Centeno avisa que não se pode tornar permanentes medidas que “não vamos conseguir sustentar no futuro”
O governador do Banco de Portugal avisou esta quarta-feira que as medidas temporárias não podem tornar-se permanentes, correndo o risco de não se conseguir sustentá-las no futuro.
O governador do Banco de Portugal avisou esta quarta-feira que existe o risco de se “tornar permanente o que sempre foi temporário”. Na apresentação do boletim económico de maio, o qual reflete sobre o que aconteceu na economia portuguesa em 2020, Mário Centeno disse que “não podemos” correr esse risco porque essas são medidas “que depois não vamos conseguir sustentar no futuro”.
Em resposta aos jornalistas, o ex-ministro das Finanças recordou que a “a dívida pública aumentou muito em 2020”, mais do que na média da Zona Euro, e que “o endividamento das administrações públicas em Portugal é um tema que tem de ser levado muito a sério“. E é isso que justifica o porquê de Portugal não conseguir tornar permanente as medidas temporárias que introduziu durante a crise pandémica, explicou.
Para Centeno “as medidas [temporárias] devem ser mantidas enquanto o julgamento que é feito sobre a sua necessidade é mantido como positivo, [mas] depois devem ser retiradas“. Em causa estão medidas da “importância e da transcendência” como as que têm “impacto orçamental como o lay-off em que se prevê uma adaptação ao longo do tempo para o apoio à retoma”.
Mas este princípio também se aplica a medidas temporárias sem impacto direto no Orçamento do Estado, como é o caso da questão das moratórias, um tema que garante estar na “preocupação de todos e do Banco de Portugal”, referindo que está a desenvolver as respostas para o pós-moratórias. Esta é uma “medida claramente temporária e deve sofrer uma alteração para continuar a apoiar os setores que de forma exógena continuem limitados nessa altura”, argumentou o governador.
O ex-ministro das Finanças afirmou que “não podemos permitir que Portugal fique isolado no contexto europeu“, o que aconteceria caso houvesse um prolongamento das moratórias a nível nacional quando em vários países europeus estas já acabaram. Esta tem sido a ideia defendida por Centeno em intervenções anteriores sobre as moratórias, admitindo recentemente que há “decisões difíceis” a tomar no futuro próximo.
No início da sua intervenção, Mário Centeno classificou a crise de “temporária” e não “estrutural”, o que não aconteceu nas crises anteriores. O ex-governante diferenciou a situação que Portugal vivia antes desta crise e nos períodos anteriores a outras crises, argumentando que as empresas “eram viáveis e bem geridas” em 2019 e tinham maior capitalização e poupanças.
Numa mensagem geral de confiança face ao futuro, o também economista pediu que não se seja “derrotista” quando se olha para a economia portuguesa e citou os dados das exportações de bens, as quais já apresentaram um crescimento face a 2019 no início deste ano. “Este resultado em maio de 2020 não seria previsto por nenhum dos analistas”, disse, acrescentando que “devemos acreditar que no resto do tecido económico isso também vai acontecer”.
(Notícia atualizada às 12h32 com mais informação)
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