Nova solução permite eliminar vírus em tecidos de colchões, lençóis e fronhas
Depois de vários ensaios e testes, o consórcio português descobriu uma formulação que, através de uma tecnologia sustentável – um ‘spray coating’ – permite eliminar vírus em tecidos de colchões.
Um projeto de investigação e desenvolvimento, promovido pela empresa Maroco e por dois centros portugueses, criou uma solução que permite, com recurso a uma tecnologia sustentável, eliminar vírus em tecidos de colchões, lençóis e fronhas, revelou esta sexta-feira o responsável.
Em declarações à agência Lusa, Miguel Costa, administrador da empresa especializada em produtos para a indústria de estofos em Paços de Ferreira, explicou que o projeto tinha como objetivo “aumentar o grau de segurança de produtos usados no setor hoteleiro”, nomeadamente, ao nível têxtil.
O projeto, intitulado ‘Safety4Guest’, iniciou-se há cerca de seis meses ao abrigo dos programas de apoio do Governo para o desenvolvimento de soluções contra a covid-19 e, além da Maroco, contou com a colaboração do Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes (CeNTI) e do Instituto Nacional de Engenharia Biomédica (INEB).
Depois de vários ensaios e testes, o consórcio português descobriu uma formulação que, através de uma tecnologia sustentável – um ‘spray coating’ – permite eliminar vírus em tecidos de colchões, lençóis e fronhas. A tecnologia de aplicação em spray é uma técnica emergente na indústria têxtil que se distingue por ser “mais ecológica quando comparada com outras técnicas convencionais” ao utilizar menos água, energia e matéria-prima.
Para validar a solução, os investigadores recorreram ao bacteriófago Fi6, que é estruturalmente semelhante ao SARS-CoV-2, mas que infeta “única e exclusivamente bactérias” e que reduz o risco para o utilizador, explicou Joana Barros, investigadora do INEB responsável pela avaliação das propriedades antivíricas associadas às amostras desenvolvidas pelo CeNTI e pela Maroco.
“Após recebermos as amostras, fazíamos a incubação da amostra com uma solução de vírus e incubávamos durante 24 horas. No final, quantificávamos o número de vírus que sobreviviam, permitindo assim obter a percentagem de inibição”, referiu.
Pelo INEB passaram, ao longo do projeto, cerca de seis tipos de têxteis e entre sete e oito formulações diferentes, sendo que “quanto menos composição o tecido tiver, mais disponível fica a formulação para exercer a sua função de inativação do vírus”, esclareceu Joana Barros.
Lorena Coelho, investigadora do CeNTI e que no âmbito do projeto foi responsável pelo desenvolvimento das formulações, salientou que os principais desafios foram “selecionar a formulação que teria desempenho” e a “própria tecnologia de aplicação em spray”.
“Um dos maiores desafios foi selecionar a formulação que teria este desempenho e outro foi a própria tecnologia de funcionalização em si porque é uma tecnologia que acaba por gastar menos matéria-prima, o que consequentemente nos dá menos quantidade de material do têxtil, e ter o mesmo desempenho comparativamente às outras tecnologias é um desafio”, disse.
Apesar dos desafios, o CeNTI identificou “algumas formulações com 100% de desempenho de atividade antivírica”, assegurou Lorena Coelho. A fórmula descoberta já foi testada em várias lavagens domésticas e “continua eficaz” após cinco ciclos de lavagem a 40 graus com um detergente comum, referiu Miguel Costa, acrescentando estarem, neste momento, a ser feitos testes “em máquinas industriais e a temperaturas mais altas”.
Com o foco no setor hoteleiro, o administrador da Maroco afirmou que esta solução permite transmitir “mais segurança às pessoas”. “Tudo o que quero é contribuir para que consigamos ultrapassar isto [pandemia] e que as pessoas comecem a sentir confiança”, disse, revelando estar à espera de uma reunião com a Direção-Geral da Saúde “para que o produto possa ser usado no tratamento da roupa dos profissionais de saúde”.
A validação da solução desenvolvida, segundo os requisitos exigidos pela indústria hoteleira e hospitalar está, neste momento, em curso. Segundo Miguel Costa, a Maroco tem “uma grande capacidade de produção e de aplicação” da solução desenvolvida, conseguindo fazer o tratamento “de 100 a 150 metros de tecido a cada dois minutos”. À Lusa, o administrador da Maroco revelou que o próximo objetivo por “dar proteção aos tecidos usados nas máscaras reutilizáveis (máscaras sociais)”.
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