EUA levantam dúvidas sobre dados de ensaio clínico à vacina da AstraZeneca
Um instituto federal suspeita de que os dados do ensaio clínico da AstraZeneca no país estão "desatualizados", horas depois de a farmacêutica ter apontado que a vacina é eficaz contra a Covid-19.
As autoridades de saúde norte-americanas levantaram dúvidas sobre os resultados do ensaio clínico da vacina da AstraZeneca, anunciados pela empresa no início desta semana. Num comunicado, os responsáveis de saúde indicam que a farmacêutica terá recorrido a “informação desatualizada” que “pode ter dado uma perspetiva incompleta sobre a eficácia dos dados”. A empresa já se comprometeu a publicar novos dados “dentro de 48 horas”.
Na segunda-feira, a AstraZeneca avançou que a vacina desenvolvida em conjunto com a Universidade de Oxford tem uma eficácia de 79% contra o novo coronavírus, depois de testada num ensaio clínico nos EUA que envolveu 30 mil voluntários. Os dados recolhidos indicaram ainda que a vacina é eficaz em “pessoas de todas as idades”, incluindo idosos, e assegurou que nenhum dos participantes sofreu reações adversas ou teve de ser hospitalizado.
Contudo, já na madrugada de terça-feira, o Instituto Nacional para as Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID), uma entidade federal, emitiu um comunicado onde admite que os responsáveis de saúde estão “preocupados com a informação divulgada pela AstraZeneca”, apontando para a possibilidade de a farmacêutica ter “incluído informação desatualizada”. Apesar de a vacina já ter sido autorizada em mais de 50 países, ainda não foi admitida pelo regulador do medicamento dos EUA.
O instituto apela ainda a que a AstraZeneca trabalhe com as autoridades de saúde de forma a rever os dados iniciais sobre a eficácia da vacina contra a Covid-19, no sentido de assegurar que a informação é a “mais precisa” e “atualizada”.
Os resultados obtidos nos EUA e divulgados pela farmacêutica britânica na segunda-feira eram vistos como uma fonte de esperança para a vacina da Covid-19, depois de vários países europeus terem suspendido a sua administração por receio de uma eventual ligação, nunca comprovada, a um pequeno número de casos de surgimento de coágulos no sangue.
A suspensão tem minado a confiança dos cidadãos numa vacina que chegou a estar na frente da corrida e foi uma das principais apostas da Comissão Europeia. Bruxelas encomendou largos milhões de doses à empresa.
As dúvidas agora levantadas pelas autoridades norte-americanas poderão agravar ainda mais o problema de confiança na vacina das AstraZeneca, ainda que não se saiba exatamente a que dados “desatualizados” se refere o instituto.
Segundo a Agência Europeia do Medicamento (EMA), a vacina é “segura” e a administração da mesma nos Estados-membros da União Europeia, incluindo em Portugal, foi retomada esta semana.
AstraZeneca vai atualizar informação
Algumas horas depois da divulgação do comunicado pelo NIAID, a AstraZeneca comprometeu-se a atualizar os dados do ensaio clínico “dentro de 48 horas”. O prazo termina quinta-feira à tarde.
Respondendo às preocupações das autoridades de saúde, o grupo explicou que os dados que publicou no início da semana baseiam-se “numa análise interina” de informação atualizada até 17 de fevereiro. No entanto, assegura que reviu “a avaliação preliminar da análise primária e os resultados foram consistentes com a análise interina”.
“Vamos trabalhar imediatamente com o corpo independente de monitorização de dados de segurança para partilharmos a nossa análise primária com os dados de eficácia mais atualizados. Pretendemos divulgar os resultados da análise primária dentro de 48 horas”, indicou a AstraZeneca, citada pelo Financial Times (acesso pago).
(Notícia atualizada às 13h28 com reação da AstraZeneca)
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