Investimento desafia crise e cresce 3,5% no segundo confinamento
O investimento privado e público aumentou 3,5% no primeiro trimestre, período marcado pelo segundo confinamento, ultrapassando os valores trimestrais anteriores à crise.
Tal como antecipava a maior parte dos economistas, a economia portuguesa resistiu melhor ao segundo confinamento (primeiro trimestre de 2021) do que ao primeiro (segundo trimestre de 2020), tendo em conta os dados do PIB divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Um dos indicadores que mais surpreendeu pela positiva é o investimento: se no primeiro confinamento caiu 10%, no segundo confinamento cresceu 3,5%, principalmente por causa da rubrica “outras máquinas e equipamentos”.
Esta segunda-feira o gabinete de estatísticas confirmou que no primeiro trimestre deste ano o PIB contraiu 3,3% em cadeia (face ao quarto trimestre de 2020) e 5,4% em termos homólogos (face ao primeiro trimestre de 2020). É de referir que no primeiro trimestre do ano passado a pandemia já tinha feito estragos na economia pelo que a base de comparação é menor do que nos trimestres divulgados até ao momento.
A queda registada entre janeiro e março, quando o país também esteve num segundo confinamento, fica longe dos valores registados no segundo trimestre de 2020: o PIB caiu 16,4% em termos homólogos por causa do primeiro confinamento. Contudo, meses depois, no segundo confinamento, a economia já se tinha adaptado e as expectativas eram outras com o processo de vacinação, a chegada de mais fundos europeus e a procura externa em melhor estado.
Num período em que as exportações de bens cresceram face a 2020 e a 2019, o investimento cresceu 3,5% e ultrapassou o nível pré-crise. No primeiro trimestre de 2021, a formação bruta de capital situou-se nos 9.554,4 milhões de euros, acima dos 9.144,6 milhões de euros registados no quarto trimestre de 2019. Desde o segundo trimestre esta componente do PIB já subiu mais de 1,1 mil milhões de euros, recuperando totalmente o que foi “perdido”.
Os dados que se conhecem ainda não permitem tirar conclusões sobre se o aumento teve origem mais no setor privado ou no setor público, sendo necessário esperar pela execução orçamental do primeiro trimestre em contabilidade nacional (ótica dos compromissos). Mas já é possível saber que tipo de investimento cresceu para explicar essa subida.
De acordo com os dados do INE, a principal diferença está no investimento noutras máquinas e equipamentos (inclui sistemas de armamento), o qual cresceu 12,2% em termos homólogos (+265 milhões de euros). Contudo, a base do primeiro trimestre do ano passado já era menor uma vez que caiu 5,2%, ao contrário das outras componentes que não caíram nesse período, tal como mostra a tabela do gabinete de estatísticas.
O ECO questionou o INE sobre o que explicava esta subida em termos mais desagregados, mas os dados ainda não existem: “No âmbito da compilação de contas trimestrais, o INE não dispõe de informação mais desagregada para a FBCF em máquinas e equipamentos”, respondeu o gabinete de estatísticas.
Às outras máquinas e equipamentos junta-se o investimento em construção — que é a maior componente do investimento — que manteve-se resiliente durante todo o ano de pandemia. No arranque de 2021 cresceu 6,4% em termos homólogos, a mesma taxa verificada no quarto trimestre de 2020, somando 288 milhões de euros a mais ao investimento total da economia portuguesa.
Para trás fica o investimento em produtos de propriedade intelectual, que continua a contrair ligeiramente apesar de estar em melhoria, e principalmente o investimento em equipamento de transporte, o que deverá refletir a diminuição das vendas de automóveis. Durante o primeiro trimestre, o consumo privado voltou a cair significativamente, principalmente entre os bens duradouros, “refletindo a quebra mais intensa na aquisição de veículos automóveis e o abrandamento das despesas em outros bens duradouros”, nota o INE.
Comparando o investimento do primeiro trimestre de 2021 com o do quarto trimestre de 2020 (em cadeia), o maior crescimento também é o das outras máquinas e equipamentos (+6,7%), seguindo-se o equipamento de transporte (+3,2%) e a construção (+2,4%). Também nesta ótica o investimento em produtos de propriedade intelectual (inclui Investigação e Investimento I&D) caiu (-0,3%).
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