Depois dos restaurantes, Mezze aposta na formação. Vai capacitar 40 refugiados e migrantes
O projeto "Mezze-Escola", em parceria com a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, pretende capacitar 40 migrantes e refugiados, especialmente mulheres e jovens, entre os 18 e os 50 anos.
Já lá vão quatro anos da abertura do restaurante Mezze, no Mercado de Arroios, em Lisboa. Desde aí que este projeto, da associação Pão a Pão, tem sido destacado como um exemplo de sucesso na integração de refugiados. Com uma pandemia pelo meio, que muito sacrificou o setor da restauração, a associação decidiu recuperar uma ideia antiga: o “Mezze-Escola”, o projeto, em parceria com a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, pretende capacitar 40 migrantes e refugiados, especialmente mulheres e jovens, entre os 18 e os 50 anos.
“Quando abrimos, em setembro de 2017, começámos por empregar 12 pessoas refugiadas. Estávamos confiantes de que aquele grupo era o grupo certo para começar este projeto. E a verdade é que o sucesso foi tal que fomos obrigados para aumentar a equipa, para entre 18 a 20 pessoas, em poucos meses a trabalhar”, lembra Francisca Gorjão Henriques, presidente da associação Pão a Pão, à Pessoas.
Com o passar do tempo, a equipa foi reduzindo um pouco e, agora, fixa-se nos 13 elementos, quase todos refugiados da Síria e do Iraque. O número “está estabilizado” e é motivo de orgulho para a líder da associação Pão a Pão, sobretudo depois do embate de uma pandemia que veio estragar alguns planos, nomeadamente de abertura de mais restaurantes.
“Sendo um processo social autossuficiente, não recorremos a fundos e apoios estatais e, portanto, quando fomos obrigados a parar a nossa operação, o próprio projeto social ficou numa grande instabilidade. Mas, apesar de tudo, conseguimos não despedir ninguém. Só dispensamos duas pessoas que estavam no período experimental e, assim que os restaurantes voltaram a abrir, fomos buscá-las novamente. Orgulhamo-nos muito disso.”
“Mezze-Escola” arranca em setembro. Vai formar refugiados e migrantes
Depois de duas paragens, uma delas sem sequer serviço de take-away, foi preciso refletir sobre as formas de como o projeto Mezze poderia aumentar ainda mais o seu impacto. E foi nesse momento que surgiu uma ideia, que não é de agora, mas que nunca tinha passado de papel à ação.
“Para aumentar mais o nosso impacto, em vez de fazer mais restaurantes, pensámos que deveríamos apostar mais na formação”, diz. Assim, em parceria com a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa surgiu o “Mezze-Escola”, para formar, durante seis meses, pessoas refugiadas e emigrantes, com a finalidade de dar-lhes as capacidades necessárias para integrarem o mercado de trabalho.
A primeira edição deste programa, que conta com o apoio da Gulbenkian, começa já em setembro e conta com uma componente teórica, em sala de aula, e com uma componente prática, dada no restaurante através de um estágio. “Durante o estágio no Mezze, os alunos irão ter, pelo menos, direito a subsídio de transporte e refeição. Mas, estamos a tentar ainda ampliar estes benefícios”, avança Francisca Gorjão Henriques.
Para aproveitar ao máximo o tempo e espaço na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, e de forma a completar a formação com outras vertentes, vão ser dados também módulos de sustentabilidade, literacia financeira, desenvolvimento pessoal e cultura portuguesa. “É importante que eles saibam ler um recibo de vencimento, por exemplo. Quisemos aproveitar esta formação na escola para, não só dar capacitação numa área relacionada com a sua profissão, mas também para desenvolver competências pessoais e de sociabilidade.”
Para já, o programa começa com 20 vagas, das quais metade terá acesso à formação completa, teórica e prática, número contemplado pelo programa “Cidadãos Ativos”, da Gulbenkian. Os restantes dez alunos farão, apenas, a componente teórica na escola.
Assim que termine esta primeira edição, o objetivo é iniciar de imediato uma nova turma, com 20 novas pessoas, nos mesmos moldes. Não há nenhum tipo de custo associado, apenas alguns critérios de elegibilidade. É preciso ter mais de 18 anos, ser migrante ou ter estatuado de refugiado/asilo, ter título de residência (definitivo ou provisório), NIF e NISS, capacidade de compreender instruções básicas em português e estar disponível para turnos rotativos, diurnos e noturnos.
Há, no entanto, também alguns critérios de valorização. Francisca Gorjão Henriques destaca a residência em Portugal há, pelo menos, três anos, a preferência por mulheres e jovens até aos 30 anos, o conhecimento da língua árabe e a experiência e gosto pela área da restauração.
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