O Projeto E+C – Economia Mais Circular da CIP terá quatro fases, a duração de um ano, e será apoiado no terreno por uma ferramenta que aplica a metodologia Circulytics da Fundação Ellen MacArthur.
A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) lançou recentemente, em parceria com a EY-Parthenon, o Projeto E+C – Economia Mais Circular, que diz ser “o maior e mais completo estudo sobre Economia Circular em Portugal”, em estreita colaboração com as empresas.
O estudo terá quatro fases, a duração de um ano, e será apoiado no terreno por uma ferramenta que aplica a metodologia Circulytics da Fundação Ellen MacArthur, e que realiza a medição de fluxos de materiais, dá informações sobre todas as operações circulares, identifica áreas para melhorias imediatas e destaca oportunidades para a inovação estratégica.
Além de fazer um levantamento do estado da arte da Economia Circular em Portugal – identificando as boas práticas já adotadas e os projetos em curso – o projeto E+C procurará estimular a adoção de uma metodologia de medição da circularidade nas empresas portuguesas, já amplamente testada a nível internacional.
Para começar, o projeto Economia Mais Circular vai realizar um diagnóstico sobre as barreiras ao aprofundamento da Economia Circular nas empresas em Portugal e depois vai aplicar então a ferramenta Circulytics a um grupo restrito de empresas nacionais interessadas em participar. Na prática trata-se de uma metodologia que ajuda a documentar os pontos fortes de uma empresa e a realçar as áreas a melhorar.
“Medir a progressão das economias em matéria de Economia Circular e de maturidade das empresas em termos de Circularidade continua a ser um enorme desafio em todo o mundo, pelo que a democratização de ferramentas como a Circulytics é importante”, explicou Hermano Rodrigues, Principal da EY-Parthenon, na apresentação do projeto.
“Se não formos capazes de medir as problemáticas em que queremos intervir, dificilmente conseguiremos saber onde estamos e decidir para onde queremos ir. Pelos indicadores indiretos de circularidade que existem disponíveis, Portugal tem ainda uma enorme margem de progresso na Economia Circular, podendo capitalizar enormemente o seu potencial para gerar resultados nas empresas e na sociedade”, sublinhou ainda Hermano Rodrigues.
Ao ECO/Capital Verde, Jarkko Havas, Lead Insights & Analysis da Fundação Ellen MacArthur e criador da Circulytics explicou em oito respostas no que consiste esta ferramenta e como ajudará as empresas portuguesas nos próximos 12 meses (que durará o estudo da CIP) a serem mais circulares, tendo em conta que apenas 8,6% da economia portuguesa é hoje, de facto, circular.
1. Como foi o processo de criação da ferramenta Circulytics, que pode ser usada por empresas de todo o mundo?
Esta foi uma necessidade expressa pela rede de empresas da Fundação Ellen MacArthur, que precisava de uma ferramenta para medir de forma fiável a sua evolução rumo a uma forma circular de fazer negócios. Depois de definir o desenvolvimento da Circulytics como uma prioridade, envolvemos esta rede de empresas no processo de criação desde o primeiro dia para garantir que a ferramenta possa ser utilizada em situações do mundo real. Mais de 30 organizações contribuíram para o desenvolvimento da Circulytics.
2. A ferramenta está concluída ou em constante desenvolvimento?
O desenvolvimento da Circulytics é liderado pela Fundação Ellen MacArthur Foundation, mas mais de 30 empresas contribuíram, tanto com o conteúdo como com o processo de avaliação, para garantir que a ferramenta seja relevante e utilizável em diferentes contextos de negócios. Iremos melhorá-la continuamente. Atualmente, estamos a trabalhar na versão 3.0 (que lançaremos em outubro de 2021) que inclui, por exemplo, um link entre os resultados da Circulytics e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
3. Que feedback deram empresas como a Ikea, Unilever, Solvay, para a criação da Circulytics?
Geralmente, as empresas que se inscrevem para usar o Circulytics estão ansiosas para usá-la e fazem comentários muito construtivos que nos permitem continuar a melhorar a experiência e o próprio método.
4. Que tipo de ajuda as empresas pedem para serem mais circulares em seus processos?
Um dos desafios para muitas empresas é entender os aspetos da economia circular e os fluxos de materiais. Por exemplo, qual é a participação da matéria-prima secundária na fabricação? Frequentemente, precisam de ajuda para entender o que são fluxos circulares de materiais e como usar os dados de que dispõem para avaliá-los. Tendo feito este exercício uma vez, é fácil fazê-lo uma segunda e uma terceira vez, a fim de acompanhar o progresso.
5. Quão importante é para as empresas terem indicadores e métricas circulares nos seus negócios?
As empresas estão a perceber cada vez mais a pressão para mudar para formas mais circulares de fazer negócios. Isso é impulsionado pelo aumento dos custos das matérias-primas e pelo cenário de políticas em rápida evolução, especialmente na UE. Particularmente no pós-crise da Covid-19, muitas empresas estão à procura de criar estratégias para um melhor crescimento que também beneficie a sociedade e o ambiente. E estão a adotar a economia circular como uma estrutura que enfrenta desafios globais, como mudanças climáticas, resíduos e poluição e perda de biodiversidade. A implementação de atividades de economia circular significa que é preciso ser capaz de medir o sucesso de forma confiável. Quase 1.000 empresas até hoje já percebem essa importância.
6. Que vantagens têm as empresas que já usam a ferramenta Circulytics, que agora vem para Portugal?
As empresas encontram diferentes tipos de valor ao usar a Circulytics. As empresas querem ter um desempenho melhor na economia circular, por muitos motivos, desde dar prioridade estratégica à transição para a economia circular, até simplesmente ganhar vantagem comercial. Alguns exemplos de valor concreto que as empresas encontraram na avaliação são: usar a Circulytics para definir metas ambientais internas, envolver fornecedores em materiais compatíveis com a economia circular e envolver o CEO para discutir a importância estratégica da economia circular.
7. O que já se sabe sobre as empresas portuguesas e a sua circularidade?
Só este ano começámos a rastrear as empresas cadastradas pelo país de localização. Apenas sabemos que 60% das empresas que usa a ferramenta tem sede na Europa.
8. Em que medida a Circulytics ajudará as empresas portuguesas no futuro a uma Economia mais Circular?
É uma inovação termos a ferramenta em português (os outros idiomas são inglês, espanhol e chinês). A Circulytics é a ferramenta mais abrangente para as empresas medirem seu desempenho na economia circular. É gratuita e pode ser utilizado por qualquer empresa, independente do tamanho ou setor. Para muitas empresas, oferece uma maneira prática e valiosa de ajudá-las a tornarem-se mais circulares. Como em qualquer parte do mundo, as empresas portuguesas podem beneficiar da avaliação para conhecer o seu desempenho na economia circular hoje, e para perceber quais as áreas que poderão ser as mais importantes a trabalhar a seguir. As empresas mais avançadas na economia circular podem usar o resultado da avaliação para garantir que cobriram todos os aspetos de seus negócios e, por exemplo, envolver os seus fornecedores e clientes para promover ainda mais o conceito.
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Circulytics. Esta é a ferramenta que vai tornar as empresas portuguesas mais circulares
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