Descarbonizar fábricas da Repsol em Sines vai exigir mais investimento
A Repsol vai fabricar polímeros termoplásticos de origem fóssil em Sines, mas "o projeto é compatível com matérias primas descarbonizadas". O ECO sabe que para isso é preciso investimento adicional.
No total, a Repsol vai investir 725 milhões de euros nas suas instalações químicas da Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS), revelou a aicep Global Parques. O investimento divide-se em 657 milhões para duas novas fábricas de polímeros termoplásticos, 22 milhões em tancagem e pipelines para produtos de base, 18 milhões em interligação à rede elétrica e 30 milhões em parques solares fotovoltaicos.
Num primeiro momento, a matéria-prima para o fabrico destes polímeros (que servem para produzir todo o tipo de produtos de plástico) será ainda em grande parte de origem fóssil, mas fonte oficial da Repsol revelou ao ECO/Capital Verde que “o projeto é compatível com futuras matérias-primas descarbonizadas”. Um exemplo: resíduos de plásticos que não podem ser reciclados e têm como destino o aterro sanitário.
O ECO/Capital Verde sabe, no entanto, que para que as fábricas da Repsol em Sines se tornem mais “verdes” no futuro será necessário investimento adicional que não está incluído no pacote inicial de 725 milhões de euros.
A empresa conta já neste momento com certificação ISCC PLUS para produzir poliolefinas circulares (polietileno e polipropileno) partir de óleo de resíduos de plástico reciclado não adequados para reciclagem mecânica, juntamente com matéria-prima convencional. A meta é reciclar o equivalente a 20% da produção até 2030 e no início de 2020 a Repsol certificou todos os seus complexos petroquímicos para produzir sob a certificação ISCC Plus.
No entanto, a empresa garante apenas que todos os polímeros termoplásticos fabricados em Sines serão 100% recicláveis (ou seja, vão dar origem a produtos que no futuro podem seguir para reciclagem e serem reaproveitados) e “podem ser utilizados para aplicações especializadas e alinhadas com a transição energética nas indústrias farmacêutica, automóvel e alimentar”.
As duas novas fábricas entrarão em funcionamento no terceiro trimestre de 2025 e por ano vão produzir, em conjunto, 600 mil toneladas de polietileno linear (PEL) e polipropileno (PP), dois dos mais comuns polímeros termoplásticos no mundo, que vão depois ser usados em toda a cadeia da indústria de transformação de plásticos em Portugal.
Aprovado pelo Governo como Projeto de Interesse Nacional, o projeto prevê um ganho líquido direto de 800 milhões na balança comercial portuguesa de mercadorias “através do fornecimento de polietileno e polipropileno aos principais clusters exportadores de Portugal, que vão desde as indústrias automóvel e de dispositivos médicos até à indústria de alimentação e bebidas e embalagens para bens de consumo”.
Filipe Costa, CEO da aicep Global Parques, já disse mesmo que “este investimento vai acrescentar mais de mil milhões de euros por ano à balança comercial de Portugal, entre substituições de importações, novas exportações e um impulso à indústria portuguesa”.
Fonte da Repsol realça que se trata do “maior investimento industrial realizado em Portugal nos últimos 10 anos” e que, ao impacto direto deste investimento na balança comercial, soma-se ainda um “efeito multiplicador da disponibilização, em volume e proximidade, de matérias indispensáveis à competitividade e ao crescimento da indústria transformadora destes setores exportadores”.
“A empresa está comprometida com uma química eficiente no seu processo industrial e orientada para a economia circular, com o objetivo de reciclar o equivalente a 20% da sua produção de poliolefinas até 2030“, disse a mesma fonte ao ECO/Capital Verde, acrescentando também que a petrolífera “está a transformar os seus complexos industriais em centros multienergéticos, equipando-os com tecnologias que permitem descarbonizar os seus processos, através da melhoraria da eficiência energética, do impulso da economia circular, da produção de hidrogénio verde e incremento da utilização e captura de CO2”.
Quanto aos polímeros termoplásticos que serão produzidos em Sines, a Repsol diz que estão muito presentes na vida quotidiana — agro-indústria , automóveis, saúde e higiene — e que “desempenham um papel no cenário de menor intensidade de carbono”.
“As aplicações destes materiais acompanham a transição energética. A título de exemplo, melhoram o isolamento dos edifícios, reduzem o esforço de climatização e reduzem o peso dos automóveis, permitindo um menor consumo de energia em mobilidade”, diz a mesma fonte.
Incentivos fiscais de 63 milhões dados pelo Governo à Repsol só chegam em 2023
A petrolífera espanhola decidiu apostar em Sines para “expandir a sua gama de produtos” e o investimento de 725 milhões de euros será realizado, na totalidade, pela Repsol, cujo recente Plano Estratégico prevê um investimento total de 18,3 mil milhões de euros entre 2021 e 2025.
No contexto de Projeto de Interesse Nacional, diz a Repsol, foram contratados incentivos fiscais, através da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, num montante até 10,1 % do investimento elegível que vier efetivamente a ser realizado, cumprindo assim com o limite estabelecido no Mapa de Auxílios Regionais Comunitário para a região do Alentejo.
“Estes incentivos fiscais [no valor de 63 milhões de euros] carecem da aprovação pela Direção-Geral de Concorrência da UE, o que poderá não acontecer antes de 2023. O crédito fiscal só pode ser utilizado após esta aprovação. Ainda assim, este crédito fiscal depende do cumprimento do projeto, que será acompanhado pela AICEP, monitorizando as metas de resultado, vendas, VAB e criação de emprego entre 2021-2033″, disse fonte da Repsol ao ECO/Capital Verde.
A empresa já revelou também que está de olho no hidrogénio verde português e a dialogar com possíveis parceiros, mas para já não tem “nada a anunciar nessa área” para a região de Sines, onde será feito o investimento.
Além da construção de duas fábricas, o projeto incluirá a criação de novas instalações logísticas, que permitirão desenvolver sinergias na área industrial, melhorar a conexão ao mercado europeu e reduzir a pegada de carbono do transporte dos produtos, que “serão transportados maioritariamente por via férrea”.
“Estão também previstos investimentos em infraestruturas a cargo de várias entidades, nomeadamente em rodovia, ferrovia e infraestrutura elétrica”, rematou fonte da Repsol.
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