Mário Centeno a favor do prolongamento das compras de emergência do BCE
O Governador do Banco de Portugal defende que "a previsibilidade na adoção das medidas de política monetária é um ativo importante e será sempre preservado".
O Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, considera que as últimas medidas tomadas pelo Banco Central Europeu são totalmente adequadas e que os programas de compras de emergência devem prolongar-se por mais um ano, como foi decidido.
“Os últimos dados conhecidos sustentam a total adequação das últimas medidas do BCE, decididas em dezembro de 2020. As decisões tomadas em dezembro de 2020 têm um horizonte de implementação longo, ultrapassando 2021 e no caso dos Programas Compras de Emergência prolongando-se até março de 2022, com montantes reforçados e com a mesma flexibilidade operacional”, afirmou Mário Centeno à Lusa.
Para o Governador do Banco de Portugal, “a previsibilidade na adoção das medidas de política monetária é um ativo importante e será sempre preservado”.
O comentário de Mário Centeno surgiu depois de declarações do Governador do Banco Central Alemão, Jens Weidmann, que numa entrevista ao jornal Augsburger Allgemeine, disse que “a política monetária apertará as rédeas se as perspetivas de preços assim o exigirem”, quando questionado sobre a possibilidade de o BCE poder travar a atual política monetária expansionista.
O alemão advertiu, contudo, que “se as taxas de inflação subirem na zona euro, estaremos de novo a discutir a direção fundamental da política monetária”. “Neste momento, porém, o foco [da política monetária] está no combate às consequências da pandemia”, razão pela qual “a política monetária se tornou, mais uma vez, mais expansionista”, declarou ainda Jens Weidmann.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, foi perentória, ao garantir, em Davos, que o BCE está disposto a continuar a comprar dívida, mas também a não utilizar integralmente a dotação do programa “se as condições de financiamento se mantiverem favoráveis”.
Para Centeno, “o BCE acompanha a evolução dos preços e da atividade económica na área do euro com toda a atenção e profundidade, adotando medidas de política monetária quando a análise desses dados e da situação económica o justifica”. E reafirma: “Sublinhe-se que as medidas de política monetária são adotadas para o conjunto da área do euro e não tendo em consideração somente um país”.
A entrevista do homólogo alemão de Centeno tem relevância na medida em que admite que a taxa de inflação na Alemanha até ao final de 2021 “deverá estar acima dos 3%”, mas que “isso será apenas temporário”, embora considere que “a taxa de inflação não permanecerá tão baixa como no ano passado durante muito tempo”.
O BCE está a realizar uma revisão da sua estratégia de há longos anos, abordando nomeadamente a questão das prioridades. O objetivo atual é manter a inflação num valor abaixo, mais perto, de 2%, e só depois surge a contribuição para o crescimento económico e a sustentabilidade.
Os tratados europeus atribuem ao banco central o “objetivo primordial” de manter a estabilidade dos preços, com uma taxa de inflação positiva, baixa e estável. Nos últimos anos, a inflação na União manteve-se baixa (1,4% em janeiro de 2020) , mas devido à pandemia passou a apresentar dados negativos (-0,3% em dezembro de 2020), mas a instabilidade de toda a situação pode levar a um aumento súbito da inflação.
Jens Weidmann admitiu, aliás, na citada entrevista, que a taxa de inflação na Alemanha até ao final de 2021 “deverá estar acima dos 3%”, mas que “isso será apenas temporário”, embora considere, que “a taxa de inflação não permanecerá tão baixa como no ano passado durante muito tempo” – um cenário que a própria Lagarde já admitiu publicamente.
Tal situação poderia levar a uma pressão dos mercados sobre a continuidade das medidas do BCE, o que colocaria pressão sobre os países mais frágeis da zona euro, como Portugal.
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