Maya quer BCP “saudável” para não estar no “menu” dos outros bancos

CEO do BCP destacou a importância de ter um banco "saudável" e "preparado" para poder sentar-se à mesa para discutir eventual aquisições e para não estar no "menu" da concorrência.

O CEO do BCP diz que não está a planear qualquer aquisição. Ainda assim, Miguel Maya repetiu a ideia de que pode analisar qualquer operação que esteja no mercado, mas para isso precisa de ter o banco “saudável” para se poder sentar à mesa e discutir e também para não estar “no menu” dos concorrentes.

“Não estamos a planear o que quer que seja além do crescimento orgânico do banco”, disse o gestor na conferência de imprensa de resultados.

“Temos a clara consciência que há uma agenda para consolidação na Europa” e que a qualquer momento pode surgir uma operação, acrescentou Miguel Maya aos jornalistas esta segunda-feira. “Mas [comprar um banco] não faz minimamente parte dos nossos planos”, rematou.

Por outro lado, o líder do BCP sublinhou que se quer estar em condições para poder olhar para algum dossiê é “preciso estar saudável” e ter o banco com condições “para estar à mesa e não no menu”.

Neste sentido, Miguel Maya disse que a intenção do banco é no sentido de “estar preparado para tomar decisões a cada momento”.

Em relação a eventuais alienações — o banco também está presente na Polónia e Moçambique –, o CEO do BCP teve um discurso semelhante: não tem planos para alienar qualquer negócio internacional, mas se surgir uma boa proposta irá analisar.

“É nossa obrigação estar atento e ouvir o mercado. Se aparecerem propostas, cá estaremos para elas”, referiu. Foi isso que aconteceu com a venda do banco na Suíça por mais de 100 milhões de euros, em que surgiram propostas não solicitadas e que o BCP considerou positivo desfazer-se da operação.

Dividendos à espera de maior visibilidade sobre a Polónia

Em relação a dividendos, Miguel Maya adiantou que o banco enfrenta um “dossiê complexo” na Polónia, em relação ao caso dos empréstimos em francos suíços que obrigou o banco a por de lado mais de 200 milhões de euros para riscos legais. E a fraca visibilidade sobre o rumo que este processo poderá tomar está a condicionar a política de dividendos, notou o CEO do BCP.

“Vamos esperar pelos resultados de setembro, vamos ter maior visibilidade sobre os dossiês mais complexos e o mais complexo é o dossiê dos francos suíços e, nessa altura, voltaremos a fazer essa reflexão, sabendo que é muito importante pagar dividendos“, disse Miguel Maya.

O banco também apresentou a estratégia até 2024 e, desta vez, não incluiu qualquer objetivo para os dividendos — contrariamente ao plano anterior em que previa atingir um payout de cerca 40% até 2021.

“Não nos comprometemos neste momento com um payout, sabemos que a relevância dos dividendos é grande. Em seu momento, quando tivermos maior visibilidade sobre as coisas, podemos incorporar alguma ambição sobre esta matéria”, prometeu Miguel Maya.

BCP colabora com autoridades na investigação a Berardo

Questionado sobre o que foi fazer à Polícia Judiciária (PJ) em final de junho e a relação com a investigação a José Berardo, Miguel Maya disse que não comenta mas acrescentou que o banco colabora com as autoridades.

“Não vou comentar o que vou fazer a nenhum sítio, o BCP colabora neste e em todos os processos. Em todos os processos o BCP tem uma postura de colaboração correta com as autoridades“, afirmou o presidente executivo do BCP.

Sobre as dívidas de Berardo ao BCP, disse apenas que em todos os casos o banco “promove todas as atuações no tempo e com a intensidade adequada para fazer prevalecer os seus interesses e recuperar o máximo do crédito”.

Quanto ao período em que André Luís Gomes, principal advogado de José Berardo, foi administrador não executivo do BCP, Miguel Maya afirmou que aquele nunca participou na gestão dos processos de crédito.

Já questionado sobre se o BCP não se sente enganado por ter tido um administrador que dificultou o acesso do banco às garantias dos créditos concedidos pelo cliente José Berardo, disse não comentar mas que o “banco tem vindo a tomar todas as medidas para recuperar esta exposição”.

“Estamos em tribunal, ao estarmos em tribunal é que sabemos que houve coisas que não foram feitas com aquilo que deveria ter sido feito e com base no estipulado nos contratos. O banco tem esses processos em tribunal e procurará fazer prevalecer os seus direitos até às últimas consequências, naturalmente tendo sempre em consideração a questão do tempo que pondera nas decisões”, disse.

Segundo o Ministério Público (MP), entre 2006 e 2009, Berardo e as suas empresas contrataram quatro operações de financiamento que terão causado “um prejuízo de quase mil milhões de euros” à CGD, ao Novo Banco e ao BCP.

 

(Notícia atualizada às 19h25)

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