Diferença de preços dos autotestes chega a superar os 100%
Ao contrário do que aconteceu com as máscaras e geles desinfetantes, o Governo não limitou a margem dos testes rápidos. E há já casos em que o mesmo teste chega a custar duas vezes mais.
Os autotestes de despiste à Covid-19 já estão a ser vendidos em algumas farmácias e noutros locais autorizados à venda de medicamentos (não sujeitos a receita médica). Apesar do apelo do Presidente da República, e ao contrário do que aconteceu nas máscaras e geles desinfetantes, o Governo não definiu qualquer limite de preços destes artigos. Por isso, há diferenças substanciais de preço para o mesmo teste. Chegam a superar os 100%, podendo chegar a 200%.
O Infarmed publicou recentemente a lista dos testes rápidos de antigénio autorizados a serem vendidos em farmácias e parafarmácias, a pessoas com idade igual ou superior a 18 anos. Até agora, há apenas uma marca autorizada. Em causa está o teste “SARS-CoV-2 Rapid Antigen Test Nasal” fabricado pela empresa sul-corenana SD Biosensor e distribuído em Portugal pela multinacional suíça Roche, sendo que o autoteste pode ser vendido a título individual ou em embalagens de 25 testes.
Esta medida “excecional” tem como objetivo acelerar a testagem em massa, tal como prometido pela ministra da Saúde no início de fevereiro. Face a esta decisão, o Presidente da República abriu a porta ao controlo dos preços dos testes da Covid-19, por forma a evitar especulações e açambarcamentos, como se verificou no início da pandemia com as máscaras e geles desinfetantes. “Podem ser adotadas medidas de controlo de preços e combate à especulação ou ao açambarcamento de determinados produtos ou materiais, designadamente testes ao SARS-Cov-2 e outro material médico-sanitário“, lê-se no decreto presidencial assinado por Marcelo Rebelo de Sousa.
E se no início da pandemia, o Governo decretou a imposição de um limite máximo de 15% na percentagem de lucro das máscaras e geles desinfetantes, depois de se ter verificado um aumento exponencial da procura por estes artigos e que levou a que os preços disparassem, até agora não há nenhuma indicação nesse sentido para os testes rápidos. Ou seja, as farmácias têm “carta branca” para estipular o preço dos testes rápidos, sendo que apenas têm que respeitar que estes artigos estão isentos de IVA, tal como o ECO avançou, uma vez que são considerados dispositivos médicos in vitro.
E se na maioria das 12 farmácias da Zona de Lisboa sondados pelo ECO, a maioria destes testes estão a ser vendidos entre 6,55 euros e 6,99 euros a unidade, há também alguns casos de discrepâncias elevadas de preços. Numa farmácia da zona de Benfica, o ECO comprou um teste individual por 15 euros. Se se comparar com o mesmo teste que está a ser vendido em alguns hipers e supermercados, através das marcas de bem-estar, a diferença é notória.
A Wells, por exemplo, está a disponibilizar estes testes por 6,99 euros, no caso de serem comprados individualmente, ou por cinco euros a unidade (quando comprados em caixas de 25 testes). Ou seja, se se comparar o preço à unidade, o teste comprado na farmácia de Benfica custa mais do dobro que o vendido na Wells. Já se se comparar com o preço da unidade na embalagem de 25 testes a diferença é ainda maior: o teste comprado na farmácia custa três vezes mais.
Também quando comparado com o Pingo Doce e a Auchan, a realidade é semelhante. A cadeia de supermercados do grupo Jerónimo Martins está a vender embalagens de 25 testes, sendo que cada unidade custa 6,79 euros. Contas feitas, é uma diferença de 8,21 euros face ao preço praticado na farmácia referida (cerca de 121% a mais).
Ao mesmo tempo, a Auchan está também a disponibilizar testes rápidos individuais por 6,99 euros (tal como acontece na Wells) ou, em alternativa, caixas de 25 testes, sendo que neste caso cada teste fica por 6,79 euros. Assim sendo, trata-se de uma diferença de cerca de 114,6% no caso dos testes comprados individualmente ou de cerca de 121% na opção de 25 testes.
Este foi, de facto, o caso mais flagrante em termos de discrepâncias de preços detetados pelo ECO. Não obstante, há algumas farmácias a vender o mesmo teste por um valor consideravelmente superior aos que estão a ser praticados pelas marcas de bem-estar dos supermercados. Numa farmácia da zona de Belém, o autoteste distribuído pela Roche chega a custar 9,50 euros. Contas feitas, cada cliente terá de desembolsar mais de 2,51 euros pelo mesmo teste caso tivesse comprado à unidade na Wells ou na Auchan (diferença de cerca de 29%).
A discrepância é ainda mais evidente quando comparado com o custo da unidade nas embalagens de 25 testes: trata-se de um diferença de de 4,5 euros (o dobro), caso a opção fosse a caixa de 25 testes da Wells, já o caso das embalagens de 25 testes da Auchan e do Pingo Doce, trata-se de uma diferença de 2,21 euros (mais 32,5%). Importa sublinhar que ao contrário do que acontece nas marcas de bem-estar dos supermercados –, em que o preço da por cada deste quando comprado em kits de 25 testes é mais reduzido do que quando comprado à unidade –, em todas as farmácias sondadas pelo ECO não há qualquer diferença no modelo de compra escolhido.
Numa outra farmácia da zona da Baixa lisboeta, cada autoteste está a ser vendido por 8,50 euros. Contas feitas, trata-se de uma diferença de 1,51 euros (21,6%) no caso dos testes comprados individualmente ou de, pelo menos 1,71 euros (25,2%) na opção de 25 testes do Pingo Doce ou Auchan, por exemplo.
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