Foi mesmo Cristiano Ronaldo a penalizar o valor da Coca-Cola em bolsa?

Analistas explicam o movimento que a empresa viveu em Wall Street nos últimos dias. Impacto do gesto do português é desvalorizado e a correção estará relacionada com o dividendo.

A influência de Cristiano Ronaldo é grande e quando o jogador de futebol insinuou não gostar de Coca-Cola, redes sociais e meios de comunicação social (incluindo o ECO) associaram o desempenho negativo das ações da empresa em Wall Street ao gesto. Mas os analistas rejeitam qualquer ligação entre os dois eventos.

O gesto de Cristiano Ronaldo não teve qualquer impacto nas cotações dos títulos da Coca-Cola“, explica Mário Martins, analista da ActivTrades, ao ECO. Por volta das 14h45 desde segunda-feira, na conferência de imprensa que antecipou a estreia da seleção nacional no Euro 2020, o internacional português tinha à frente duas garrafas de Coca-Cola, empresa que patrocina a competição.

O jogador de 36 anos pegou nas garrafas, que colocou para o lado e disse: “água, bebam água”. O gesto gerou, por um lado, uma onda de piadas online, mas também reações mais sérias da UEFA e da própria empresa. Mas na bolsa, “a correção registada foi apenas devido ao facto de, no dia 14 de junho, as ações da empresa transacionarem já sem o direito a receber os dividendos trimestrais, que serão de 0,42 dólares, pagos no dia 1 de julho”, refere Martins.

"Este é um movimento recorrente e a correlação com o gesto de Ronaldo foi apenas uma coincidência.”

Mário Martins

Analista da ActivTrades

A partir do momento em que a assembleia geral de uma empresa aprova a remuneração acionista é comunicado o valor e o dia a partir do qual um novo investidor deixa de ter acesso a esse dividendo. É a data do ex-dividendo, sendo que a correção tende a acontecer de forma natural. No caso em questão, a Coca-Cola anunciou na semana passada que iria pagar 0,42 dólares por ação a 1 de julho, passando as ações a negociar sem direito ao dividendo a 14 de junho.

Antes desse momento, na sexta-feira, as ações fecharam a valer 56,16 dólares cada, o que — retirando os 0,42 dólares — representa 55,74 dólares, ou seja, em linha com os 55,69 dólares em que abriu a negociação abriu na bolsa de Nova Iorque, na segunda-feira às 14h30 de Lisboa. “Este é um movimento recorrente e a correlação com o gesto de Ronaldo foi apenas uma coincidência“, sublinha o analista da ActivTrades.

Desempenho da Coca-Cola em bolsa desde 9 de junho

Henrique Tomé, analista da XTB, não está tão certo e admite que “a curto prazo acabou por impactar o preço das ações da Coca-Cola, mas de forma ligeira”. Lembra que “os títulos da multinacional norte-americana chegaram a desvalorizar pouco mais de 2%, passando dos 56,20 dólares para os 55 dólares por ação”.

Em capitalização bolsista, são menos cinco mil milhões de dólares. Ainda assim, Tomé desvaloriza qualquer impacto que não seja passageiro para a marca que, além de refrigerantes, detém marcas de água e hidratantes como a DASANI, a Smartwater, a POWERADE, a Vitaminwater, a Topo Chico, a Aquarius, a I LOHAS e a Ciel.

"A curto prazo acabou por impactar o preço das ações da Coca-Cola, mas de forma ligeira. Os títulos da multinacional norte-americana chegaram a desvalorizar pouco mais de 2%.”

Henrique Tomé

Analista da XTB

A par do dividendo e do gesto do capitão da seleção portuguesa, a Coca-Cola poderá ainda estar a ser influenciada por outros fatores, nomeadamente estar a sofrer uma correção. “Em relação à comparação com a Pepsi — única empresa comparável –, a Coca-Cola tem registado um desempenho mais favorável em 2021, tendo atingido novos máximos no ano no início de maio, enquanto a Pepsi só teve o mesmo registo esta segunda-feira”, aponta Martins.

A Pepsi atingiu máximos históricos durante a pandemia, no ano passado, enquanto os títulos da Coca-Cola ainda estão longe dos máximos alcançados em meados de fevereiro de 2020, nos 60,13 dólares. Apesar disso, a segunda tem acelerado neste ano, não sendo de excluir uma tomada de mais-valias. De forma mais alargada, os títulos podem ainda estar a ser influenciados pelo sentimento no mercado.

“A Coca-Cola está a ser negociada em harmonia com os seus pares. No entanto, a sessão está a ser dominada pela divulgação dos resultados da reunião da FOMC [Federal Open Market Committee da Reserva norte-americana], acabando por provocar períodos de menor volatilidade, enquanto os investidores aguardam pelos resultados“, acrescenta o analista da XTB.

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