Há uma frequência que todos querem no leilão do 5G. Preço já disparou mais de 400%
O único lote nos 2,1 GHz disponível no leilão da Anacom já viu o seu preço disparar por cinco... e nem sequer é (ainda) uma frequência 5G. Mas também há um lote que nenhuma operadora quer.
O leilão é para a quinta geração, mas há uma frequência que é de 3G (será de 5G mais tarde) cujo preço já multiplicou por cinco. O interesse das operadoras no único lote disponível na faixa dos 2,1 GHz, que numa fase inicial nem estava para fazer parte do processo, levou o seu valor a bater os 10,616 milhões de euros, quase 431% mais do que o preço de reserva que tinha sido definido pela Anacom.
Se não sabe do que estamos a falar, explicamos: está a decorrer desde meados de janeiro o leilão de frequências que vai atribuir às empresas como a Meo, Nos e Vodafone os direitos para explorarem o 5G. Trata-se de uma nova geração de redes de comunicações móveis que promete acelerar a velocidade do acesso à internet e permitir ligações com menor latência.
Mas o procedimento não inclui só frequências para 5G. Também abrange outras frequências para reforço das redes atuais de quarta e terceira geração (4G e 3G). Em concreto, a faixa dos 2,1 GHz chegou a fazer parte do leilão de 3G há mais de 20 anos, altura em que a aquisição de direitos sobre esta frequência acarretava a aceitação de obrigações de cobertura de rede de terceira geração para as empresas do setor.
Ora, o interesse das operadoras na faixa dos 2,1 GHz está novamente em alta, como mostra a valorização acentuada do lote disponibilizado no leilão. A operadora que o conseguir adquirir deverá usar este bloco para reforçar a capacidade das suas redes atuais. Fonte do setor explica ao ECO que é uma faixa “importante para o 3G e 4G, porque dá mais capacidade à rede sem necessidade de grandes investimentos nela”.
Há, contudo, outro fator que pode explicar o interesse nesta faixa. O relatório da consulta pública sobre o regulamento do leilão tem uma pista. Nele, a Anacom recorda que a faixa dos 2,1 GHz (a par dos 2,6 GHz e dos 26 GHz) é uma das faixas que serão usadas para 5G, eventualmente, no curto ou médio prazo: “A UE [União Europeia] já adotou as respetivas decisões de harmonização das condições técnicas para a utilização de redes 5G nas faixas dos 2,1 GHz, 2,6 GHz e 26 GHz”, lê-se no documento.
Assim, a faixa dos 2,1 GHz ainda não é uma faixa “relevante” para 5G (formalmente, são apenas os 700 MHz, onde funcionava a Televisão Digital Terrestre, e os 3,6 GHz). Mas é já vista como importante num futuro próximo das redes de quinta geração. Por isso, a harmonização das condições na UE deverá explicar também o facto de os lotes nos 2,6 GHz estarem igualmente a registar fortes subidas no leilão, com valorizações que vão dos 68% até cerca de 145%.
Desconhece-se a identidade das empresas que licitaram pelo único lote nos 2,1 GHz, embora uma delas deva ser a Nos. Na decisão das faixas a incluir no leilão, a Anacom escreveu — preto no branco — que a inclusão dessa faixa no leilão foi um pedido concreto da operadora liderada por Miguel Almeida. Desconhecendo o interesse nessa faixa, o regulador decidiu incluir a mesma no leilão, “permitindo à Nos ou a outros eventuais interessados a aquisição desse espetro de forma transparente e não discriminatória”.
Situação atual da faixa dos 2,1 GHz
Há também uma frequência que ninguém quer
Em contrapartida, há também uma frequência 5G que ninguém quer. Trata-se de um dos seis lotes na faixa dos 700 MHz, o único em todo o leilão que não tinha sido alvo de qualquer licitação até esta terça-feira.
O lote designado por “A2” é um bloco de 10 MHz na faixa que foi libertada para a quinta geração — e não é barato. Por ser um dos mais relevantes para o arranque da quinta geração em Portugal, a Anacom estabeleceu um preço de reserva de 19,2 milhões de euros, em linha com os restantes seis disponibilizados no leilão nesta frequência. Contudo, até ao momento, nenhuma empresa lhe piscou o olho.
De resto, a faixa dos 700 MHz tem sido a menos concorrencial de todas do ponto de vista das licitações. Todos os restantes lotes foram alvo de licitações ao preço de reserva e nenhum deles viu o preço mexer desde o primeiro dia do leilão.
Vale a pena recordar que, em 2019, num painel inserido no congresso anual da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), Filipa Carvalho, diretora jurídica e de regulação da Nos, levantou o véu às necessidades de espetro das operadoras para o 5G, numa altura em que a escassez de espetro era a principal preocupação.
“Para entregarmos a dita revolução tecnológica, a transformação digital que está no Programa de Governo e na boca de toda a gente, precisamos de 10 MHz, na faixa dos 700 MHz, e de 100 MHz nos 3,6 GHz. Para o 5G, como é pretendido por toda a gente, cada operador tem de ter isto”, afirmou a responsável na altura.
Nesse mesmo congresso, o presidente executivo da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, estimou que as operadoras necessitem, no total, de entre 80 a 100 MHz de espetro para poderem lançar redes 5G com qualidade.
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