ESG Portugal Forum: Sustentabilidade das empresas e reporte de ESG é uma “viagem sem retorno”
Em empresas como a Altice, Brisa, SAP ou Cellnex, os critérios de ESG e o seu reporte são já uma realidade, mas os CEO das mesmas dizem que faltam ainda standards uniformizados e mais transparência.
Com as grandes empresas de vários setores que operam em Portugal já totalmente conscientes da importância de cumprir e reportar critérios de ESG (ambientais, sociais e de governance) não só no seu modelo de negócio, mas também em toda a sua cadeia de valor, faltam ainda standards iguais para todas. O alerta foi levantado por Alexandre Fonseca, CEO da Altice, no painel “A Diversidade Setorial e Regulamentar das Abordagens ESG” da primeira edição do ESG Portugal Forum 2021, organizado pelo ECO e pelo Capital Verde.
No mesmo painel, moderado pelo Publisher do ECO, António Costa, a partilhar a forma como as suas empresas já põem em prática os critérios ESG esteve também António Pires de Lima, CEO da Brisa, Luís Carrasqueira, Diretor Geral da SAP Portugal e Nuno Carvalhosa, CEO da Cellnex Portugal. Todos eles, garante, assumem nas suas organizações a responsabilidade de gerir e fazer cumprir critérios ESG.
“Eu acredito que neste momento há um processo em curso, mas que está longe de estar concluído no que toca à standardização ou à harmonização de critérios ESG que nos permitam, independentemente do setor de atividade, e sabendo que cada setor tem as suas especificidades, podermos ter um conjunto de critérios objetivos e que nos garantam esse mesmo balanço. E acho que ainda não estamos lá”, frisou o CEO da Altice, acrescentando no entanto que, “dentro de um par de anos, estaremos em condições de ter um conjunto de critérios mais objetivos e mais standardizados”.
Na visão de Alexandre Fonseca, parte à frente “quem está no mercado de capitais já tem hoje um conjunto de indicadores” mais rígidos a seguir. Mas ainda assim, garante, o momento agora é de construir indicadores performance, objetivos, standards internacionais, para além dos standards de certificação, que permitam à todas as empresas atingir um nível de maturidade um pouco mais evoluído.
“Acho que estamos todos a trabalhar nesse sentido e é decisivo porque empresas como as que aqui estão são verdadeiras referências a nível nacional e internacional. Esse primeiro passo é muito importante para que, depois, os nossos clientes, os ecossistemas os sigam”, argumentou ainda Alexandre Fonseca, explicando que é isso que já acontece com a Altice, que incentiva os principais parceiros, fornecedores e toda a cadeia de valor associada a começar, também ela, “a ter que cumprir um determinado critério que nós já cumprimos para fazer parte deste ecossistema”.
Se assim não for, “a cadeia de valor vai ter quebras que podem ser dramáticas e, portanto, esse incentivo ao ecossistema global, ao universo económico onde trabalhamos, é também uma responsabilidade que nós abraçamos e entendemos ser decisivo”, frisou o CEO da Altice.
Por seu lado, Luís Carrasqueira, Diretor Geral da SAP Portugal, diz mesmo que “que deve haver um caminho para, tendencialmente, ser obrigatório” cumprir e reportar critérios ESG. No entanto, acredita que “o mercado a seu tempo vai regular o cumprimento destes princípios, mas numa primeira fase, é preciso alguma obrigatoriedade mais vaga e, depois, ir implementando. Mas eu penso que as próprias empresas têm todo o interesse nisso”, defende. E garante que “há formas de poder ajudar na aceleração desses princípios”.
Alexandre Fonseca concorda com essa “obrigatoriedade”, mas sobretudo ao nível da transparência. “Não podemos, enquanto empresas, enquanto sociedade e agentes da economia, ficar tranquilos enquanto esses mesmos critérios, seja por convicção, seja por questões de responsabilidade, em que as empresas embarcam nesses critérios e têm essa capacidade de serem transparentes, ter essa obrigatoriedade, essa transparência perante o mercado, os seus clientes e o seu ecossistema, não vermos isso refletido nos reguladores setoriais”, assinalou, acrescentando: “Independentemente de hoje haver a necessidade de um poder regulatório, o mercado vai-se nivelar”.
Luís Carrasqueira compara a evolução dos critérios ESG à “viagem sem retorno” em que se tornou a transformação digital. “Este é um caminho que, em termos de sustentabilidade, vai acontecer e se, hoje, é uma prioridade de alguns, daqui a uns tempos vai ser a prioridade de muitos porque o mercado vai exigir isso e obviamente que quem tiver mais bem preparado e tiver nessa liderança vai conseguir”, garante. Na SAP, a sustentabilidade e os critérios ESG são parte central da nossa estratégia. “É uma responsabilidade que nós temos, mas também partilhar com o mercado aquilo que nós fazemos com a nossa cadeia de valor”.
Do lado da Brisa, António Pires de Lima partilhou o novo ciclo que a empresa está agora a iniciar, com uma nova estrutura acionista, desde outubro, e a prioridade em termos de gestão de desenhar e ver aprovado um novo plano estratégico com uma visão para a empresa até 2025.
“Entre muitas outras metas, a agenda ESG é um tema absolutamente determinante e prioritário deste ciclo. Por convicção, é uma obrigação moral, sim, mas também porque acreditamos que, tendo um bom desempenho em termos ambientais, tendo um bom desempenho em termos sociais, de segurança, em termos da presença das mulheres na nossa gestão de topo, tendo um bom desempenho em termos de governança, nós seremos uma melhor empresa, mais valorizada pelos nossos investidores, pelos mercados”, disse Pires de Lima.
Para este “novo ciclo” até 2025, a empresa espera que o nível de investimento cresça para cerca de 540 milhões de euros, excluindo aquisições, “o que é mais de 60% do que aquilo que fizemos nos últimos anos”.
“Eu poderia dizer que há cerca de 60 milhões de euros que estão alocados especificamente à digitalização, à descarbonização, a objetivos de ESG, mas tudo é ESG porque quando nós falamos em modernizar e melhorar as nossas autoestradas estamos a falar de segurança, de bons pavimentos, de aumentarmos o número de faixas e, no final, há um alinhamento bastante completo entre os objetivos que estabelecemos e os recursos que estamos disponíveis a alocar para estes objetivos de crescimento deste novo ciclo”, explicou.
Nuno Carvalhosa, CEO da Cellnex, olha já para o futuro: “Eu aposto que aquilo que vai continuar a acontecer nos próximos anos, mais do que um aumento da consciencialização da importância da temática do ESG, tem a ver com uma muito maior mobilização para a ação sob a forma de duas questões que me parecem muito claras – maior investimento e muito mais profissionalização na gestão”.
Além do reporte em termos de temáticas de ESG, que já faz, um dos eixos estratégicos do plano estratégico 2021-2025 da Cellnex “é estender os compromissos em matéria de ESG à cadeia de valor, um caminho um pouco paralelo à questão mais formal de harmonização dos standards, a taxonomia europeia que se referiu”, disse o CEO.
Nuno Carvalhosa acredita que “já hoje se começa a sentir um crescimento pronunciado dos ativos sob gestão ligados a fundos de ESG” e que, no futuro, as boas práticas em sede de ESG vão contribuir para a redução dos custos de financiamento das empresas. “Inclusivamente, as empresas que não tiverem boas práticas de ESG, vão-se ver limitadas nas bases de financiamento, nas fontes de financiamento a que vão poder aceder”, rematou.
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