Depois da taxa negativa, Portugal paga 0,237% para emitir 625 milhões a 10 anos
Numa altura em que se assiste a um grande nervosismo nos mercados em torno da inflação, a yield exigida pelos investidores passou para "terreno" positivo. Em janeiro a taxa tinha sido negativa.
Depois de ter colocado pela primeira vez dívida a dez anos com juros negativos, Portugal volta a pagar para se financiar com Obrigações do Tesouro que atingem a maturidade em 2030. Numa altura em que se assiste a um grande nervosismo nos mercados em torno da inflação, a yield exigida pelos investidores acabou por passar para “terreno” positivo.
De acordo com dados da Reuters, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) aceitou pagar 0,237% para obter 625 milhões de euros através de títulos de dívida com maturidade em outubro de 2030, linha que continua a servir de referência para o prazo a dez anos.
Apesar de a procura ter sido de 2,3 vezes a oferta nesta maturidade, a taxa subiu, afastando-se dos -0,012% registados em janeiro, aproximando-se dos 0,329% pagos em setembro. No mercado secundário, a dívida a dez anos de Portugal está a ser transacionada com uma yield de 0,28%.
Na dívida com maturidade em 2027, na qual o IGCP colocou outros 625 milhões de euros, a taxa exigida pelos investidores caiu face ao último leilão comparável, mas é preciso ter em conta que esta operação foi realizada já em agosto de 2020. Dados da Reuters apontam para uma “yield” de -0,086% nesta maturidade.
Estas taxas obtidas neste duplo leilão, o segundo do género realizado pelo IGCP este ano, são baixas, mas não tão baixas quanto estavam há algumas semanas. “A subida das taxas da dívida soberana nacional, não está associada a um risco específico de Portugal, mas sim a um movimento que estamos a assistir em toda a dívida soberana europeia. As taxas da dívida soberana alemã que em janeiro estavam nos -0,60% subiram atualmente para os -0,299%”, explica Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa.
"As expectativas face a um maior crescimento económico, inflação mais elevada e retorno a uma normalidade económica, acabaram por justificar esta subida das taxas.”
Apesar de o Banco Central Europeu (BCE) manter a “bazuca” a funcionar, está bem menos ativa nos mercados de dívida da Zona Euro, o que tem levado a que as yields dos soberanos do euro tenham subido na sua generalidade.
Assiste-se, ao mesmo tempo, ao nervosismo dos investidores quanto à inflação. “Este movimento está diretamente associado a algum otimismo que os mercados estão a tentar antecipar, relativamente à abertura das economias e ao processo de vacinação que se encontra a decorrer. As expectativas face a um maior crescimento económico, inflação mais elevada e retorno a uma normalidade económica, acabaram por justificar esta subida das taxas“, nota o especialista do Banco Carregosa.
O agravamento dos juros exigidos pelos investidores acaba por acontecer por contágio do que se verifica no mercado de dívida dos EUA, com as treasuries a subirem perante receios com a inflação.
Os estímulos orçamentais de Joe Biden, associados à melhoria das perspetivas para a economia com a vacina contra a Covid-19, estão a fazer subir os preços, fazendo soar alarmes quanto à política monetária que será adotada. Apesar de a Fed afirmar que continuará a apoiar a recuperação, teme-se que possa estar para breve uma subida de juros.
Com juros de referência mais altos, os investidores, a nível global, acabam por exigir taxas mais altas para comprarem títulos de dívida. É uma forma de salvaguardarem a rentabilidade do investimento realizado.
(Notícia atualizada às 12h24 com o comentário do Banco Carregosa)
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