Zero diz que hidrogénio é boa opção mas nem sempre eficiente
Para os ambientalistas “é uma boa opção no combate às alterações climáticas” desde que se esteja a falar de hidrogénio produzido a partir de fontes renováveis, tão sustentáveis quanto possível".
O hidrogénio verde é “sem dúvida” uma boa opção no combate às alterações climáticas, mas nem sempre é eficiente, diz o ambientalista Francisco Ferreira, que pede cuidado nas escolhas de energias renováveis.
Em entrevista à Lusa, a propósito da aposta por parte do Governo, que organiza dia 7 uma conferência sobre hidrogénio no âmbito da presidência do Conselho da União Europeia (UE), Francisco Ferreira alerta que nos próximos anos é preciso “ir selecionando o que é que faz mais sentido para, do ponto de vista da eficiência, fazer o maior uso do hidrogénio”.
“Esse é que é o nosso apelo. A Estratégia Nacional do Hidrogénio nem sempre é coerente, nalguns casos faz apostas que são más apostas pelas perdas de eficiência que envolvem no processo”, diz.
Licenciado em Engenharia do Ambiente, professor associado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova (FCT-Nova), Francisco Ferreira é também presidente da associação ambientalista Zero – Sistema Terrestre Sustentável.
E é nessa condição que afirma convictamente que o hidrogénio (um gás inflamável produzido pela separação da água em oxigénio e hidrogénio através de uma corrente elétrica) “é sem dúvida uma boa opção no combate às alterações climáticas” desde que se esteja a falar de hidrogénio produzido a partir de fontes renováveis, tão sustentáveis quanto possível.
A produção de hidrogénio verde (assim chamado se for produzido por essas energias renováveis) está em curso em Portugal e é, nas palavras de Francisco Ferreira, uma ferramenta para combater as alterações climáticas.
Mas acrescenta: “Há um aspeto absolutamente crucial: eu devo olhar sempre para todas as ferramentas que tenho disponíveis e escolher aquela que é mais eficiente e mais sustentável. O hidrogénio é adequado para muitas situações, mas não é comparativamente, por exemplo, com o uso da eletricidade renovável diretamente”.
Porque não é fácil armazenar energias renováveis, em setores associados ao transporte marítimo, aviação e transportes pesados, “o hidrogénio pode ser um vetor dessa energia a partir de fontes renováveis para ser aproveitada nestas situações”.
Ou seja, no futuro podem multiplicar-se os autocarros movidos a hidrogénio, e os barcos ou os aviões moverem-se assim. E Francisco Ferreira acrescenta ainda o setor da indústria.
Mas nos próximos anos, considera, os veículos ligeiros a bateria vão “vencer” o hidrogénio, tanto mais que hoje é fácil encontrar um posto de carregamento, ou mesmo carregar o carro em casa, e o hidrogénio “obriga a uma infraestrutura mais complexa e dispendiosa”.
“Onde tenho margem de manobra para o hidrogénio é nos veículos pesados e desejavelmente na navegação, na aviação. Não diretamente como hidrogénio, apesar de ele também poder ser utilizado, mas inclusivo como amónia, feita a partir de hidrogénio renovável”, salienta o professor e ambientalista.
Francisco Ferreira não concorda, no entanto, com outra aplicação que está planeada para o hidrogénio, a de adicionar uma pequena percentagem na rede de gás natural.
E explica porquê: “Ter um fogão e um esquentador em casa alimentado a gás natural com um bocadinho de hidrogénio é muito menos eficiente e mais poluente em termos de emissões de dióxido de carbono do que ter eletricidade a ser utilizada num fogão elétrico ou numa bomba de calor. Em muitos casos o uso da eletricidade é efetivamente mais eficiente”.
E é de eficiência que fala quando volta a lembrar os automóveis elétricos ligeiros. Há eficiência quando se capta energia solar ou eólica, se transforma em eletricidade e se carrega a bateria. Há muito menos eficiência quando se produz hidrogénio a partir da energia solar ou eólica para usar numa célula elétrica de combustível e assim gerar eletricidade no motor do carro elétrico (os motores de um carro elétrico ou a hidrogénio são idênticos).
Depois, acrescenta, há ainda o problema dos custos de produção de hidrogénio, que numa primeira fase terá de ser suportada economicamente para ganhar escala, além da grande quantidade de energia solar e eólica que vai ser precisa para a eletrólise. Vão ser precisos por exemplo grandes parques solares, e “não se pense que o solar e o eólico não têm impactos ambientais, porque têm”.
“Devo ter sempre princípios de eficiência para que não precise de ´alcatifar´ zonas do país sensíveis do ponto de vista natural e paisagístico, para depois perder o rendimento daquela produção à custa da produção de hidrogénio para usos onde a eletricidade era muito preferível”, avisa.
Francisco Ferreira é cauteloso mas não cético. Fala da “grande vantagem” de Portugal em termos de diferentes formas de produzir eletricidade, fala da possibilidade de o hidrogénio armazenar essa eletricidade, de ele poder ser transportado por exemplo em barcos movidos a hidrogénio, fala de postos de produção descentralizada e postos de abastecimento de hidrogénio.
E há perigo de explosões? O hidrogénio é perigoso? É, diz Francisco Ferreira. Mas acrescenta de imediato que haverá regulamentação e segurança para lidar com esse perigo.
Para Francisco Ferreira o processo que agora se inicia é “como os veículos elétricos”.
“Neste momento já ninguém põe em causa que vou deixar de vender veículos com motor de combustão, já foi assumido por todas as marcas. Pode ser em 2030, 2035, mas conseguiu-se chegar a esse ponto porque houve estímulos para a venda dos veículos”, houve imposições da UE para que os veículos emitissem cada vez menos gases com efeito de estufa.
Francisco Ferreira, professor, dirigente da Zero, não tem dúvidas. “E no caso do hidrogénio é exatamente a mesma coisa”.
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