Vamos falar de faturação dos escritórios? Vamos, mas de forma séria

Mas o que é exatamente divulgar os valores de forma séria? Ora, desde logo, saber se esses valores de faturação incluem o IVA ou não.

O mercado da advocacia de negócios mudou ou intensificou, nos dez últimos anos, a sua postura face à divulgação da sua atividade. Apostou forte e feio em profissionais de comunicação in house, sempre com o foco em mostrar ao mundo, aos clientes, potenciais clientes e à concorrência o que são, quem são e o que fazem. Nunca o mediatismo das sociedades de advogados foi tão marcado e já há inclusive estudos que revelam já quais as sociedades mais ou menos mediáticas e porquê (que nem sempre é pelos melhores motivos).

Mas há um tema que torna o trabalho jornalístico uma tarefa (ainda mais) hercúlea: a faturação. Uma discussão que nasce logo inquinada porque o que verdadeiramente deveria ser importante saber seria a rentabilidade de um escritório de advogados. Mas vejamos. Enquanto jornalista, tenho por hábito não largar um assunto enquanto não conseguir o que quero. E essa obstinação tem vindo a crescer nos últimos três anos. Por várias vezes, uma média de uma a duas vezes por ano, insisto com os managing partners dos escritórios que seria importante saber esses valores, nem que seja por questões de transparência. Mais frustrante se torna quando depois vemos esses mesmos resultados em publicações estrangeiras. Alguns respondem-me: “se os outros revelassem mas de forma séria”, outros “nem pensar, não é permitido”, outros “claro, nós até já divulgamos”.

Mas o que exatamente divulgar os valores de forma séria? Ora, desde logo, saber se esses valores de faturação incluem o IVA ou não. Ou, se em vez de apresentarem dados de faturação absoluta, deveria ser aferida a rentabilidade medida em termos de faturação por advogados e sócios. Ou ainda esclarecer se nesses valores estão englobados os dados que os escritórios têm fora de Portugal. Basta ver que os principais escritórios portugueses (VdA, Morais Leitão e PLMJ) têm todos parcerias com escritórios estrangeiros. Logo a Vieira de Almeida – alegadamente a sociedade com mais faturação do nosso mercado – tem com 11 países (10 africanos e Timor-Leste). A PLMJ trabalha em mais cinco mercados e Morais Leitão em mais três (Angola, Moçambique e Cabo Verde).

Mas vamos a números. Porque eles existem. Mas serão fidedignos? Segundo a publicação Iberian Lawyer, que trabalha igualmente o mercado português, em 2020, a Vieira de Almeida faturou 70 milhões de euros, a Morais Leitão cerca de 63 milhões, a PLMJ o valor de 56,3 milhões, a Uría Menéndez – Proença de Carvalho 36,2 milhões e a Abreu acabou o ano com 33,6 milhões. Mas é aqui que tudo se torna kafkiano. Os números são assumidos pela própria publicação como meras estimativas. Mas não são desmentidos nem confirmados pelos escritórios. Oficialmente, claro. Porque, nos dias seguintes a esta informação ser conhecida, todos os anos se ouvem as mesmas conversas de bastidores: “aqueles valores são inflacionados, os valores não estão corretos, nós temos muito mais, aqueles faturam muito menos, não são sérios os números do escritório y, x ou z”. Mas o que interessa é saber que, resumindo e baralhando, criticando e elogiando, esses valores nunca são formalmente desmentidos nem tão pouco revelados à Advocatus.

Mas, como a esperança é a última a morrer, talvez daqui a dez anos esta questão já não seja uma questão. Mas, até lá, se acontecer, sejamos sérios: que venham esses valores mas que venham com os mesmos critérios. Iguais para todos. E isso só se consegue se houver um acordo de cavalheiros entre os principais managing partners e sócios dos maiores escritórios de advogados portugueses e os que operam em Portugal. Vamos a isso?

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