito com os acionistas. Quanto ao novo líder, Andy Brown, é aplaudida a experiência — especialmente no Brasil — do gestor, que terá pela frente o desafio da transição energética.
“A saída de Carlos [Gomes da Silva] é uma surpresa. A nossa lista dos últimos 100 anos de grandes CEO da energia mostra que cada um fica no cargo, em média, durante nove anos. Carlos foi CEO cerca de seis anos, tendo assumido funções em abril de 2015, colocando um fim antecipado ao mandato, o que nos apanhou de surpresa e, acreditamos, ao mercado também“, aponta uma nota do Bernstein, assinada por Oswald Clint e Robert Heywood.
“Saídas antecipadas têm, de forma geral, dois tipos de causa: razões pessoais ou conflitos internos. Consideramos que o caso de Carlos Gomes da Silva e da Galp é o segundo“, dizem. A “ideia divergente” entre o gestor (que fica em funções até 19 de fevereiro) e o principal acionista, a família Amorim, centra-se no ritmo de transição energética.
"Saídas antecipadas têm, de forma geral, dois tipos de causa: razões pessoais ou conflitos internos. Consideramos que o caso de Carlos Gomes da Silva e da Galp é o segundo.”
A “surpresa” é partilhada pelos analistas do CaixaBank / BPI e do Caixa Banco de Investimento (BI). “É uma mudança inesperada, tendo em conta que o mandato de Carlos Gomes da Silva terminava apenas em dezembro de 2022 (i.e. estava no meio do segundo mandato). O anúncio imediato de um novo CEO sugere que a decisão foi tomada antecipadamente“, dizem os analistas do banco espanhol.
Na bolsa de Lisboa, as ações da petrolífera reagiram em conformidade: cederam 2,6% para 9,262 euros na primeira sessão após o anúncio oficial da mudança de CEO. A perda de capitalização bolsista pela empresa é, aliás, um dos desafios com o qual o novo CEO terá de lidar. Em 2020, a Galp perdeu 41% do valor, para menos de 7 mil milhões de euros. Apesar da reação inicial à decisão e dos receios face a um possível conflito interno, os analistas não veem com maus olhos a escolha de novo CEO.
Desempenho da Galp no PSI-20
Novo CEO não deverá comprometer estratégia definida
O britânico Andy Brown é um veterano do petróleo, tendo estado 35 anos na Shell. “Para a estratégia do grupo, poderá estar nas cartas com este movimento uma aceleração nos investimentos em fontes de energia limpa. A expectativa é que o novo CEO Andy Brown traga uma visão internacional mais abrangente ao setor da energia para acelerar a transição da Galp“, acrescenta o CaixaBank / BPI.
A experiência de Brown — que teve uma passagem pela reforma (depois de sair da Shell em 2019 esteve como consultor em várias organizações) — foca-se essencialmente no upstream, que dirigia na petrolífera britânica, mas também do negócio brasileiro. “Dado que a maioria da produção da Galp vem do pré-sal do Brasil, e que estes ativos têm uma sobreposição significativa com a Shell, antecipamos que Andy os conheça bem“, aponta Biraj Borkhataria, managing director da RBC Capital Markets.
"Dado que a maioria da produção da Galp vem do pré-sal do Brasil e que estes ativos têm uma sobreposição significativa com a Shell, antecipamos que Andy os conheça bem.”
Apesar do reforço do investimento em renováveis, é o petróleo, especialmente do Brasil, que sustenta as contas da empresa. A relação de Brown com a brasileira Petrobras (parceira da Shell) reforça a expectativa dos analistas sobre o novo CEO. Em simultâneo, o britânico tem-se especializado, nos últimos anos, no hidrogénio, o que poderá também vir a ser importante para a estratégia da petrolífera.
“A Galp mantém-se como um dos poucos nomes do setor que pode substancialmente reduzir o capex a curto prazo sem ter um impacto material nos volumes“, lembra ainda Borkhataria. Tanto o RBC Capital Markets como o CaixaBI vê a decisão como neutra para a ação.
“Neste momento, assumimos um posicionamento neutral em relação a estas notícias, sublinhando que a empresa deverá seguir o plano de negócio apresentado no passado e que o novo CEO é um agente experiente no setor“, acrescenta o banco de investimento português. “O facto de a indústria estar a enfrentar um momento decisivo de transformação deverá ter tido um papel importante neste desenvolvimento”.
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