Dinâmica das empresas vai passar pelo escritório mas não dependerá dele

  • Mário Rodrigues Pereira
  • 12 Abril 2021

“Personalização” é a palavra-chave e é, neste segundo grupo de empresas, onde a lógica de organização, gestão e utilização dos escritórios, terá necessariamente de mudar.

Olhar para o futuro do “escritório” através de uma só lente, apenas nos prepara para falhar redondamente na resposta que as empresas terão de dar aos desafios que este mesmo futuro (já muito próximo) lhes trará.

Em poucas semanas, dias em alguns casos, o presente contexto pandémico veio forçar um conjunto de alterações organizacionais que, em muitas empresas, iriam demorar anos a concretizar-se. E escrevo “demorar” com o específico propósito depreciativo da demora. Constatar que, apenas em cenário de emergência nacional e internacional, o trabalho remoto conseguiu encontrar espaço para sair de uma circunstância de quase tabu em muitas organizações, deve apelar, no mínimo, à nossa reflexão. Contudo, e voltando ao papel do escritório no futuro das empresas, o mesmo dependerá obviamente do contexto específico das mesmas.

Em empresas cuja presença de colaboradores num determinado espaço físico seja fator crítico e determinante para o desempenho das suas funções, não se preveem obviamente grandes mudanças, para além do contínuo investimento na melhoria das condições e benefícios associados ao espaço e à vivência do mesmo.

Nas empresas onde o contrário se verifique, isto é, onde o trabalho remoto seja possível com a ausência de impacto negativo para a performance da empresa, para a totalidade do universo de colaboradores ou parte do mesmo, é onde esta temática se hibridiza e ganha complexidade. E a razão é a seguinte: “sim”, o trabalho remoto veio para ficar; e “não”, o trabalho remoto não é para todos. E porquê? Porque alguns de nós são mais produtivos a trabalhar 100% a partir do escritório, outros 100% remotamente e ainda outros (como eu) que encontramos o ponto ideal na liberdade de trabalhar de forma intercalada em ambos. “Personalização” é a palavra-chave e é, neste segundo grupo de empresas, onde a lógica de organização, gestão e utilização dos escritórios, terá necessariamente de mudar.

Estas empresas terão uma menor necessidade por serviços associados à gestão operacional do espaço, isto porque, em cada momento o número de pessoas presentes no escritório(s) será necessariamente menor. A reorganização do mesmo, deverá acomodar um aumento de zonas de trabalho em hot-desking ou mesmo a conversão total das mesmas. Deveremos assistir adicionalmente a um aumento da área reservada a espaços de reunião e a zonas onde os colaboradores possam interagir pessoalmente de forma informal, com uma provável redução do tamanho unitário em ambos os casos. A gestão holística do espaço basear-se-á em ferramentas de gestão que possibilitem um certo self-service no acesso a todos os espaços, serviços e benefícios que o “escritório” terá para nos oferecer. Por último, vamos assistir à massificação da presença de tecnologia nos escritórios, um certo Smart Office Movement.

Apesar de termos assistido a alguma profetização relativamente ao fim dos escritórios como resultado de uma certa massificação do trabalho remoto, a mesma não poderia estar mais equivocada. No entanto, subscrevo sim o fim do “escritório” como a maioria de nós o conhece, como o núcleo absoluto de toda a dinâmica organizacional e social das empresas. O conjunto das novas práticas relacionadas com a gestão de talento, performance corporativa e lógica organizacional exigida por esta nova realidade, merece por si só um artigo próprio.

*Mário Rodrigues Pereira é Talent Acquisition Manager na Farfetch.

  • Mário Rodrigues Pereira

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