Da retenção de talento à diversidade ou às alterações climáticas. Estes são os desafios que os “novos” líderes têm pela frente
Hoje em dia, os bons líderes são aqueles que são capazes de conciliar a performance organizacional com o progresso da sociedade. E os desafios são vários.
Diversidade e inclusão, bem-estar no local de trabalho, ambiente digital, preocupações ambientais e sociais são apenas algumas das questões que estão na ordem do dia dos líderes e gestores das empresas. Ou, pelo menos, deveriam estar. Segundo o relatório “Desafios paradoxais de gestão 2020”, esta sexta-feira divulgado, os bons líderes são capazes de conciliar performance organizacional com o progresso da sociedade. E os desafios atuais são vários, começando desde logo com a dificuldade de reter talento.
Tomé Salgueiro, investigador responsável por este relatório, afirma, com base nas entrevistas aos líderes que permitam este a realização deste relatório, que as gerações mais recentes são “pouco resilientes na fase inicial das suas carreiras”. “Ao contrário de gerações passadas que preferiram um emprego para a vida, esta geração parece saltar do barco rapidamente se não estiver satisfeita”, conta à Pessoas/ECO.
Gerações movidas pela missão
São a geração do propósito, da missão e dos valores, “procuram identificar-se com uma missão muito cedo na sua carreira e se não estiverem satisfeitos rapidamente saem e procuram outras alternativas de emprego”, continua. Para as empresas, esta nova cultura e características dos colaboradores das gerações Y (também conhecida como millennials) e Z — tão diferentes das gerações anteriores — apresentam-se como um enorme desafio para os líderes, sobretudo no que toca a reter jovens talentosos.
Uma tarefa que é particularmente difícil se, “não lhes for dada responsabilidade dentro da estrutura da organização mais cedo do que era usual até aqui”, diz o investigador do Observatório de Liderança da Nova SBE. Por outro lado, torna-se também complicado reter talento se não existir um propósito claro para o trabalho do profissional, propósito esse que pode ser ecológico ou ambiental, por exemplo.
Está a ser difícil manter e preparar o talento e futuros potenciais líderes dentro das empresas em Portugal.
E a dificuldade de reter talento aumenta quando se compete, não só com organizações em território nacional, mas com todo o mundo. “Há uma geração de jovens portugueses com grande facilidade em aprender línguas e com elevados níveis de formação académica que rapidamente abraçam projetos no estrangeiro. Está a ser difícil manter e preparar o talento e futuros potenciais líderes dentro das empresas em Portugal”, afirma Tomé Salgueiro.
Saber lidar com a diversidade nas equipas é, neste sentido, também um dos grandes desafios que os líderes da atualidade têm pela frente. Quando questionados sobre diversidade nas suas organizações, todos os líderes entrevistados para o relatório reconhecem a sua importância; aliás, 70% acredita já fomentar uma grande diversidade nas suas equipas. No entanto, os líderes também concordam que não existe uma solução milagrosa que possa ser aplicada para assegurar a satisfação de todos, a toda a hora.
Diversidade, check. Mas, como lidar com ela?
Já não se trata apenas de incutir diversidade nas equipas mas, também, de saber lidar com ela, garantindo que cada colaborador é capaz de respeitar e trabalhar em harmonia e conjunto com o próximo, apesar das suas diferenças. “Já está na consciência destes líderes os benefícios e a necessidade de fomentar a criação de equipas diversas, mas o que não tem tido tanta atenção é o quão desafiante gerir estas equipas pode ser. No papel é fácil tentar ser diverso, mas a gestão de equipas com elementos tão diferentes pode ser mais complicada do que aparenta”, refere Tomé Salgueiro.
Embora a diversidade traga novas e diferentes opiniões e competências, é um assunto que deve ser gerido com cuidado. “Os líderes têm de ter inteligência emocional para lidar com todos. É uma dor de cabeça quando se trata de gestão, mas é uma grande vantagem”, lê-se no relatório.
Alterações climáticas na agenda dos líderes
Algo que ficou patente nas entrevistas foi a crescente necessidade de os líderes integrarem e aliarem o sucesso dos seus negócios ao progresso da sociedade, nomeadamente no que se refere à consciência ambiental e social. Praticamente todos os entrevistados (96%) mostraram-se sensibilizados e preocupados com as alterações climáticas causadas por ação humana e apenas um deles disse sentir que não estava a contribuir para uma sociedade mais sustentável do ponto de vista ecológico. Mas, apesar de os líderes estarem preocupados com as questões ecológicas, muitos sentem que, para trazer este tema para o núcleo da empresa, há que acelerar a mudança e a transformação.
Para Tomé Salgueiro, para estarem no centro ou no propósito das empresas, as questões climáticas continuam, em primeiro lugar, a ter que fazer sentido financeiramente para estas organizações. “Já não é tanto um imperativo moral, mas os líderes só tomarão decisões mais verdes quando estas não puserem em causa a sustentabilidade financeira da organização”, explica, acrescentando que, na verdade, cada vez mais as organizações têm de se adaptar aos princípios morais das novas gerações, sob pena de perderem o novo talento, que se recusa a trabalhar para empresas sem valores.
Repensar a forma de fazer negócio torna-se, assim, crucial. Não mudar nada pode trazer sérias consequências financeiras e para a sustentabilidade do futuro das empresas. “Estas mudanças green estão a deixar de ser só motivadas por um qualquer hipotético sentido de imperativo moral, mas estão rapidamente a passar a ser uma questão de sobrevivência, com sérias consequências financeiras e na atração do talento, se não forem endereçadas“, continua o investigador responsável pelo relatório.
O papel dos “novos” líderes
A cultura organizacional, a confiança, a aprendizagem conjunta e a colaboração são alguns dos fatores que os atuais líderes devem ter em mente. “Um líder inteligente estará consciente de que manter um equilíbrio representa um esforço constante e contínuo”, pode ler-se no relatório.
Já no que diz respeito às competências, para os líderes entrevistados, resiliência, curiosidade, pragmatismo, otimismo sóbrio, ambição, coragem e humildade são as principais skills que não devem faltar aos “novos” líderes dos tempos atuais.
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