60% dos portugueses acreditam que Trump danificou sistema político dos EUA
A maioria dos portugueses não tem boa impressão do sistema político norte-americano. Mas também são muitos os que estão satisfeitos com a nomeação de Joe Biden.
A cadeira da Presidência dos Estados Unidos recebe esta quarta-feira um novo ocupante, mas os últimos quatro anos deixaram marcas no sistema norte-americano. O mandato de Donald Trump foi dos mais polémicos, mas dividiu opiniões. Nas vésperas da sua saída da Casa Branca, uma sondagem feita para o European Council on Foreign Relations (ECFR) tentou perceber como olha a Europa para os Estados Unidos, concluindo que a maioria dos portugueses acredita que Donald Trump foi prejudicial, ao mesmo tempo que está satisfeita com a nomeação de Joe Biden para Presidente.
A maior parte dos países do sul da Europa acredita que o sistema político europeu está abalado, enquanto a maior parte dos países do norte da Europa e da Europa Central acredita que o sistema funciona normalmente. Estes dados são importantes porque, como refere o ECFR (conteúdo em inglês), “as opiniões das pessoas em relação ao sistema político da União Europeia (UE) muitas vezes parecem estar relacionadas com as opiniões sobre o sistema político do seu próprio país“.
Os mesmos dados mostram ainda que, no norte da Europa, a maioria dos cidadãos acredita que o sistema político nacional está a funcionar normalmente, enquanto em países como Espanha, Itália e França se acredita que o próprio sistema político e da UE estão abalados. Contudo, aqui, destacam-se três exceções: Polónia, Portugal e Hungria, onde a maioria das pessoas considera que o sistema político nacional está abalado, mas olham para Bruxelas como uma salvação, lê-se no artigo.
E em relação aos Estados Unidos? O que pensam os países e, sobretudo, os portugueses? A sondagem da DataPraxis e do YouGov para o ECFR conclui que, “embora os europeus sejam mais positivos em relação à UE, são muito pessimistas em relação aos Estados Unidos”.
Vamos a números. Mais de seis em cada dez entrevistados em 11 países (incluindo Portugal) acreditam que o sistema político dos Estados Unidos está em parte ou completamente abalado. Numa análise mais fina, a sondagem mostra que 25% dos portugueses consideram que o sistema político norte-americano está completamente danificado, enquanto 35% classificam como “em parte danificado”. Ou seja, 60% dos inquiridos lusos nota um dano. Enquanto isso, apenas 33% dos portugueses acreditam que o sistema funciona normalmente.
Esta opinião de muitos europeus, que consideram que o sistema político norte-americano foi prejudicado, parece fazê-los duvidar de que os Estados Unidos sejam capazes de voltar a assumir a liderança mundial, tal como Joe Biden prometeu quando referiu: “A América está de volta”, refere a ECFR. Isto porque 51% dos inquiridos não acredita que com Joe Biden na Presidência, os Estados Unidos possam “restaurar” algumas das suas fragilidades internas e investir na resolução de problemas internacionais, como a paz no Médio Oriente e as relações com a China.
Aliás, por falar em China, a maioria das pessoas (seis em cada dez entrevistados) também é da opinião de que, dentro de dez anos, a China tornar-se-á mais poderosa do que os Estados Unidos. Isso nota-se, sobretudo, em Espanha (79% dos inquiridos a pensar assim), mas também em Itália e em Portugal, com 72% das pessoas a concordar com isso.
A pouca confiança na importância dos Estados Unidos também tem vindo a mudar a forma como os europeus se relacionam. Esta é uma das quatro consequências políticas que a “fraqueza norte-americana” acarreta (uma segunda é, por exemplo, a vantagem que a China levará sobre os Estados Unidos, como referido acima). À medida que os países vão perdendo a confiança em Washington, começam a olhar para outros potenciais parceiros.
E, neste ponto, a mesma sondagem mostra que países como França, Espanha, Dinamarca, Holanda, Portugal e Hungria têm mais probabilidades de escolher a Alemanha como o país mais importante para construir um relacionamento, ao invés dos Estados Unidos. Apenas a maioria dos inquiridos do Reino Unido, da Polónia, de Itália e da Suécia continuam a preferir os Estados Unidos sobre a Alemanha.
Apesar disso, são muitas as pessoas que continuam a confiar no poder dos Estados Unidos para dividir a UE. De todos os inquiridos portugueses, a maioria considera que os Estados Unidos são mesmo o país mais capaz de provocar uma divisão na UE, à frente da China e do Reino Unido.
Por fim, esta sondagem permitiu outras conclusões interessantes. Mais de 50% dos portugueses confia nos Estados Unidos para tomar as decisões mais acertadas durante as eleições presidenciais. Contudo, há ainda 30% que acredita que é possível confiar nos norte-americanos depois de Donald Trump ter sido eleito, em 2016. Esta percentagem compara com outros 30% que acreditam que não se devem confiar nos norte-americanos depois disto.
Até porque a sondagem também mostra que 70% dos portugueses considera que os Estados Unidos vão no bom caminho depois de terem eleito Joe Biden e que seguiria por um mau caminho com Donald Trump. Destaque ainda para 60% dos inquiridos lusos que acreditam que o mundo é um lugar pior depois da presidência de Donald Trump.
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