ISEG bate recorde de faturação e de alunos estrangeiros em plena pandemia

É ao som de Astor Piazzolla e Dino d’Santiago que o ISEG comemora este domingo 110 anos de vida: “É a escola de onde saíram os grandes economistas e os grandes gestores deste país”, diz Clara Raposo.

Foi a primeira escola de economia e gestão do país e nasceu um ano depois da Implantação da República. Chamava-se Instituto Superior de Comércio e hoje, 110 anos mais tarde, apresenta-se como ISEG – Lisbon School of Economics & Management.

A atual presidente recebeu o ECO no quarto andar do velhinho Quelhas, o antigo Convento de Santa Brígida, onde tem o seu gabinete. Conversámos com a economista sobre a atual conjuntura, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o fim das moratórias e, claro, sobre os 110 anos do ISEG.

“Isto é património nacional”. É com orgulho que Clara Raposo afirma que o ISEG é a escola “de onde saíram os grandes economistas, os grandes gestores do país, e sempre com aquele perfil de grande diversidade”. E dá vários exemplos: “o professor Cavaco Silva, o único economista que foi primeiro-ministro e Presidente da República, o Mário Centeno, o Francisco Louçã, o Joaquim Sarmento, na banca o Pedro Castro Almeida no Santander, o Paulo Macedo na CGD, o Pedro Leitão no Montepio, a Isabel Mota na Gulbenkian….”

E como se gere uma escola em pandemia?

“Tem sido uma aventura. Uma escola que tinha zero de formação online, em três dias transferiu todo o seu calendário e horários para um sistema completamente online”, explica a dean do ISEG.

Mas, ao contrário do que seria de esperar, “este ano letivo, 2020/2021, foi o nosso ano recorde de candidaturas de alunos estrangeiros, já em plena pandemia, e não tivemos grandes desistências. Foi o nosso melhor ano global de faturação de sempre”.

“No ano passado, em março, abril e maio tivemos imensos candidatos italianos, naquela altura em que a Itália estava com a maior crise de saúde pública. Era quase comovente ler as cartas de motivação daqueles alunos que queriam vir estudar para o ISEG e que sentiam que isto era um país seguro”.

Clara Raposo explica que cerca de 20% dos alunos do ISEG são estrangeiros. A escola tem atualmente 4.500 alunos de mais de 70 nacionalidades diferentes.

O ranking do Financial Times ajudou. No ano passado, o mestrado de Finanças do ISEG entrou pela primeira vez nos rankings mundiais do Financial Times e isso ajudou a projetar a escola internacionalmente: “É muito importante. O ISEG é uma escola muito antiga, mas lá fora não conhecem as nossas universidades, logo, aparecer numa lista internacional vista por muita gente ajuda à nossa projeção”.

Recuperação em K? “Se calhar temos de inventar uma letra”

Também conversámos com Clara Raposo sobre o momento atual da economia. Os economistas do ISEG, na síntese de conjuntura de abril, previam uma recuperação de 10% a 15% do PIB no segundo trimestre. “Se o ritmo de vacinação se mantiver, e se até ao verão conseguirmos ter uma percentagem significativa da população vacinada, podemos começar a respirar mais tranquilamente”, antecipa a dean do ISEG.

E vamos ter uma recuperação em ‘K’, com alguns setores a recuperar e outros a ficarem para trás? “Não sei se é exatamente em ‘K’, já que na recuperação em ‘K’, os setores que estão na perna de baixo do ‘K’ seriam setores que iam cair para sempre. Se calhar temos de inventar uma letra: há setores que vão recuperar mais cedo e há outros que começarão essa recuperação mais tardiamente”.

Vem aí a bazuca europeia

Para ajudar a recuperação da economia, Portugal conta com os 16,6 mil milhões de euros de subvenções e empréstimos que virão de Bruxelas. “A primeira vez que olhei para o PRR vi ali muito investimento público, não vemos grandes investimentos virados para as empresas. Mas não deixa de ser verdade aquilo que disse o primeiro-ministro, já que os investimentos em políticas públicas não deixam de ser implementados pelas empresas do setor privado”, explica.

Claro que nós gostaríamos de ver lá investimentos que nos parecessem à partida reprodutivos, que trouxessem uma grande dinâmica para a economia mas, por outro lado, também não há ali nada que nós digamos ‘isto é um autêntico desperdício de dinheiro’”.

 

Os 100 anos de Piazzolla nos 110 ano do ISEG

No final da conversa, regressámos ao tema ISEG que, por estes dias, está em festa a comemorar os seus 110 anos.

“Estamos a festejar dentro do possível. Aquilo que gostaria era termos aqui uma grande noitada no ISEG, com muita gente, com os nossos antigos alunos, com toda a nossa comunidade”, refere Clara Raposo.

Apesar da pandemia, a escola festejou, com menos gente no Campus: o super-centenário foi comemorado, entre outros eventos, com um concerto que assinalou os 100 anos de Astor Piazzolla, o compositor argentino que agarrou no tradicional tango e inovou, com uma grande influência do jazz americano.

O ISEG também quer ser assim: carrega uma grande história, mas, defende Clara Raposo, quer estar sempre a inovar e a valorizar a diversidade. Da Argentina, chegamos a Portugal para ouvir Dino d’Santiago cantar o Kriola para os economistas. Vai ser este domingo, às 18h30, um concerto que pode acompanhar ao vivo, aqui, no Facebook e no Youtube do ISEG.

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