Situação de Lisboa preocupa e casos nos concelhos limítrofes estão a subir

Número de infeções na capital está a crescer. E está também a verificar-se um aumento significativo de casos nos concelhos limítrofes, como Cascais, Loures, Almada e Amadora, alerta Carmo Gomes.

O índice de transmissibilidade do vírus, o chamado Rt, está a subir em todo o território nacional, contudo, o concelho de Lisboa é agora o que gera mais preocupação, devido ao aumento do número de infeções por Covid-19. Não obstante, está também a observar-se um aumento significativo de casos nos concelhos limítrofes, como Cascais, Loures, Almada e Amadora, alerta o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, ao ECO.

Segundo o último balanço divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), o Rt situa-se em 1,06 quer a nível nacional quer no continente, o que coloca este indicador acima da matriz de risco delineada pelo Governo. E é precisamente na região de Lisboa e Vale do Tejo onde a situação é mais preocupante, com este indicador a situar-se nos 1,14, segundo revelou André Peralta Santos, perito da DGS, na conferência de imprensa desta terça-feira sobre o reforço de medidas para esta região.

Outro dos indicadores que permitem medir a situação epidemiológica do país e, consequentemente, guiar a “bússola” do desconfinamento é a taxa de incidência a 14 dias. E neste âmbito verifica-se também uma tendência crescente na capital. Em Lisboa existem atualmente 143 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

Assim, e se nada for feito “chegamos aos 240 casos por 100 mil habitantes em menos de quinze dias”, afirma Manuel Carmo Gomes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em declarações ao ECO. Não obstante, Carmo Gomes alerta ainda que “há também outros concelhos limítrofes à volta de Lisboa” onde se está a verificar um aumento do número de casos, “em particular, em Cascais, Loures, Almada e Amadora“, aponta, salientando que no caso da autarquia liderada por Carlos Carreiras “no espaço de uma semana” houve um aumento de 113% dos casos, o que é bastante”, realça.

Se no início do desconfinamento, que arrancou a 15 de março, a região Norte e a região de Lisboa e Vale do Tejo estavam “taco a taco” no número de casos reportados, a situação alternou-se nos últimos dias. A título de exemplo, o boletim divulgado esta terça-feira pela DGS indicava que 175 dos 375 casos identificados pelas autoridades de saúde nas últimas 24 horas foram identificados em Lisboa e Vale do Tejo, ou seja, 46,7% do total de infeções registadas nesse dia.

Ainda não são particularmente claras as razões para o aumento de casos no concelho de Lisboa. Contudo, os especialistas ouvidos pelo ECO apontam vários fatores. Por um lado, Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANSMP), explica que este incremento poderá estar relacionado com o facto as pessoas estarem a “reduzir as suas cautelas”, como o uso de máscara no exterior ou às refeições, bem como o facto de haver “muito mais contextos onde a disseminação do vírus pode acontecer”. “Acaba por haver aqui um conjunto de comportamentos que propiciam a disseminação do vírus, e, à medida que vai aumentando a incidência, isso propicia que possam surgir mais cadeias de transmissão”, destaca o médico de Saúde Pública.

Também neste âmbito, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes aponta que o desconfinamento leva a que o índice de mobilidade aumente, pelo que “era de esperar que houvesse um aumento geral de número de casos”. Ao mesmo tempo, o especialista sinaliza que é nas faixas etárias dos 20 aos 29 anos, seguidas pelos 30 aos 39 e pelos adolescentes, que se verifica uma maior incidência dos casos, já que é nesta população que se verifica um maior grau de socialização.

Neste sentido, Carmo Gomes aponta ainda que, apesar de existir uma descida das pessoas internadas por Covid e em unidades de cuidados intensivos, está a verificar-se uma subida das pessoas mais jovens internadas em enfermaria geral. “No dia 23 de maio, tivemos um aumento de pessoas internadas em enfermaria com Covid-19, com 182 casos, o que reflete um aumento de 32 pacientes em relação ao mínimo anterior, alcançado quatro dias antes”, realça, acrescentando que “destes 32, 10 são na faixa etária dos 30-39”.

Festejos do Sporting poderão explicar aumento de casos?

Não obstante, a incidência nestas faixas etárias tem crescido noutras zonas do país, o que leva Carmo Gomes a crer que a subida de casos em Lisboa poderá estar relacionada com os festejos do título de campeão nacional do Sporting, a 11 de maio. Para fundamentar esta associação, o especialista aponta que “há várias evidências disso”, nomeadamente a “idade das pessoas que estão a ser mais afetadas”, bem como o facto de a própria DGS ter identificado cerca de 20 casos associados aos festejos, apesar de as autoridades de saúde terem sublinhado que os festejos da vitória do Sporting “não explicam na totalidade” desta subida.

Por forma a responder ao aumento de casos no concelho de Lisboa, o Governo adiantou que vai reforçar a testagem nesta região, e em particular neste concelho, que vai incidir nos estabelecimentos de ensino (nomeadamente nos alunos, docentes e não docentes do ensino secundário já a partir desta quinta-feira), nas residências universitárias, nas zonas de bares (Avenida 24 de julho), nos restaurantes, hotéis, mercados, feiras e nos transportes (com posto móvel na Gare do Oriente), incluindo estafetas, taxistas e TVDE (dia 28 de maio), entre outros.

Testar jovens é fundamental

Ao ECO, tanto Ricardo Mexia como Manuel Carmo Gomes veem com bons olhos o reforço na testagem, sugerindo que deve ser dada primazia às faixas etárias onde se está a verificar uma maior incidência da doença. “Temos que ir ter onde eles [jovens] se juntam e testar. Equipas móveis parece-me uma boa ideia”, assinala Carmo Gomes, apontando que estas equipas devem estar presentes em locais onde há habitualmente uma maior aglomeração de jovens como “o Bairro Alto ou Alcântara”.

Ao mesmo tempo, o presidente da ANSMP assinala a abordagem também deve passar pela comunicação, por forma a “transmitir às pessoas que não está nada resolvido” e que não devem prescindir das medidas de contenção. Por fim, avisa também que o Governo não deve descurar o controlo de fronteiras, nomeadamente através do “turismo vindo de locais onde haja uma incidência relevante ou onde circulem as variantes que nos preocupam”, conclui.

Ao mesmo tempo, o Executivo anunciou ainda que vai reforçar a vacinação em Lisboa e Vale do Tejo, que está ligeiramente mais atrasada, com as pessoas com mais de 40 anos a começarem a ser vacinadas a partir de dia 6 de junho e as maiores de 30 anos a partir de 20 de junho, tal como vai suceder em todo o território nacional.

Certo é que se a transmissão do vírus continuam a crescer em Lisboa e se o concelho registar 240 casos por 100 mil habitantes em duas semanas consecutivas, o município corre o risco de recuar no desconfinamento, como aconteceu a outros municípios. Para já, os especialistas não descartam a possibilidade de Lisboa entrar esta semana na lista de alerta do Executivo, contudo, tudo dependerá da atuação das autoridades de saúde e do comportamento individual dos lisboetas. “Com a incidência que temos no concelho de Lisboa tem mesmo que se agir para não chegarmos à linha vermelha dos 240 casos”, avisa Carmo Gomes.

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