MeterBoost quer ter fábrica de células de lítio em Portugal para tornar baterias 100% nacionais
"Ao ter uma fábrica de células de lítio, Portugal consegue fechar o ciclo, coisa que só a China neste momento consegue fazer em todo o mundo", disse Sérgio Rodrigues, CEO da MeterBoost.
Assume-se como a única empresa portuguesa a projetar, desenvolver e produzir baterias de lítio no país. A ideia nasceu em 2016, fruto da vontade de Sérgio Rodrigues instalar painéis solares em sua casa, com um sistema de armazenamento de energia acoplado. Depois de sucessivas avarias nas baterias, o empreendedor formado em Informática de gestão deitou mãos à obra e decidiu desenvolver o seu próprio modelo de baterias de lítio. Em 2019 nascia a MeterBoost, que conseguiu fechar o ano de 2020 já com uma faturação de um milhão de euros. Para 2021 a expectativa é mais do que duplicar este valor e chegar aos 2,5 milhões de faturação.
A empresa não revela valores de investimento para este ano, mas garante que “podem ser muito avultados porque é um ano bastante decisivo”, durante o qual vão ter novas instalações. Começaram por produzir 20 ou 30 baterias por mês e terminaram 2020 a fabricar cerca de 150 a 200. 2021 traz uma nova meta: chegar às 500 unidades. “Traduzindo isto em MW instalados, no ano passado conseguimos atingir 10 MW. Foi muito bom. Este ano é tentar superar 2020, mas em dobro. É tudo uma questão de investimento”, disse Sérgio Rodrigues, CEO da MeterBoost, em entrevista ao Capital Verde.
Apesar do selo made in Portugal exibido no site as baterias de lítio da MeterBoost ainda não são 100% fabricadas no país, mas quase. A empresa está agora a lançar o primeiro componente eletrónico — o Sistema de Gestão da Bateria (BMS – Battery Management System, no original, em inglês) — produzido a nível local, quando até recentemente vinha ainda da China. Quantas às células lítio, propriamente ditas, essas continuam a vir ainda da Coreia do Sul.
“É tudo feito cá, todo o processo produtivo. Só alguns componentes, nomeadamente, as células de lítio são importadas porque não existe ainda nenhuma fábrica em Portugal. Esperamos que nos próximos anos consigamos captar investimento para que se consiga fazer por cá uma destas fábricas de baterias, visto que vamos ter exploração e refinarias de lítio”, disse, revelando que já desenvolveu conversações com o Governo no sentido de “fechar a cadeia de valor cá em Portugal”.
Além das conversações sobre o lítio, a MeterBoost está também a colaborar em proximidade com o Governo para ajudar a rever a legislação do autoconsumo e comunidades de energia, para dar mais “clareza” ao consumidor.
“Nós estamos no fim da linha, no fabrico das baterias. Mas teríamos todo o interesse em estar presentes noutras partes da cadeia de valor. Queremos ter uma fábrica de construção de células de lítio. É uma ideia que está no ar, é um desafio que está lançado e andamos a estudar as possibilidades para o conseguir fazer. Ao ter uma fábrica de células de lítio, Portugal consegue fechar o ciclo, coisa que só a China neste momento consegue fazer em todo o mundo“, disse o CEO da MeterBoost.
Quanto ao valor do investimento necessário para ter uma fábrica de baterias de lítio em Portugal, o responsável diz que são “montantes muito elevados, que vão ter de envolver parceiros nacionais e internacionais”, algures na ordem dos 100 a 150 milhões de euros.
Na Europa, as fábricas de células de lítio estão ainda em construção e ficarão operacionais a partir de 2023-2025, com grande parte da sua produção já destinada para os grandes fabricantes de automóveis. O grupo Volkswagen, por exemplo, comprou 80% do capital social de uma das fábricas mais avançadas, para garantir fornecimento.
“Estão a entrar no mercado de forma muito agressiva em termos de procura e não há oferta que chegue para todos. Nós queremos especializar-nos no armazenamento de energia, por isso somos concorrentes”, explicou Sérgio Rodrigues, apontando a concorrência dos países asiáticos (ao nível da tecnologia e dos preços baixos) como uma das principais barreiras ao negócio. Outra é a escassez de células de lítio, os preços a aumentar e os prolongados tempos de entrega (42 semanas, em alguns casos), com os contratos dos fornecedores a não serem cumpridos. “Daí a urgência de termos uma fábrica em Portugal”, disse o CEO.
No mercado nacional, a empresa tem estado a posicionar-se no mercado do autoconsumo de energia elétrica e também no segmento residencial, estando a dar os primeiros passos na área industrial, que revela uma grande necessidade de sistemas de armazenamento de energia.
O preço de venda das baterias de lítio para o mercado anda abaixo dos 300 euros/KW, sendo o objetivo fazê-lo cair para metade — 150 euros/KW– nos próximos anos. “Ainda assim, se compararmos com os nossos principais concorrentes chineses, conseguimos ter preços competitivos para concorrer com eles”, garante. A MeterBoost vende baterias de lítio em Portugal e Espanha, e está a começar a explorar o Brasil e os países africanos de língua oficial portuguesa (Angola, Cabo Verde, entre outros), sobretudo no setor dos sistemas solares fotovoltaicos.
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