Mais de 30% dos profissionais preferiam trabalhar a partir de casa cinco dias por semana
A adoção de um regime híbrido é a decisão esperada pelos trabalhadores. Mas são os profissionais com mais qualificações e maiores salários que têm maior probabilidade de manter teletrabalho.
Após o fim da pandemia, é esperado que as empresas apostem por modelos híbridos, que alternem entre trabalho presencial e teletrabalho. Esta é a decisão que a generalidade dos trabalhadores nos Estados Unidos espera que o seu empregador tome. Mas são os profissionais com mais qualificações e maiores salários que têm maior probabilidade de continuar em regime de teletrabalho.
“Para a maioria dos trabalhadores, a economia pós-pandémica implicará mais trabalho a partir de casa do que na economia pré-Covid, mas consideravelmente menos do que eles gostariam”, referem os investigadores responsáveis pelo estudo “Why Working from Home Will Stick”, Jose Maria Barrero, Nicholas Bloom, e Steven J. Davis.
“Os benefícios de uma mudança persistente para o teletrabalho serão largamente sentidos, mas sobretudo nos profissionais mais instruídos e os altamente remunerados.”
Num cenário pós-pandémico, menos de 30% dos inquiridos dizem que voltarão totalmente às atividades pré-Covid. “Os restantes continuam a querer evitar os congestionamentos no trânsito, os elevadores cheios e os restaurantes em espaços fechados”, pode ler-se na publicação do World Economic Forum.
A vontade dos trabalhadores é clara: trabalhar mais a partir de casa e menos a partir do escritório. O que varia é o regime preferido, com 31,2% dos inquiridos a dizerem que gostariam de trabalhar os cinco dias da semana em regime de teletrabalho.
Seguem-se os profissionais que preferiam trabalhar a partir de casa apenas um ou dois dias por semana (24,5%), os que responderam “nunca ou raramente” a partir de casa (22,4%) e os que gostariam estar em teletrabalho três ou quatro dias semanalmente (21,9%).
Profissionais altamente qualificados e remunerados estão em vantagem
Em todos os grupos demográficos estudados é expressado um desejo de continuar a trabalhar a partir de casa mesmo após a pandemia da Covid-19, mas são os profissionais altamente qualificados e com rendimentos mais elevados que terão maior probabilidade de continuar neste regime.
“A percentagem de inquiridos que trabalharam a partir de casa variou entre 10% para os que não possuem o ensino secundário e 50% para os que concluíram o ensino superior. Além disso, a percentagem foi mais do dobro entre aqueles que ganharam mais de 150.000 dólares em 2019, quando comparado com os profissionais cujos salários se situam na faixa dos 20.000 a 50.000 dólares.”
Em Portugal, o teletrabalho foi apenas possível para algumas profissões e setores de atividade. No segundo trimestre do ano passado, 22,6% da população empregada trabalhou, sempre ou quase sempre, em casa, em 90,8% dos casos devido à pandemia. No último trimestre do ano passado, eram apenas 11,9% tendo voltado aumentar para 20,7% no primeiro trimestre deste ano.
É um modelo “predominante nos trabalhadores com maior nível de escolaridade, especialmente os que têm ensino superior completo”, com mais de 40% dos trabalhadores, com ensino superior no início da pandemia, a trabalhar de forma remota, valor que contrasta com os 2% de trabalhadores sem educação básica completa e 11% de trabalhadores com ensino básico completo, segundo o estudo “A pandemia e o mercado de trabalho: O que sabemos um ano depois”, do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, realizado por Susana Peralta, Bruno P. Carvalho e Mariana Esteves.
“A pandemia acelerou a transição para o trabalho remoto no seu lado tecnológico mas também organizacional. É importante perceber que estas mudanças estão concentradas nas pessoas com maior nível de educação”, realça Susana Peralta em declarações à Pessoas.
“As empresas estão a pensar as suas estratégias de organização do trabalho em função desta nova forma de trabalhar, haverá muitas a passar para um modelo híbrido, o que vai depender muito do modelo de gestão e dos próprios interesses e preferências dos trabalhadores”, continua a investigadora.
“Nas outras economias, começam a surgir dados de inquérito que mostram que as pessoas querem voltar de forma parcial (não todos os dias) ao escritório. Mas certamente que podemos esperar mudanças importantes nesta frente no curto e médio prazo, o que até pode contribuir positivamente para a conciliação entre vida pessoal e profissional – mas não esqueçamos que isto está concentrado nas pessoas mais bem pagas e educadas”, realça a Susana Peralta.
Estima-se ainda que os modelos híbridos de trabalho resultem no crescimento da produtividade na ordem dos quase 5% e, claro, numa diminuição das deslocações pendulares, o que pode levar a uma redução entre 5% e 10% dos gastos com refeições, entretenimento e serviços pessoais nos principais centros urbanos. Essa despesa vai, por outro lado, ser redirecionada para estabelecimentos comerciais mais próximos das casas dos trabalhadores.
Estas conclusões têm como base uma série de entrevistas mensais, realizadas entre maio de 2020 e março de 2021, a profissionais nos Estados Unidos com idades compreendidas entre os 20 e os 64 anos, que ganharam, pelo menos, 20.00 dólares em 2019.
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